Restrições podem levar redes de restaurantes a encolher ou fechar, afirmam empresários do setor

Representantes do segmento relatam dificuldades em gerar faturamento mínimo para manter unidades funcionando e já anuncia primeira onda de demissões em 2021

No último fim de semana, primeiro após a renovação do decreto estadual que estabeleceu redução no horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais considerados não essenciais, foi marcado pelo anúncio de demissões em pelo menos duas grandes redes de restaurantes. No sábado, 20, o Coco Bambu anunciou o desligamento de quase 150 profissionais, por meio de nota. No dia anterior, o Grupo Social Clube, que administra o Santa Grelha, comunicou outras 30 demissões em suas redes sociais.

A preocupação de empresários ouvidos pelo O Povo é que haja um prolongamento nas medidas mais restritivas que seguem, pelo menos, até o dia 28 deste mês. O decreto determina que os restaurantes só podem funcionar até as 20h, de segunda a sexta-feira, e até as 15h, aos sábados e domingos. Para eles, caso as restrições prossigam pelos próximos meses, pode haver um encolhimento ainda maior no setor, que já registra fechamento de 40% dos estabelecimentos desde o início da pandemia, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará.

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“Essa renovação do decreto estadual acabou tendo um efeito mais drástico que a gente imaginava, até porque o setor já estava muito fragilizado. Antes, apesar de tudo, os empresários tinham o amparo da MP 936 (Lei 14.020/2020) que garantia a suspensão de contratos de trabalho e pagamentos de salário pelo governo federal, entre outras possibilidades, para a redução de despesas com a folha. Com o fim dessa medida, o efeito foi bombástico e a cada dia que passa há um crescimento no número de falências e o encolhimento de empresas”, afirma Taiene Righetto, presidente da Abrasel no Ceará.

O dirigente, afirma que, apenas nos últimos 15 dias, houve uma redução média no faturamento dos restaurantes de 50% durante a semana e de 80% aos fins de semana e cobra a apresentação de estudos que expliquem as medidas adotadas pelo governo estadual. “Hoje, no Ceará, 96% do nosso setor já é composto por pequenas e microempresas que correm risco grande de fechar e os outros 4%, compostos por médias e grandes empresas, correm o risco de se tornarem empresas pequenas”, avalia. Para Righetto, o quadro do setor de alimentação fora do lar é marcado, ainda, por uma explosão na informalidade, devido ao prolongamento da crise sanitária e econômica.

Coco Bambu

 

Afrânio Bezerra, proprietário do grupo Coco Bambu, que havia afirmado considerar a opção de “encerrar de forma definitiva” as operações no Ceará, em nota que teve ampla repercussão nas redes sociais e também entre integrantes do Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, disse que apesar de ter havido o que considera uma interpretação “mais acalorada” sobre a nota publicada, “se você fecha no vermelho e a empresa não consegue gerar caixa nem para honrar seus compromissos, ela tem uma tendência muito forte a ser descontinuada. Você não pode levar a empresa a tal risco”.

Ele chama atenção também para o impacto social da crise que enfrenta o setor. “Um garçom noturno que não trabalha no sábado, não tem, muitas vezes, como garantir o café e o almoço da família do dia seguinte”, exemplifica. “Eu próprio já recebi ligação de funcionário domingo de manhã, dizendo não ter o que dar de comer aos filhos. Isso nos entristece”, relata.

Por sua vez, Rodrigo Ribeiro Moreira, dono do Grupo Social Clube, composto por marcas como o Santa Grelha, lamenta que, após uma gradual recuperação do segmento que vinha sendo registrada a partir de junho do ano passado, tenham sido implementadas novas restrições. “Estamos sofrendo desde 2020 e o nosso setor não entende por que tem de pagar preço tão alto”, questiona.

“Agora no início do ano com esses novos decretos, tem muitos estabelecimentos que não aguentam porque vivem muito do horário do jantar. Aqui em Fortaleza, e no Brasil inteiro, não existe muito a cultura de jantar às 18h e como temos de fechar às 20h, às 19h30 já está fechando tudo”, afirma.

Outro lado

 

Por sua vez, o secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Maia Júnior, argumenta que as novas medidas foram tomadas com base na ciência e nas taxas de ocupação de leitos nas redes pública e privada.

Para ele, há muita “politização” e até “chantagem” em algumas reações do setor. O secretário afirma que o empresariado está sendo ouvido. “Não colocamos nenhum setor em lockdown. Nós estamos com 95% das atividades econômicas em funcionamento para poder salvar as pessoas e a economia ao mesmo tempo. A gente está tomando essas decisões de forma muito responsável”, defendeu.

“No Brasil e em outros países como o Reino Unido, há situações com restrições muito mais sérias. Poso citar o exemplo do Piauí, que não tem a situação de falta de leitos que temos no Ceará, ou de São Paulo que está com regiões em lockdown e em um abre e fecha constante. Aqui, a gente fez uma restrição de horário apenas”, sustenta.

Maia Júnior é taxativo em dizer que não haverá flexibilização do decreto até o dia 28. “Nós fizemos um decreto com restrições por dez dias, apenas, e foi para permitir que a gente consiga melhorar o quadro da pandemia no Estado, portanto, o governador só vai reavaliar essas medidas após esse prazo”, conclui.

 

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