Gerentes do Tesouro entregam cargos
A paralisação já deixa o sistema do Tesouro Direto - de venda de títulos pela internet - instável e pode começar a afetar repasses da União a Estados e municípios. Os gerentes são considerados o "coração" do Tesouro, responsáveis pela parte operacional do dia a dia do órgão, fazendo a interação entre os analistas e os coordenadores, que estão em nível mais elevado de comando.
Após três semanas de greve, o Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon Sindical), que representa os servidores do Tesouro, protocolou no fim da tarde de ontem um ofício no órgão, comunicando a saída de 95 dos 123 gerentes (77% desses cargos). O restante do corpo funcional se comprometeu a não assumir os postos que ficarão vagos.
A ação dos gerentes do Tesouro, que têm cargo comissionado, segue a mesma estratégia adotada pelos auditores da Receita com cargo de chefia, que entregaram os cargos durante a greve do órgão, no mês passado, para pressionar o governo a enviar ao Congresso projeto de reajuste salarial da categoria com a criação de um bônus de eficiência por produtividade na arrecadação de tributos.
Com a pressão, que prejudicou a arrecadação e o trabalho nas aduanas dos aeroportos às vésperas dos Jogos Olímpicos, o governo acabou cedendo e honrou o acordo salarial negociado pela equipe da presidente Dilma Rousseff, o que causou grande insatisfação entre os servidores do Tesouro e do Banco Central, que querem condições semelhantes.
Segundo o documento, a categoria aponta a recusa do governo em manter o realinhamento das remunerações dos servidores do Tesouro com outras carreiras da Fazenda, em especial da Receita Federal. A categoria está inconformada com os ganhos obtidos pelos auditores fiscais e argumenta que não querem virar uma carreira de segunda categoria. O ofício lembra que essa correlação salarial perdura há mais de uma década. "Reconhecemos a situação fiscal do País, mas o governo descumpriu o compromisso com a categoria. Os servidores da Receita conseguiram que o acordo firmado fosse cumprido, e queremos garantir o mesmo para os funcionários do Tesouro", afirmou o presidente do Unacon Sindical, Rudinei Marques, que assina o documento.
Ele reclamou ainda do tratamento dispensado pela secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, às demandas do corpo funcional do órgão. "A secretária não enxergou a dimensão do problema e nos recebeu por apenas cinco minutos. Agora, que a rebelião está formada, é ela que nos chama para conversar", queixa-se Marques.
Após a pressão dos funcionários da Receita em julho, o governo do presidente em exercício Michel Temer resolveu validar os reajustes salariais de 14 categorias de servidores públicos assinados pela presidente afastada Dilma Rousseff. O projeto de lei enviado ao Congresso contemplou também categorias como a policiais federais, auditores do trabalho e peritos médicos do INSS.
Questionado sobre a entrega de cargos no Tesouro e sobre a possibilidade de reajuste para a categoria, o Ministério da Fazenda respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai comentar a questão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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