Conheça Morgana Camila, famosa pela narração dos desfiles de 7 de Setembro em Maranguape

Empresária e criadora de conteúdo, a moradora de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), compartilha como a autenticidade em narrar os desfiles cívicos da cidade mudou a vida dela após viralizar nas rede sociais

Com humor e originalidade, a empresária Morgana Camila, 36, chama atenção nas redes sociais, desde 2018, com a narração do desfile de 7 de Setembro de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Natural da cidade, a cearense do bordão “arrasa na Major”, referência à rua Major Agostinho, onde ocorre, anualmente, o desfile cívico da região, tornou-se uma das principais figuras do evento que chega a parar a cidade.

Atualmente, além de proprietária de um loja de vestuário, Morgana concilia o novo ciclo como criadora de conteúdo por meio das redes sociais. Para ela, nunca passou pela cabeça ser reconhecida pela voz, que já foi motivo de crítica e bullying quando era mais nova.

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Muitas vezes, segundo ela, chegou a ser chamada de “gasguita”. Em entrevista ao O POVO, ela conta como a vida dela mudou após viralizar e quais caminhos foram traçados por ela até chegar no atual momento.

O POVO - Como e quando surgiu a ideia de começar a narrar os desfiles de 7 de Setembro de Maranguape e por que você escolheu esse evento?

Morgana Camila - Aqui já é um evento muito tradicional na cidade, o desfile na Major. É um desfile bem tradicional mesmo, no qual todas as escolas do município fazem parte. Desde pequena, eu sempre desfilei. Eu sempre amei esse universo. É um evento de parar o município, e vem gente de todo buraco, de todo canto para poder assistir. Eu costumo dizer que as pessoas só costumam sair de casa por dois motivos: para votar e para ver a parada do 7 de Setembro para a marcha na Major.

A Major é um corredor cultural, é a rua mais famosa da cidade, a mais badalada, que passa tudo, desde velório até o Carnaval. E com o desfile cívico não poderia ser diferente. Nas narrações, eu já fazia isso antes, só que, em 2018, foi quando teve o “boom”. Mas, antes, em 2016 e 2017, eu estava lá narrando do mesmo jeito, só que nunca postei em canto nenhum, eu fazia só para mim.

Em 2018, foi muito engraçado como tudo começou porque eu não tinha rede social. Em setembro de 2018, foi o primeiro vídeo que viralizou, que foi com o vídeo dos meninos dos “incríveis” durante o desfile na Major. Eu acabei postando só em grupos de WhatsApp para o pessoal da escola. Só que esse vídeo foi parar no exterior. Alguém no exterior, acho que na Itália, postou nas redes sociais.

No outro dia em Maranguape é feriado, dia 8 de setembro, dia de Nossa Senhora da Penha, padroeira da cidade, e eu estava na praia, e quando eu entrei na internet vi meu WhatsApp só um monte de gente perguntando quem era a dona daquela voz. Todo mundo: “Mulher, aparece que teu vídeo estourou”, e eu “Estourou o quê?”. Porque, até então, eu nunca tinha postado em canto nenhum.

De imediato, já começaram a surgir repórteres e TV para saber quem era a dona daquela voz do vídeo, querendo marcar entrevista para ir a Maranguape para conhecer. Foi tudo muito rápido. Na mesma hora, eu criei meu Instagram para poder postar os vídeos. Quando eu comecei a postar foi ganhando mais visibilidade ainda. Na época, muitos famosos começaram a repostar. Silverio (ator cearense) chegou a fazer dublagem, assim como Marcus Majella (ator). Muitas pessoas de nível nacional repostaram, e isso também ajudou a dar o “boom”.

OP - A partir de qual momento você percebeu que os vídeos começaram a ganhar destaque no País?

Morgana - Foi a partir das repostagens de famosos. Este ano, quem repostou foi o David Brasil e o Carlos Delavechia. Assim, eu vi que realmente não ficou só no Maranguape e ganhou uma proporção estadual e nacional. Além de muita gente de fora, Londres, Portugal e Canadá, por exemplo. Vários brasileiros que moram fora acompanhando tudo.

