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Setor privado quer ir além do Mercosul

10:10 | Jul. 14, 2014
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Historicamente fechada, a economia brasileira precisa buscar acordos de comércio com outros países e blocos e revisar normas do Mercosul, para evitar perdas de competitividade e maior isolamento do País. De diferentes maneiras, é com essa mensagem que representantes da indústria e da agricultura esperam convencer os presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos a se engajar em negociações com Estados Unidos, União Europeia e outras economias de vulto a partir do próximo mandato.

Pela primeira vez na história, o setor privado está unido para pressionar o governo a trilhar concomitantemente dois caminhos: aprovar reformas domésticas, com o objetivo de reduzir o custo Brasil, aliadas a diálogos com parceiros internacionais. A estratégia é capitaneada pelas confederações da Indústria e da Agricultura e Pecuária, que concordam no diagnóstico sobre os últimos anos: o País perdeu uma grande chance de obter vantagens maiores para nossos produtos no exterior durante o auge da crise financeira.

"Muito tempo foi desperdiçado com o debate sobre a ordem cronológica das medidas para a redução dos custos e o aumento da competitividade dos produtos brasileiros", diz a Confederação Nacional da Indústria em documento enviado aos presidenciáveis, obtido pela reportagem. "As transformações no cenário global sugerem que não há mais espaço para discutir o que deve vir primeiro ou depois."

Uma das administrações mais atuantes em medidas de estímulo à indústria, com dezenas de pacotes de cortes de impostos e linhas de crédito setoriais, o governo Dilma Rousseff é criticado por ações consideradas protecionistas. Automóveis produzidos fora do Mercosul pagam uma alíquota adicional de 30 pontos porcentuais de IPI, e diversos outros produtos receberam uma tarifa maior de PIS/Cofins.

Mercosul

Tanto industriais quanto agricultores defendem a continuidade do Mercosul - a união aduaneira formada pelo Brasil com os vizinhos Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela - mas pedem uma reformulação das regras, pois "sua agenda econômica está estagnada", como define a CNI aos presidenciáveis.

"O Mercosul representa uma posição política muito importante para o Brasil, mas hoje não é suficiente para a indústria brasileira, não é suficiente para nossa produção", afirmou Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da confederação. "Chile, Colômbia, Peru e México, se juntando na Aliança do Pacífico, têm uma visão mais estratégica, estão se juntando ao lado asiático onde tem mais tecnologia, é um lado que o Brasil hoje não está conseguindo penetrar, só entramos com produtos primários." As entidades patronais defendem a reformulação de uma norma adotada pelo Mercosul no ano 2000 que regula a negociação conjunta em acordos comerciais. Um "redesenho" dessa norma permitiria ao Brasil buscar acordos com outros países rapidamente. "O Mercosul deu no que tinha que dar nesse formato", resume Alinne Betania Oliveira, superintendente adjunta de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura.

Recomendações

A revisão de normas e objetivos do Mercosul, com o Brasil assumindo "um papel de liderança", é uma das quatro recomendações dos industriais aos presidenciáveis. Em primeiro lugar, a sugestão de industriais e agricultores visa a um reforço do multilateralismo e participação brasileira em temas que hoje se conectam com o comércio do que se produz no País, como negociações sobre as mudanças climáticas e segurança alimentar.

O segundo ponto em que as agendas do agronegócio e do setor de manufaturados se cruzam embute uma reformulação da atual política comercial brasileira. Após anos de conversas sobre uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca), defendida por Fernando Henrique Cardoso e enterrada por Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil concentrou todos os esforços em uma rodada de liberação comercial na Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que também não avançou. Agora, as confederações pedem um enfoque adicional: acordos preferenciais com Estados Unidos, União Europeia e emergentes como África do Sul, Índia e México. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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