Infraestrutura de transportes defende avanços no PIL
Dois anos depois de lançado, o Programa de Investimento em Logística (PIL) desenvolveu apenas parte de seus objetivos, com avanços especialmente nas áreas de aeroportos e rodovias. Nos segmentos considerados mais determinantes para a melhora da logística de escoamento de produção, de portos e ferrovias, os investimentos permanecem praticamente travados, em meio às dificuldades com os marcos regulatórios e com a aprovação dos editais.
Mas especialistas sinalizam para a continuidade do programa, independentemente de quem sair vitorioso das eleições. "Existem políticas públicas que são políticas de Estado, e não de governo. Acreditamos que o PIL veio para ficar", disse o presidente executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Gustavo Bambini. "Sem entrar no mérito de quem pode vencer (a eleição), acredito que o novo governo num primeiro momento vai revisitar os projetos (ferroviários), para reativar o programa e dar continuidade ao que já foi feito. Hoje estamos em um ponto que é irreversível, pode haver eventualmente alguma alteração, mas não se pode desprezar o que já tem planejado", acrescentou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, Vicente Abate.
O segmento ferroviário, que teve sua malha reduzida de 38 mil quilômetros, na década de 1960, para 23 mil quilômetros de linhas operacionais atualmente, espera que o programa torne a matriz de transportes nacional mais equilibrada. "Hoje as ferrovias representam 30% desta matriz, enquanto as rodovias representam 58%", diz Bambini. O PIL inclui a ampliação da malha ferroviária em mais 11 mil quilômetros de extensão, com um investimento estimado de R$ 99,6 bilhões. Com isso, a expectativa é de que alcance perto de 40 mil quilômetros entre 2020 a 2025, segundo estimativas do setor.
O PIL contempla um novo modelo de concessão para o setor ferroviário, em que os concessionários serão gestores da infraestrutura, enquanto o tráfego das linhas será gerido pela Valec, estatal que comprará toda a capacidade da ferrovia e a ofertará a operadores ferroviários. A mudança em relação ao modelo atual, no qual o concessionário possui completo controle da ferrovia e sua operação, exigiu que o governo estabelecesse novas leis, atrasando o cronograma de leilões dos novos projetos, que inicialmente estava previsto para 2013. A falta de estudos mais detalhados também dificultou a licitação dos projetos, levando o governo a abrir à iniciativa privada a elaboração dos estudos, que devem ser entregues em abril de 2015.
Os analistas do JPMorgan Fernando Abdalla e Carlos Louro publicaram recentemente um relatório destacando as principais questões para o setor de infraestrutura para o próximo governo, e indicaram o segmento ferroviário como o menos desenvolvido, uma vez que ainda carece de um marco regulatório sólido, especialmente para as novas concessões.
Eles lembram que, no caso aos novos leilões a serem conduzidos no setor, o governo ainda precisa definir as garantias para o novo formato de concessões, no qual a estatal Valec irá adquirir 100% da capacidade da ferrovia e revender essa capacidade aos interessados. "Este formato ainda apresenta riscos significativos para os operadores, se a Valec não for capaz de adquirir a capacidade de todos os trechos ferroviários (consequentemente, levando os retornos reais a diferir materialmente das expectativas originais)", disseram.
Portos
Outro setor que pouco avançou é o portuário, na avaliação do JP. Apesar de a nova lei dos portos ter sido aprovada em maio de 2013, os investimentos no setor ainda estão em ritmo lento. "Para destravar os investimentos e reduzir os gargalos logísticos no setor, o governo precisaria reduzir a burocracia e acelerar o processo de aprovação por novos investimentos/renovação das concessões", avaliaram os analistas.
No setor, porém, já se fala em "evolução da legislação e regulamentação do Sistema Portuário Brasileiro". A Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), que congrega terminais privados de uso exclusivo misto e público, lançou um documento com propostas para o segmento, a ser entregue aos presidenciáveis, com sugestões de mudanças na lei recém-publicada. "Elaboramos uma série de propostas, com base na legalidade, que defendem a livre iniciativa, principalmente para operar e contratar, e visam ao aumento da produtividade", explicou o diretor presidente da ABTP, Wilen Manteli.
Uma das sugestões é estabelecer a liberdade de contratação de trabalhadores dentro ou fora do porto organizado. As empresas com terminais instalados no porto organizado se ressentem do fato de que a lei permitiu que portos privativos contratem seus funcionários próprios, sem necessidade de utilização de trabalhadores avulsos, o que tende a trazer redução de custos, enquanto nos portos organizados, está prevista a utilização dos dois tipos de trabalhadores - avulsos e com vínculo empregatício por tempo indeterminado.
Outra proposta sugere suprimir da lei as exigências de anúncios públicos de interesse em construção de terminais privados e chamadas públicas para verificar se há interesse de outros investidores. Outro ponto a revisar é a limitação de expansão desses terminais. "Consolidamos ideias capazes de eliminar obstáculos para o crescimento, além de criar condições para o aumento da capacidade portuária e da competitividade dos bens e serviços brasileiros no mercado global", afirmou Manteli.
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