A gente teve dois anos interrompidos por conta da Covid-19. Então, neste ano, estava todo mundo com ansiedade e esperando pelo desfile na Major. O último que teve foi em 2019. E este ano foi o ano do retorno. Eu não esperava que ia dar essa repercussão toda. Porque eu digo, assim, como pode as coisas do nada irem acontecendo? E o mais incrível é isso que, de repente, você não imagina que algo pode alcançar tantos e tantos lugares.

As performances no desfile são das bandas de fanfarra, não são propriamente das escolas em si. As escolas estão no desfile e chamam as bandas, e cada banda tem autonomia para bolar as coreografias, roupas e temas. Então, são eles que dão o show à parte. Cada escola também tem sua banda de fanfarra, mas, a maioria vem de fora para poder tocar no dia.

OP - O que você busca para trazer autenticidade à narração do desfile? É tudo instantâneo ou existe um planejamento?

Morgana - Não tem como planejar. As narrações são de forma instantânea. Até porque eu vou narrando o que eu vou vendo ali no momento. Não tem como eu premeditar o que vai vir e como vai vir, como o que eles vão dançar ou o que eles estão vestindo, eu não tenho como saber. Na hora, a gente vai vendo referências com o que as coisas estão parecendo e vai falando na hora. As pessoas daqui vivenciam esse desfile. É muito tempo de preparação.

Quem está de fora acha que é uma brincadeira, mas quem está aqui vivencia aquele momento. Os alunos se preparam com as bandas com coreografia e com roupas porque eles querem realmente estar nesse movimento. É um desfile cívico feito por civis, não é um desfile militar. Muitas pessoas podem até confundir. São feitos por alunos e são civis. Aquilo é arte, eles estão dançando, estão elaborando coreografia. Hoje, as pessoas estão começando a entender um pouco desse universo.

OP - Atualmente, você se considera influenciadora digital?

Morgana - Eu não me enquadro nessa questão de ser influencer. Eu falo o que eu aprendi, que eu sou criadora de conteúdo. Eu não me intitulo blogueira e nem influencer porque eu não me enquadro nesse universo de influenciadora. Eu posso dizer que eu sou criadora de conteúdo que mostra a minha cidade, que, para mim, o principal é vivenciar Maranguape, é mostrar a minha cidade.

Depois do desfile de 7 de Setembro, Maranguape ficou conhecida mais ainda, além de ser cidade de Chico Anysio e Capistrano de Abreu e, agora, pela Major. Porque muita gente já associa, quando eu digo que sou de Maranguape, as pessoas dizem: “Ah, aquela rua do desfile de 7 de Setembro da Major”. Isso deu notabilidade para a minha cidade. Então, eu digo que sou criadora de conteúdo, que procuro mostrar o melhor que eu tenho de mim e da minha cidade.

OP - O que mudou na sua vida após o bordão “arrasa na Major”?

Morgana - O “arrasa na Major” ficou. Hoje, tudo que a gente vai fazer é “arrasa na Major”. Virou música, que depois virou clipe. Na época, eu fiz até blusa. Então, o “arrasa na Major” veio para ficar, e hoje em dia a gente associa ele com muitas outras coisas. Eu já fui para o programa da Eliana. Já fui convidada para a Escola de Samba do Rio de Janeiro, a União da Ilha do Governador, de 2019, que iria retratar o Ceará. Eu fui no carro alegórico junto com o Espedito Seleiro, representando as rendas cearenses.

Então, tudo isso a Major trouxe para mim. Fiz muita coisa por conta disso. E algo que é muito engraçado é que eu sofri bullying por conta da minha voz. A minha voz para mim, antes, era motivo de vergonha: “Ah, lá vem a gasguita”. Por muito tempo, eu pensava: “O que eu vou fazer se a minha voz é essa?”. E o engraçado é eu ser reconhecida, justamente, por algo que já foi tão falado, que é a minha voz.

Na época que estourou, as pessoas não viam o meu rosto, não sabiam quem eu era, apenas me conheciam pela minha voz. E, agora, eu ser reconhecida por isso, pela minha voz, é de um prazer tremendo, sem tamanho. Consegui fazer publicidades, propagandas. Para mim, foi um divisor de águas muito grande essa rua na minha vida, ela tem uma representatividade enorme para mim, como pessoa, moradora e, hoje, como criadora de conteúdo.

