Economia em tempos de Covid-19

Em artigo enviado ao O POVO, o consultor de finanças Claver Mota, da M7 Investimentos, analisa as políticas públicas no Brasil e fala sobre as expectativas para os principais indicadores da economia

A atual conjuntura do momento pelo qual estamos passando é de uma verdadeira crise sanitária por conta da rápida disseminação do Covid-19 em todo País. Como resultado das necessárias políticas de isolamento social que já duram mais de dois meses, e agora de forma ainda mais rígida em alguns estados, temos milhares de comércios não-essenciais, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte, com suas portas fechadas. Sem contar com os milhões de profissionais liberais e informais impedidos de exercerem suas atividades.

Essa triste realidade inevitavelmente nos leva a uma segunda crise: a econômica. Quando olhamos sob essa segunda ótica, ainda é muito difícil conseguirmos mensurar os reais impactos que a pandemia do coronavírus está trazendo, não somente para o País, como também para a economia mundial. Contudo, já é possível aferir alguns desses impactos. O desemprego em massa e muitos indivíduos impossibilitados de produzir receita para o sustento de seus familiares são os grandes propulsores da dificuldade econômica que estamos e iremos viver nos próximos meses.

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Aumento do desemprego

Segundo o IBGE, hoje existem 12,9 milhões de desempregados no Brasil, 12,2% da população, pegando como referência o fechamento do mês de março. Estima-se que esse número irá aumentar consideravelmente com os efeitos da pandemia, podendo até a dobrar de valor. Como sempre, as classes menos favorecidas serão as mais impactadas.

Como resultado, a previsão do Boletim Focus, relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central, que contém um resumo das expectativas de indicadores relevantes para a economia brasileira, já estima uma queda no PIB de 4,11%. Em nossas conversas com analistas, e demais participantes do mercado, podemos atestar que algumas entidades já esperam uma retração de 7% no PIB em 2020.

Com intuito de combater esses problemas, o Governo Federal tem atuado com algumas medidas bastante expressivas: distribuição do chamado ‘'corona voucher’’ - auxílio de R$ 600 para pessoas necessitadas, bem como medidas de afrouxamento fiscal. Ainda em março, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou um pacote de incentivos emergenciais na ordem de R$137 bilhões.

Elevação da dívida brasileira

Quando falamos de política fiscal, ou seja, dos gastos do Governo, temos algumas ações que hoje são essenciais. Porém, se mostrarão um problema no futuro: esses gastos podem nos levar a ter uma uma dívida brasileira da ordem de 90% a 95% do PIB, o que gera insegurança em muitos investidores e participantes do mercado.

Além dos incentivos de natureza fiscal, temos algum incentivo de natureza monetária: o Banco Central anunciou recentemente, por meio do Copom, a redução da taxa Selic, de 3,75% a.a. para 3,00%. A medida visa aquecer a economia em um momento de atividade fraca, por conta da desaceleração econômica oriunda da parada de vários setores da economia, que gera uma inflação ainda mais baixa.

O expressivo corte na Selic torna o ‘'custo do dinheiro’' mais barato, fazendo com que seja incentivado os empréstimos para os tomadores de capital, além de diminuir a remuneração das aplicações de renda fixa pós fixadas a Taxa Selic. Assim, o objetivo de fazer circular mais dinheiro no mercado é parcialmente atingido.

Para onde vai o dólar?

Ainda na ótica mercadológica, uma das perguntas com mais frequência que recebemos de clientes é: ''para onde vai o dólar?’’. Essa pergunta exige um pouco de contexto, dado que a moeda americana já se valorizou cerca de 45% frente ao real, desde o início de 2020, paquerando atualmente com os R$ 6.

Há alguns motivos que justificam este dólar elevado. O primeiro é que muitos países possuem suas dívidas atreladas ao dólar e, em momentos de crise nos mercados financeiros, igual esse que estamos passando, muitos países compram a moeda americana para garantir que irão arcar com seus compromissos - elevando, assim, a cotação da moeda americana frente à várias moedas locais - real incluso. O segundo motivo é que com um cenário da Selic mais baixa. Como falamos anteriormente, é natural que haja uma fuga de capital estrangeiro do Brasil, pois as taxas de juros não continuam tão atrativas para a remuneração do capital estrangeiro.

Assim, saída de dólares da economia local faz mais uma vez com que a moeda se aprecie frente ao real. Um simples resultado da Lei da oferta e demanda. Por fim, a falta de políticas públicas coordenadas e claras por parte do Governo Federal, no tocante a estratégias para uma reabertura gradual das atividades econômicas, acaba por aumentar a desconfiança momentânea por parte dos investidores estrangeiros perante o Brasil - fazendo com que o dólar permaneça em uma tendência de cotação autista.

De acordo com o Boletim Focus, a estimativa para o dólar no fim de 2020 é de R$ 5, ainda que seja muito difícil fazer previsões para o câmbio no curto prazo. Portanto, meu conselho é que as pessoas se acostumem com um dólar estruturalmente mais alto nos próximos meses.

Claver Mota, consultor de finanças da M7 Investimentos

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