No português, dias da semana são numerais. Em outras línguas, são deuses. Por quê?

Idiomas latinos, como espanhol, e línguas germânicas, como inglês e alemão, utilizam nome de deuses para nomear dias da semana. Já o português usa números: segunda, terça, quarta...

 

Ao redor do mundo, há diversas formas de nomear os dias da semana. Em países de língua latina, como Espanha, França e Itália, são utilizados os nomes de deuses greco-romanos. O português, apesar de derivar do latim, vai contra essa ideia, enumerando os dias sequencialmente. Entenda por quê. 

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Os romanos homenageavam suas divindades dedicando um dia da semana para cada, na seguinte sequência: Lua (segunda-feira), Marte (terça-feira), Mercúrio (quarta-feira), Júpiter (quinta-feira) e Vênus (sexta-feira). Em línguas germânicas, como o inglês e o alemão, são utilizados os deuses nórdicos. Wednesday (quarta-feira) é o dia de Odin, enquanto Thursday (quinta-feira), do Thor.

Esses deuses representam as forças da natureza e os sentimentos humanos. Eram os astros que os romanos conseguiam enxergar no céu. Sua construção teve muita influência da mitologia grega e, por esse motivo, é conhecida como greco-romana. Marte (terça-feira) era o equivalente romano de Ares, o deus da guerra, bem com Vênus (sexta-feira) era a deusa grega do amor, Afrodite. 

No ano 536, porém, a Igreja passou a se posicionar de forma contrária ao uso de nomes pagãos, termo que caracteriza as pessoas que cultuam vários deuses. Sugeriu-se, então, mudanças na nomenclatura da semana. “Segundo dia de descanso”, “terceiro dia de descanso” e assim por diante. Na época, a ordem era mudar apenas os dias da Semana Santa, sendo estendida posteriormente para o restante do ano.

De acordo com o professor Josenir Alcântara, mestre em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC), apesar da pressão da Igreja, alguns povos europeus conservaram suas antigas crenças. “Eles [deuses] continuaram sendo representados nessas línguas nos dias da semana, mesmo depois da cristianização do continente, quando o povo cristão não os reverenciava mais.”

O português, berço de uma monarquia profundamente católica, optou por seguir as recomendações do Vaticano, adotando, assim, um novo vocabulário. Ao invés de “segundo dia de descanso”, como proposto inicialmente, adaptou-se para “segunda-feira”, “terça-feira”, como estamos habituados nos dias atuais.

Isso porque a palavra “feria”, que em português se tornou “feira”, significa em latim “dia de descanso”. “No ano 563, o Bispo Martinho de Braga, de Portugal, havia instituído que os nomes de base pagã fossem substituídos pelo termo feira”, explica Josenir Alcântara.

Sábado e domingo, antes representados por Saturno e Sol, foram substituídos por nomes judaícos-cristãos: Shabbat, conhecido atualmente como o dia do descanso dos judeus, e dies Dominicus, palavra em latim que significa “dia do Senhor”. A despeito da diferenciação do português em relação aos demais idiomas latinos, outras línguas também fazem uso da numeração para se referir aos dias. É o caso do árabe, algumas línguas eslavas e o grego moderno. 

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