Eu acabo mostrando esse outro lado da minha cidade, com um ponto de vista cômico, mas sem depreciar ninguém. As pessoas aqui se sentem vistas e valorizadas, mesmo de uma forma cômica que eu acabo falando. Isso transformou o evento em algo prazeroso de se ver e que mostra a cidade para o mundo inteiro.

OP - E antes? Como era sua vida?

Morgana - Eu sempre utilizei meu grito para outras formas. Desde dos 12 anos, eu vendia salgado na rua, na faculdade, e eu tinha que ganhar a vida. Eu era vendedora autônoma, era sacoleira. Eu sempre fui muito gasguita em todo canto, só que isso nunca tinha revertido em outras coisas. A minha vida se resume em Morgana antes da Major e a Morgana de depois da Major. Eu fui mãe muito nova, aos 17 anos, eu ainda estava no terceiro ano do ensino médio. E, na época, eu queria uma fonte de renda a mais, e chegou uma loja em Maranguape que era de um casal de amigos de Fortaleza. E eu sempre quis comprar uma roupa lá. Só que para a minha realidade naquela época não dava. Eu nova, mãe e adolescente.

A minha prioridade era cuidar do meu filho. Mas, eu sempre dizia, um dia eu ia entrar na loja para comprar pelo menos uma blusinha. Na época, eu realmente não tinha condições. Eu vendia salgado. Eu consegui bancar um semestre de faculdade só vendendo salgado. A minha vida foi toda assim, de venda e de muito sacrifício. Até que eu consegui uma bolsa e consegui terminar minha faculdade em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, fui bolsista e consegui concluir a minha graduação.

Só que nesse meio período, eu consegui um emprego nessa loja, conseguindo entrar como vendedora. Na época, eu fiquei conciliando faculdade com o emprego e com o meu filho. Um dia, eu precisei pedir as contas porque meu filho adoecia muito, mas, naquele dia, quando eu fui pedir as contas dessa loja que eu tanto sonhava em entrar um dia, na hora que estava pedindo demissão, meu marido liga para mim dizendo que tinha acabado de ser demitido, e eu não pude mais sair.

Eu continuei a trabalhar na loja, e a antiga dona da loja me promoveu como gerente, e nisso eu fiquei trabalhando. Só que um dia, ela chegou para mim e disse que ia vender a loja, e eu pensava se a futura dona iria querer ficar comigo porque eu precisava muito do emprego. Ai ela disse: “Já sei para quem eu vou vender e é para você”. E eu: “Como que vou comprar essa loja se eu não tenho um real para te pagar?”, e ela falou que eu iria pagar como eu sempre fiz, trabalhando. Eu passei quatro anos pagando a loja e agora a loja é oficialmente minha.

OP - Como você vê esse momento de destaque para você e para Maranguape?

Morgana - Eu fico muito feliz de poder mostrar a minha cidade, é o meu maior orgulho, é Maranguape. Eu amo morar aqui, amo ter nascido aqui e ter feito minhas raízes. Eu conheço todas as pessoas daqui. Eu falo com todo mundo. E é uma coisa muito familiar o desfile daqui. Não estou lá de paraquedas, eu conheço aquela tradição como ninguém, eu desfilei desde os 4 anos de idade até a minha maioridade.

A importância da Major para os maranguapenses é muito grande, se antes já era um marco independente de eu estar lá ou não, eu digo que eu sou só a cereja do bolo porque a grandeza do evento em si, ela sempre existiu. Sempre foi um evento grande na cidade, hoje só está sendo mais conhecido o que já existia.

OP - Com toda a repercussão, como você está atualmente e quais os seus planos profissionais e pessoais?

Morgana - Estou em uma crise existencial porque eu estou tentando conciliar as duas coisas: a loja e essa vida de internet. Depois da Major já apareceram muitas coisas, meu celular não para. Se a Major abriu essas portas, eu recebo. Eu tento não me deslumbrar muito com essa questão de internet porque hoje é, amanhã pode não ser mais. Se amanhã Deus disser que acabou, para mim, está ótimo. Volto para o meu comércio, tranquila. E se amanhã ele abrir mil e uma portas, também serão muito bem-vindas. Estou deixando a vida levar.

 

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