Estrangeiros na dívida podem aumentar vulnerabilidade
Segundo dados do Tesouro Nacional, a participação de investidores estrangeiros no total da dívida pública mobiliária interna (DPMFi) era de 13,34% em agosto de 2012, subiu para 16,23% em agosto de 2013 e atingiu o recorde de 18,80% em agosto deste ano, que é o dado mais recente. Em números absolutos, essa participação soma R$ 390,16 bilhões.
"A participação de estrangeiros na dívida brasileira está em um nível recorde, porque eles estão atrás de taxas de juros altas", afirma o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas. Segundo ele, sob certo ponto de vista isso é bom, porque entra recurso no País, que precisa financiar o crescente déficit em conta corrente. Por outro lado, torna-se um risco se o juro subir nos EUA e houver uma pressão muito forte sobre o dólar. "Esse fluxo é de curtíssimo prazo e pode gerar uma volatilidade futura não esperada", explica.
Freitas lembra que em 2005, quando o Fed elevou os juros de 2,25% para 4,25%, o Tesouro brasileiro foi obrigado a prover liquidez extraordinária para os investidores estrangeiros que tentavam deixar o País, realizando leilões de compra de títulos. E, naquela época, a participação dos "gringos" era bem menor, de 4,5%, ou cerca de aproximadamente US$ 36 bilhões.
Atualmente, as dúvidas sobre a retomada da alta dos juros norte-americanos permanecem elevadas. Mas a percepção é de que com o término do programa de compras de bônus do Federal Reserve este mês, a liquidez global já deve começar a minguar. Quando o BC norte-americano iniciar seu novo ciclo de aperto - o que, segundo os membros do comitê de política monetária deve acontecer por volta de meados do próximo ano - isso deve criar um efeito de atração dos fluxos globais para lá.
O diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, concorda que a normalização da política monetária nos EUA é um risco, mas pondera que esse processo deve ser gradual e bem comunicado ao mercado. "Não vai ser a mesma dinâmica que a gente viu nos anos 1990, quando o aperto foi repentino", opina.
Mesmo assim, Volpon vislumbra impactos que podem complicar a vida dos emergentes. Segundo o diretor da Nomura, em períodos de liquidez excessiva os investidores globais tendem a ser pouco críticos em relação aos fundamentos dos países em que colocam seus recursos. Quando o dinheiro começa a escassear, no entanto, esses investidores se tornam menos lenientes.
No caso do Brasil, ele estima que poderá haver um aumento no custo da dívida. "Ano que vem o mercado será mais crítico. O preço será cobrado pelo aumento do custo da dívida, mas isso não significa que haverá um parada súbita de financiamento para o Brasil", garante. Ele estima que se o Brasil realmente tiver seu rating rebaixado, um título que paga retorno de 11% pode passar para 13%, "o que não é irrelevante em termos da capacidade de o País se financiar". Mesmo assim, o País continua sendo um destino atrativo, já que no mundo atual é bastante difícil encontra um juro nominal tão alto.
O esperado processo de valorização do dólar no próximo ano também deve afetar o apetite dos estrangeiros pelos títulos denominados em real, já que isso altera o carry trade. Volpon explica que o investidor está sempre refazendo seus cálculos e já sabe qual é a taxa de câmbio a partir da qual ele começa a perder dinheiro, que é muito maior do que a taxa nominal. "O investidor sempre olha para o câmbio e o carry".
Mesmo com o temor de que o aumento recente da participação de estrangeiros na dívida possa causar tumulto no caso de um cenário econômico ainda mais deteriorado, o fato é que a fatia dos estrangeiros na dívida brasileira ainda é considerada baixa comparada com a média de países emergentes, segundo ressaltam os analistas. Rússia e Tailândia, por exemplo, tem um nível semelhante, mas em países como México e Malásia o porcentual chega a quase 45%.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente