Montanha-russa: o legado radical da imperatriz da Rússia Catarina, a Grande

Um dos brinquedos mais radicais dos parques de diversão remonta ao século XVIII e foi ideia de uma da maior czar da Rússia

Quem assiste à série The Great, da Amazon, não imagina a influência que Catarina, a Grande, da Rússia, exerce até hoje. Em especial na invenção de uma engenhoca conhecida em todo o mundo como "montanha russa", mas que lá é chamada de "montanha americana".

Mas antes de chegar à origem dessa atração presente em todo o mundo, há um capítulo importante: o surgimento de São Petersburgo, fundada em 1703. A cidade floresceu sob o reinado do czar Pedro, o Grande, sogro de Catarina, a Grande. Foi nessa Rússia e na jovem São Petersburgo do século XVIII que começou a história da montanha-russa.

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Durante os festivais de inverno, os moradores da cidade construíram rampas de madeira gigantes em praças públicas e mansões. Estas estruturas eram cobertas de neve, sobre as quais se borrifava água, para formar uma espessa camada de gelo escorregadio. E nelas, as pessoas se jogavam, sem hesitação.

Entre os entusiastas dessa atração estava ninguém menos que a imperatriz Catarina, a Grande. Ela subia como dezenas de degraus que levavam ao topo, embarcava em um trenó esculpido em gelo e descia a ladeira íngreme amparada apenas por um pedaço de corda.

Catarina, a Grande, interpretada por Elle Fanning na série The Great, do canal StarzPlay da Amazon Prime Vídeo.
Catarina, a Grande, interpretada por Elle Fanning na série The Great, do canal StarzPlay da Amazon Prime Vídeo. (Foto: Divulgação/StarzPlay)

"Quando você olha essas estruturas (antigas), é absolutamente incrível que as pessoas podem pensar: 'Vamos nos jogar nessa rampa em mudanças vertiginosas, sem nenhum mecanismo de segurança que nos mantenha no trenó", diz Margee Kerr, socióloga que estuda o medo, em entrevista à BBC Mundo.

Considerando que Catarina organizou um golpe de Estado contra o próprio marido, o czar Pedro, talvez não seja surpreendente seu apreço por fortes emoções. Na verdade, ela encomendou uma rampa e pediu para que fossem acopladas rodas, ao invés de gelo, para desfrutar do brinquedo o ano todo. E assim, nasceu a primeira montanha-russa moderna.

 

Catarina, a grande, foi a responsável pela criação de uma rampa com rodas que pudesse ser apreciada durante todo o ano, e não só a partir do contato com a neve
Catarina, a grande, foi a responsável pela criação de uma rampa com rodas que pudesse ser apreciada durante todo o ano, e não só a partir do contato com a neve (Foto: Reprodução)


Em meados do século 19, as montanhas-russas eram populares em pátios e casas de classe alta. Durante as guerras napoleônicas, soldados franceses que visitavam São Petersburgo importaram a ideia. Em 1821, foi construída a primeira "montanha-russa" no país, com carros fixados nos trilhos em Belleville. Em francês, foi chamada de "montagne russe".

"Montanha-americana"

Foi nos Estados Unidos que o brinquedo se tornou tão popular. "Ele começou a se popularizar com a invenção do carrinho elétrico projetado para transportar carvão e material industrial de um lugar para outro, viajando sobre trilhos", conta Kerr. "Os operadores perceberam que poderiam ganhar dinheiro se vendessem ingressos para as pessoas andarem neles e notaram que seus clientes gostavam das subidas, descidas e reviravoltas".

Hoje, as montanhas-russas chegam a 240 km/h e até 14 loopings (voltas). Há muita física por trás desse brinquedo para explicar esse avanço tecnológico.

Explicando pela Lei de Newton

Segundo a Revista Galileu, uma montanha-russa é levada ao topo através de bomba hidráulica ou contrapeso. Isso acumula um suprimento de energia potencial que será usado na queda, à medida que o trem é arrastado pela gravidade.

Toda a energia armazenada na descida é liberada como energia cinética, o que permite que o trem suba a próxima rampa. Então, à medida que percorre as subidas e descidas, há uma alternância constante entre energia potencial e cinética.

Não se deve esquecer que, de acordo com a Primeira Lei de Newton, um objeto em movimento tende a permanecer em movimento, a menos que outra força aja contra ele. O vento e o atrito das rodas ao longo da pista retardam o trem. Portanto, no final da viagem, as subidas tendem a ser menos acentuadas, porque há menos energia para superá-las.

Quando você entra no trem, sente-se pressionado contra a parte externa do carrinho. Trata-se da força centrípeta, que nos ajuda a ficar sentados no brinquedo.

No desenho conhecido como loop-a-loop, há uma inércia que mantém você sentado. Embora a gravidade o puxe para a Terra, a força de aceleração é mais forte e aumenta, opondo-se à gravidade. No entanto, o loop deve ser elíptico, em vez de um círculo perfeito. Caso contrário, uma força centrípeta seria muito forte para garantir a segurança e conforto das pessoas.

Há também montanhas-russas motorizadas, nas quais o trem é alimentado o tempo todo. "Algumas utilizam motor só na subida, outras usam para frear nas quedas e manter a velocidade constante", diz o engenheiro mecânico Lucaz Ferraz, que possui um canal no YouTube sobre parques de diversões. "Os fãs mais ardorosos discutem se as motorizadas podem mesmo ser chamadas de montanhas-russas", relata.

 

Uma montanha-russa não tem um motor para gerar energia. A primeira subida é feita graças a um elevador ou cabo que puxa o trem
Uma montanha-russa não tem um motor para gerar energia. A primeira subida é feita graças a um elevador ou cabo que puxa o trem (Foto: Chris de Tempe/Unsplash)

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Montanha-Russa Catarina História The Great Amazon

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