Para fugir do endividamento e organizar contas, evite o crédito para negativado
Na prática, um juro na casa de 1.000% significa que um empréstimo de R$ 1 mil pode se transformar em mais de R$ 11 mil com a incidência de juro em apenas um ano.
É como se, em termos aproximados, a taxa de juros de um ano completo no crédito consignado fosse equivalente ao cobrado em apenas um mês no negativado.
Saber de antemão o custo desse dinheiro não é tarefa fácil. O Banco Central não divulga dados específicos sobre o juro do crédito para negativado. A solução é buscar outra linha, a do crédito não consignado, e checar as maiores taxas praticadas no mercado. No topo do ranking, aparecem justamente as financeiras com forte apelo nesse produto, como Facta, Crefisa e Agiplan, com taxas entre 800% e 1.000%.
A metodologia do levantamento é a mesma de pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que também apontou os bancos BMG e Daycoval como instituições financeiras que ofertam abertamente esse crédito.
Procuradas, Crefisa, Agiplan, BMG, Daycoval não se dispuseram a comentar a política adotada. A Facta não foi encontrada.
"Não é uma solução, justamente por conta dessas taxas de juros altíssimas" afirma Marcela Kawauti, economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). A especialista sugere que, antes de recorrer ao crédito para negativado, deve-se buscar qualquer outra saída, como a venda de bens.
A economista do Idec, Ione Amorim, destaca que o risco é cair no superendividamento. "O que percebemos é uma ciranda. O consumidor toma dívidas para pagar juros de outras dívidas", afirma.
Em pesquisa com 20 bancos e instituições financeiras, Ione notou que, em comum, essas empresas prometem pouca burocracia e apontam o crédito como solução para o endividamento. "Muitas dessas instituições utilizam o crédito como uma ferramenta de fidelização do cliente", afirma.
De acordo com o SPC Brasil, hoje há quase 60 milhões de inadimplentes no País. E, destes, 13,3% dizem que já recorreram ao negativado. O porcentual cresce entre os mais endinheirados: nas classes A e B, 18,1% dos devedores já optaram pelo negativado.
A pesquisa também mostrou que quase metade dos inadimplentes informou que o crédito para negativado foi a única maneira encontrada para quitar os débitos.
Mas, para os especialistas, existem, sim, maneiras melhores ou menos danosas de reequilibrar a vida financeira.
Opções
Para ajudar na tarefa de reduzir as dívidas e fugir dos juros elevados, a recomendação é escolher o crédito consignado, que possui a menor taxa do mercado. O custo é mais baixo porque o dinheiro é debitado diretamente da folha de pagamento.
Apesar das vantagens, o consignado também possui riscos. Ione, do Idec, destaca que o consumidor deve se acostumar ao fato de que terá, todos os meses, uma redução automática da renda.
"O efeito disso é que a inadimplência no consignado é controlada, mas se espalha por outras linhas de crédito, como o cheque especial e o cartão de crédito", afirma.
Nos casos extremos, é indicado ajuda de profissionais para sair do vermelho.
"O endividado não precisa de mais crédito. O ideal é que ele faça um diagnóstico da situação financeira", afirma Diógenes Donizete, coordenador do Núcleo de Apoio ao Superendividado do Procon-SP.
O órgão possui, desde 2012, um núcleo para ajudar os superendividados. Para participar, é preciso fazer um cadastro pelo site do Procon ou agendar um horário de atendimento pelo telefone. Depois, o Procon dá um curso de educação financeira e atua nas renegociações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente