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Volpon: juro atual por período longo é condição para BC cumprir meta de inflação

14:35 | 20/08/2015
Manter a taxa básica de juros no atual nível por um período suficientemente longo é condição necessária para o Banco Central (BC) cumprir seu compromisso de trazer a inflação à meta no fim de 2016. A mensagem é do diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Tony Volpon. O comentário está no fim do discurso que ele faz nesta quinta-feira, 20, em reunião com investidores em Nova York. O discurso foi publicado antecipadamente no site da autoridade monetária.

Volpon inicia seu discurso dizendo que gostaria de falar sobre como altos graus de incerteza impactam a política monetária. "Uma importante fonte de incerteza está determinando o atual estado da economia", afirma. Esse problema, diz o diretor, manifesta-se mais obviamente nas revisões frequentes de dados econômicos, especialmente o Produto Interno Bruto (PIB). "Esse problema complica o desafio da política monetária em determinar o PIB potencial como parte do que é necessário para determinar o hiato do produto", diz. Hiato de produto é a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial.

O diretor do BC lembra que determinar o hiato do produto não é fácil em nenhum lugar, mas tem sido particularmente difícil no Brasil nos últimos anos. Ele observa que o consenso estima que o potencial no Brasil subiu para 4%. "Claro que agora sabemos que o crescimento real nunca chegou a esse nível", afirmou. "É clara a decepção com o crescimento depois de 2010", diz Volpon.

"Superestimar hiato do produto levará o BC a adotar política monetária errante pelo alívio. E isso provavelmente poderá levar a inflação maior", afirma. Volpon diz que superestimar o hiato foi uma razão que gerou inflação consistente acima da meta entre 2011/2014. "Minha intuição é que hoje nós corremos risco de cometer o erro oposto a 2011/14", afirmou.

Volpon avalia que as mudanças de política monetária pelo BC, como ciclo de alta de juros, levarão a uma menor inércia da inflação. "Considerar mudanças de políticas é relevante ao avaliarmos o nível de inércia futura. Inércia certamente não é uma constante", afirma Volpon no discurso. "A inércia baixará com desaparecimento de choques de preços relativos", afirma. Ele argumenta que a inércia inflacionária baixará com as respostas da política monetária do BC, uma vez que a intensidade de choques relativos ceder e os agentes econômicos passarem a estimar uma inflação futura num ambiente de expectativas bem ancoradas.

Volpon também observa que uma política monetária robusta vai afetar os desvios nas estimativas da inflação em relação à meta. Ele afirma ainda que, somente com a inflação corrente mais baixa, o BC tratará os choques positivos e negativos simetricamente. "A acomodação de política só deve ocorrer com a inflação significativamente abaixo da atual", diz no discurso. "Assim, manter o nível da taxa (de juros) no nível presente por um período suficientemente longo é condição necessária para o BC cumprir o compromisso de trazer a inflação à meta no fim de 2016."

Estímulo da demanda

Volpon avalia que as medidas adotadas para estimular a demanda geraram alocação ineficiente de recursos. "A alocação ineficiente de recursos contribuiu para a queda da produtividade."

Para Volpon, as políticas que levaram a essa ineficiência "estão sendo alteradas principalmente por causa do custo fiscal". "As atuais mudanças de políticas devem elevar a produtividade e vão ter impacto positivo nas estimativas de PIB potencial", diz. "A eficiência da economia vai aumentar, e isso levará a melhor desempenho da inflação."

Volpon também afirma, no discurso, que a alta da produtividade e mais exportações serão os primeiros fatores para recuperação econômica.

Quando analisa a questão do PIB potencial, o diretor argumenta que o boom de commodities resultou numa estimativa para cima do PIB potencial. "Um economista me disse que PIB potencial do Brasil hoje está em 0%; pode ser correto?", questiona.

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