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Os impactos sociais da corrida por investimentos

Grandes empreendimentos realizados mundo afora por países dos Brics alteram a vida das populações e gera críticas ao que seria um "novo colonialismo"
08:40 | Jul. 16, 2014
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Tipo Notícia


A pequena vila de Moatize, localizada na província de Tete, em Moçambique, hospeda, há dez anos, um dos maiores investimentos brasileiros na África, a operação de carvão da Vale. Com investimento inicial de US$ 1,8 milhões, as minas de Moatize representam hoje um dos braços brasileiros na corrida de investimentos entre países dos Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no continente africano. O fenômeno, intensificado na última década, engloba, em sua maioria, grandes projetos de exploração de recursos naturais e já é classificado pelas sociedades atingidas como o colonialismo do século XXI.

 

“O que difere esse colonialismo do antigo é que, no passado, os navegadores diziam que estavam descobrindo um novo mundo”, resume a moçambicana Graça Samo, integrante do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. Segundo Samo, a operação da Vale no País é reflexo de um modelo de desenvolvimento que busca a exploração de mercados pouco desenvolvidos, sem que haja retorno para a população local.

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Atualmente, além da operação da Vale, Moçambique recebe outro investimento brasileiro de grande porte: o ProSavana, parceria trilateral entre Brasil, Japão e Moçambique para a expansão da agricultora em regiões de savana no norte do país. “A vida dessas pessoas está mudando muito em pouco tempo. São grandes projetos que envolvem reassentamentos, mudanças no estilo de vida e que priorizam o mercado internacional. A gente pensa que essas nações estão pensando apenas no seu próprio desenvolvimento”, afirma a ativista.

 

A situação se repete em outros países da África. Em sua maioria, os Estados firmam acordos com maior economia da região. “A África do Sul vê o sul da África como o seu quintal e como sua plataforma de expansão. É uma estratégia econômica para competir com Estados Unidos, Europa%u018D etc”, aponta Brian Ashley, representante sul-africano do Alternative Information and Development Centre (AIDC).

 

Territórios como o sul do Zimbábue e o leste da República Democrática do Congo são exemplos, segundo Brian, do imperialismo sul-africano na região. “O que nós estamos vivenciando na África é uma nova corrida. É assim que muitas comunidades experienciam os Brics: alguém que não vem para ajudar e mostrar que eles podem superar o subdesenvolvimento ou diversificar suas economias”

 

Cautela
Especialistas ouvidos pelo O POVO, no entanto, consideram infundado o temor de que uma nova colonização esteja surgindo com o crescimento de países dos Brics. Para o professor de Relações Internacionais e colaborador do Instituto Rio Branco, João Bosco Monte, é preciso partir do conceito de “colonizar”, para se entender a política econômica do grupo.

 

“O conceito de colonialismo é amplo. Um país coloniza outro quando ele tem poder econômico, bélico e cultural, onde predomina a hegemonia sobre outro agente. Não vejo, no contexto atual em que vivemos, que esses países tenham poder de infiltrar-se e colonizar outro”, defende.

 

De acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), José Flávio Sombra, cada país se utiliza de um interesse estratégico econômico próprio, sem, no entanto, impor negociações. “O grupo dos Brics ainda vai demonstrar o que ele pode ser. Por hora estamos num ensaio de coalizão permanente”. (colaborou Erivelton Melo, especial para O POVO)

 

NÚMEROS

 

1,8
milhão de dólares é o investimento inicial brasileiro nas minas de Moatize

 

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