Caderneta de poupança terá em 2015 a primeira perda real desde 2002
Esta será a primeira perda real da tradicional caderneta da poupança desde 2002, quando a diferença ficou em -3,27%. Na prática, isso significa um recuo do poder de compra do brasileiro. "O que você compra hoje por um valor, daqui um ano custará mais caro. Diminuir o poder de compra significa que, se você tiver no futuro a mesma quantia de hoje, já não vai conseguir comprar esse produto", explica Olivia Paganini, da Guide Investimentos.
Para a gerente de investimentos da Guide, o fato de a caderneta ainda ser a aplicação mais popular do brasileiro reflete um pouco a situação de comodidade. Apesar de os bancos não terem em geral um grande incentivo ao investimento em poupança, a caderneta é uma das aplicações mais antigas no Brasil e tem a facilidade de ser atrelada, muitas vezes em débito automático, à conta corrente.
Pesa também na escolha dos investidores mais conservadores a ideia de segurança passada pela poupança. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) cobre quantias de até R$ 250 mil caso o banco decrete falência. "Há uma falsa impressão de que ela é um investimento sem risco. Há, por exemplo, o 'risco de liquidez', pois, apesar de o investidor poder sacar o dinheiro diariamente, o rendimento não é diário", lembra o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães.
Somente no aniversário do depósito, a cada mês, a caderneta contabiliza o retorno. Se o saque for feito com 28 dias e não 30, por exemplo, o dinheiro não renderá nada.
De acordo com o gestor de fundos de diversificação e de mercados emergentes da Rio Bravo Investimentos, Eduardo Levy, a poupança deixou de ser interessante há alguns anos. "Historicamente, de cinco anos pra cá, a poupança não é a melhor alternativa para o investidor brasileiro, mesmo para o pequeno e médio", avalia.
A aceleração da inflação desde o ano passado acendeu o sinal vermelho de alerta no Banco Central que, para contar a alta de preços, elevou o juro básico da economia (Selic). A alta da taxa tem um pequeno impacto no rendimento da poupança, já que esta leva em conta no cálculo o rendimento dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
A rentabilidade de fato melhorou em um ano: entre janeiro e agosto, a caderneta rendeu 5,09% neste ano contra 4,6% no mesmo período de 2014. A influência, porém, é tão marginal que não chega a ser suficiente para acompanhar o juro e bater a inflação.
De oito meses já fechados neste ano, a poupança perdeu para a inflação em seis deles. No acumulado do ano até agosto, a perda real é de 1,69%. Não à toa, na diferença entre saques e depósitos, a caderneta já perde R$ 48,5 bilhões em 2015, o maior valor em 20 anos.
Segundo especialistas, parte dos saques se deve ao aumento do custo de vida, o que faz o brasileiro resgatar investimentos para fechar o orçamento no fim do mês, mas o movimento também é impactado pela percepção do baixo retorno. "A situação econômica influencia, mas um dos motivos para a retirada de dinheiro também é a rentabilidade abaixo da inflação", avalia Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de Estudos Econômicos da Anefac.
Segundo Olivia, da Guide Investimentos, ainda que o rendimento seja baixo, a caderneta pode servir para o dinheiro de emergência, para fechar o mês, ou mesmo para investidores com uma quantia muito pequena, abaixo de R$ 1 mil. Para alguns especialistas, no entanto, mesmo no curto prazo há alternativas mais interessantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.