Entrevista sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo
A verticalização é muito discutida hoje no mundo. Porque se você verticalizar você espalha menos a cidade
Nesta entrevista, a coordenadora do Laboratório da Cidade da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), Regina Costa e Silva, e o presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do Ceará (Asbea), Luciano Ramos, falam mais sobre as mudanças previstas na Luos e a necessidade de revisar o Plano Diretor. Essa revisão está marcada para 2019, mas eles acreditam que algumas alterações poderiam vir antes.
OPOVO - O que Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), que tramita na Câmara Municipal, traz de novo?
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AssineOP - E o que são as Zonas de Dinamização Urbanística e Socioeconômica (Zedus), que a Luos contempla?
Regina - A Zedus propõe que, nessas manchas de ocupações dentro da cidade, a gente tenha o uso diferenciado do que tem no restante da cidade. Por exemplo, tem uma Zedus da Aldeota que traz o gabarito do Centro (mais alto) para a Aldeota. São 22 áreas da cidade que estão classificadas como Zedus. Isso corresponde a cerca de 12% do território do Município. A ideia é dinamizar as áreas que já têm essa característica. Por exemplo, ao longo da BR-116 a gente tem atividades do comércio atacadista, de serviços, de grandes transportadoras.
Luciano Ramos – Também reconhece o polo gastronômico da Varjota e tira todo esse pessoal da informalidade. Hoje, acima de 80m² ninguém tem alvará de funcionamento. Mas o Município entendeu que lá tem uma coisa de serviço.
OP - Para o senhor, a Luos também traz avanços?
Luciano - Acho que sim. Acho que aprimorou a existente. O que falta é a revisão do plano diretor. Poderia ter avançado mais se o plano diretor tivesse sido revisado. A revisão é para 2019. Mas antes podem ser feitas alterações, como ocorreu em 2011.OP - A alteração de 2011 não foi boa?
Luciano - Pelo contrário. Ela ocorreu no sentido de corrigir alguns problemas de 2009 e aí voltou a fração do lote, que a gente não concorda. A gente concorda com o controle do adensamento. O que a gente acha é que esse controle de adensamento já é feito pelas massas construídas. E acho que ele deve ser muito mais em função de uma infraestrutura existente. Não posso aplicar uma regra de adensamento uniforme, pasteurizada para todos seguirem.
OP - A aplicação da fração do solo é para toda a cidade. Essa é uma das coisas que os arquitetos não concordam?
Luciano - A gente não concorda. Se eu tenho uma carga de infraestrutura instalada que me permita 700/800 habitantes por hectare (ha) porque não usar isso? A Aldeota não chegou a 700 habitantes/há, que é a densidade que justifica ter um metro por exemplo.OP - Um adensamento desse porte não é ruim não?
Luciano - Não. Onde você adensa com serviços e infraestrutura faz é melhorar ao invés de piorar. Você paga a infraestrutura.
OP - Muita gente fala do adensamento de algumas áreas, como a Beira Mar. Dizem que prejudica a circulação de ventos da Cidade. Isso procede?
Regina - O vento de Fortaleza é Leste/Sudeste. Não tem vento da praia. Não tem barreira de prédios. Aqueles prédios da Beira Mar estão, no mínimo, os mais antigos, recuados um do outro, dez metros. Porque hoje é no mínimo 20 metros entre um e outro. Na avenida Beira Mar você tem até paisagem negociada. Tem empreendimentos na via detrás da Beira mar que tem vista para o mar. Tem empreendimento na avenida Abolição que tem vista para o mar.OP - A senhora acha que cabe uma verticalização maior em Fortaleza?
Regina - A verticalização é muito discutida hoje no mundo. Porque se você verticalizar você vai espalhando menos a cidade. A gente tem exemplos em São Paulo. Tem Belo Horizonte que já emendou com Betim. A gente ainda não está conurbado com Caucaia. Do ponto de vista do adensamento, nem com Aquiraz, nem com Eusébio.
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