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Presos fazem encenação baseada na Paixão de Cristo

Internos buscam, na arte e na religião, encontrar um caminho que os afaste do crime. Conhecido como "ala dos evangélicos", da CPPL IV, encenam um espetáculo sobre perdão e remissão
22:25 | Mar. 21, 2018
Autor Angélica Feitosa
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Tipo Notícia
[FOTO1]No pátio da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV), em Itaitinga, a encenação não precisou de muitos recursos. A um grupo de 300 presos, entre encenadores e plateia, bastava apenas o incentivo. O Projeto da Igreja Missionária Libertos em Cristo pôs esperança nos internos e em suas famílias, na manhã de ontem, com apresentação do espetáculo A Paixão de Cristo e de um coral. Inspirada nos ensinamentos Jesus, a peça usou, de cenário, uma cadeira; um lençol faziam as vezes de figurino. A vontade de mudança era  enredo.

Os 300 internos fazem parte de um área conhecida como “ala dos evangélicos” na unidade prisional. Na cadeira, durante a encenação, a frase Pecado, não mexa mais parecia um convite. Uma das personagens não resistiu e, não só mexeu, como sentou, jogou, brincou com o assento. Outras pessoas passavam por ele, que rogava por ajuda, mas ninguém se movia em seu socorro. Até que um homem, com um livro na mão, foi em sua direção . A obra era a Bíblia e foi apresentada ao homem que brincou com o pecado como forma de salvação. 
 
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Emocionada, a titular da Secretaria da Justiça e Cidadania do Ceará (Sejus), Socorro França, fez parte do público e, disse que a Lei de Execução Penal é clara quando diz que a Justiça tem de respeitar a liberdade religiosa do preso e dar as possibilidades de que eles exerçam a sua fé. “Meu coração se enche de alegria ao ver todos esses garotos trabalhando para se ressocializar”, diz. A CPPL IV possui uma população carcerária de cerca de 1.800. Não há distinção entre os tipos de crime na unidade.

Há quatro anos presente dentro da unidade, a igreja é presidida por um pastor que também fez parte da realidade de presídio. Lúcio Vieira, natural de Salvador, foi de uma quadrilha que se autodenominava Novo Cangaço, de assaltos a bancos. Preso em Minas Gerais, ele conseguiu escapar e conheceu uma cearense, na cidade de Crateús, a 359 quilômetros de Fortaleza. Casou antes de cumprir o restante da pena. “Fui preso quatro vezes. Meus filhos nasceram enquanto eu estava na cadeia. Minha esposa esperou por mim durante oito anos e eu sou muito grato a ela”, diz. 
 
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Coral e rap

A auxiliar de administração Rafaela dos Santos, 27, aguarda, com paciência, que a sentença do esposo Alex da Silva, 31, seja cumprida. O marido foi flagrado em um desmanche de carros há um ano e sete meses. “Ele estava distante de Deus, mas agora está voltando. Este é um momento em que ele precisa muito do meu apoio, do meu incentivo e eu não vou ficar longe dele”. 

Antes de ser preso, Carlos Eduardo Xavier, 27, trabalhava como motoboy. A participação em um assalto, há seis meses, mudou completamente a vida dele. Agora, enquanto  aguarda julgamento, ele tenta se engajar nas orações, louvores e ensinamentos da igreja. “Faz bem para a minha alma”.

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