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Do que os passageiros gostam?

Há uma crise no negócio do transporte público. A demanda de ônibus caiu. Para diretor da NTU, André Dantas, Fortaleza conseguiu amenizar essa crise com projetos de mobilidade. Mas não se podem parar os investimentos em faixas exclusivas, por exemplo
19:04 | Set. 13, 2016
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Tipo Notícia
O que o usuário do transporte público de ônibus mais quer? Segurança, conforto ou wi-fi? Nenhuma das anteriores. Confiabilidade e garantia de que vai chegar ao destino no horário previsto são os itens mais importantes no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo. É o que apontam pesquisas nacionais e internacionais cruzadas pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), conforme revelou ao O POVO André Dantas, diretor-técnico da entidade.
 O segundo item mais importante varia conforme o estudo e o lugar. No Brasil, é o atendimento, seguido da conservação do ônibus, conforme pesquisa realizada pela própria NTU e pela Unioeste, no Paraná. Nos Estados Unidos, vem em segundo lugar o abrigo de espera do transporte e depois a taxa. Ainda nos Estados Unidos, a capacidade de resolver problemas que retardem a viagem, seguido da melhoria da experiência dos passageiros são outros quesitos que vêm depois em ordem de relevância.  Os dados são Conselho de Pesquisa e Transporte, ligado ao governo dos Estados Unidos, e do Instituto de Políticas de Transporte, também norte-americano.
 “Muitas pesquisas mostram que o mais importante pro usuário do transporte público no mundo é a confiabilidade. É saber que vai sair num determinado horário e vai chegar no horário previsto. Saber que a viagem leva a quantidade de minutos que ele confia. Depois, vêm todos os atributos de conforto e segurança. Curitiba, por exemplo, tem uma via exclusiva, tem prioridade, mas não tem ar-condicionado e outros atributos”, ressalta. A temperatura média da cidade é de 16,5° C. A máxima chega a 22° C.
 A auxiliar administrativa, Thais Santiago, 27, vai trabalhar todos os dias de ônibus. Toma um na ida e dois na volta. Mora no bairro Jardim das Oliveiras e trabalha no bairro Papicu. Leva 40 minutos na ida. Tem um carro em casa, mas a logística melhor é deixar o veículo com o marido. “O ruim pra mim é apenas que são poucos serviços de ônibus no meu bairro e os ônibus demoram muito para passar. Mas não é lotado, todo dia vou ao trabalho sentada e já têm ônibus com ar-condicionado”, relata.
 
Queda da demanda
Thais não trocaria o ônibus pelo carro atualmente, já que está bem empregada e com certa estabilidade. Mas a demanda por ônibus está caindo, também em função da situação econômica desfavorável. O diretor da NTU ressalta que a crise do transporte público está agravada.
 Em Fortaleza, no segundo semestre de 2015, houve uma baixa de 6,8% na demanda de ônibus. Em nove capitais do País, a queda foi de 9%. “Desde 2015, a altíssima taxa de motorização individual, aliada a desaceleração econômica, contribuiu para que isso ocorresse. Em relação ao índice de passageiros por quilômetro equivalente (IPKe), principal indicador de produtividade do setor, a diminuição foi de 9,6%”, lamenta André.
 Contribuem com esta crise a alta de 10,7% no custo do óleo diesel, que representa 23% do custo total do setor. A mão de obra, que representa 41% dos custos, o aumento foi de 6,8% nos últimos 12 meses. Com tudo isso, foi necessário reajustar as tarifas públicas praticadas nas principais cidades brasileiras.
 
Ar-condicionado
Até 2020, a estimativa é de que toda a frota de ônibus de transporte público de Fortaleza tenha ar-condicionado embarcado. A determinação é da Prefeitura de Fortaleza. Estudos locais apontam como um item importante para o passageiro. Conforme o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Barreira, o ar-condicionado e as tecnologias para o Bilhete Único estão pesando na conta das companhias.
 “O setor está enfrentando uma queda abrupta na demanda desde a metade do segundo semestre de 2015 e isso tem dificultado muito os investimentos. Empresas de transporte precisam manter política rígida e contínua de investimentos para manter os custos operacionais e a qualidade operacional sob controle”, analisa Dimas.
 Segundo ele, a Prefeitura cumpre o contrato de concessão à risca. A maior dificuldade é a necessidade de investimentos pesados. “Supomos que esta queda de demanda seja consequência da crise econômica, pois é um fenômeno nacional que está colocando o setor em xeque. Há muita dificuldade financeira por parte das empresas neste momento e estamos trabalhando para encontrar maneiras de recuperar a demanda”.
 
Andreh Johnathas, especial para O POVO 

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