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Para economistas, inflação será maior nos meses da Copa

15:00 | Fev. 23, 2014
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Os analistas fazem coro ao dizer que a inflação mensal de junho e julho terá na Copa do Mundo um forte componente sazonal de alta. Mas a realização do evento em si e o consequente aumento da demanda por bens e serviços não são os únicos fatores para a variação de preços. A restrição de oferta em alguns setores e a deficiência estrutural do Brasil, que ficarão mais evidentes durante o Mundial, serão um agravante para turbinar a inflação no período.

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O economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, entende que o problema da oferta ficará mais evidente durante o Mundial. "Se em outros países a inflação foi afetada pela Copa, no Brasil vai ser agravada pela restrição de oferta. Então, aqui vai ser pior", ressaltou Combat.

 

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O professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Reginaldo Nogueira alerta que é preciso ter cuidado ao se falar em reajuste abusivo de preços. "Como o Brasil tem incapacidade de oferecer infraestrutura de serviços para essa demanda toda, a variável que ajusta isso é o preço. É um movimento normal de mercado", diz.

 

O setor aéreo é um exemplo de oferta pressionada, segundo Nogueira. "Não se fez os investimentos necessários em aeroportos. Não se conseguiu aumentar a oferta como deveria. Se há um número limitado de voos e de assentos, o preço vai subir, até reduzir a demanda", afirma.

 

Dada a falta de infraestrutura, nem o estabelecimento de um teto para as tarifas de passagens aéreas durante a Copa do Mundo, adotado pelas companhias Azul e Avianca (no valor de R$ 999 por trecho), deve impedir a variação de preços. "É mais uma estratégia de marketing", diz o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat. "As companhias até teriam capacidade (de elevar a oferta), mas mais uma vez se tem gargalo em relação à própria estrutura de aeroportos."

 

"O ajuste de preços vai ocorrer, respondendo às condições de oferta e demanda, e isso é normal. A função do empresário é maximizar o lucro da empresa, senão ele vai pra rua", diz, lembrando que, há dois ou três anos, as companhias aéreas passam por dificuldades. "O problema está na atuação do governo, que não oferece condições e incentivos para que a concorrência do setor aumente."

 

Prates, no entanto, não acredita em uma elevação "absurda" de preços. Na sua avaliação, os aumentos serão similares ao verificado em outras datas de alta-temporada no Brasil, como carnaval e fim de ano. Além disso, ele afirma que, no período da competição, haverá uma substituição dos turistas corporativos por aqueles que buscam lazer, e a maior parte das pessoas que vão aos jogos costuma estar próxima dos locais em que eles ocorrem. "Tudo isso sinaliza que a demanda não deve crescer tanto quanto se imagina algumas vezes."

 

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a avaliação de que a Copa do Mundo representa um grande momento para o setor não se reflete na realidade. Conforme a Abear, o impacto recairá mais sobre a logística do que sobre o preço, uma vez que a demanda total não sofrerá grande variação, por conta da diminuição dos passageiros corporativos durante o torneio.

 

Setor hoteleiro

 

Já no setor hoteleiro, a escassez na oferta não parece ser um problema. Só no Rio de Janeiro, sede da final da Copa do Mundo, 36 hotéis devem ser inaugurados até o evento, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi. Ele garante que não haverá abusos nos preços cobrados pelo setor e não aposta em demanda excedente. "Quem fala em aumento de preços, ou é por falta de informação, ou por má-fé", diz.

 

Segundo Fermi, ainda em 2007, quando o Brasil foi definido como país-sede, 840 hotéis firmaram contrato com a Match Services AG, empresa contratada pela Fifa para fornecer ingressos para jogos e acomodação. Assim, parte dos quartos ficaria reservada para as seleções e para a comissão técnica da autoridade mundial do futebol, enquanto outra parte seria ofertada no site da companhia, a preços estabelecidos há sete anos e reajustados de acordo com a inflação no período.

 

"São tarifas compatíveis com o que é praticado em outros países", destaca Fermi. O presidente da ABIH diz ainda que parte desses quartos já foi descontratada - ou seja, devolvida às redes para que elas mesmas comercializem as diárias -, mas não aposta em um aumento intenso de preços com base na lógica da oferta e demanda. "Se a própria operadora oficial devolve, quem vai demandar além dela? Eu acho que não (vai haver demanda excedente). Vai vender para quem?", questiona.

 

Na semana passada, o Fórum de Operadores Hoteleiros no Brasil (FOHB), que representa 25 das maiores redes hoteleiras do Brasil, informou que até agora apenas 40% dos apartamentos ofertados nas cidades-sede no período da competição já estão vendidos.

 

As redes hoteleiras representadas pelo FOHB englobam 600 hotéis em operação e respondem por 18% dos apartamentos em todo o setor no País. Segundo a entidade, o balanço mostra que a demanda prevista para o evento está aquém do esperado. Consequentemente, parte da oferta hoteleira, ampliada nos últimos anos, corre o risco de ficar ociosa.

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