Praia do Cumbuco sofre com erosão e lixo após instalação de estruturas de drenagem
Intervenções abrigam sistemas responsáveis por drenar água da chuva absorvida pelas dunas do Cumbuco que, anteriormente, se espalhava pela superfície das vias. Comerciantes, profissionais de kitesurf e frequentadores do local alegam sujeira e insegurança após estruturas instaladas no local
Quem transita pela orla da Praia do Cumbuco, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), observa, atualmente, algumas características que fogem do cenário da praia. Cerca de 11 estruturas de concreto que formam as galerias pluviais ao longo da faixa de areia e pavimentos circulares — rotundas Construção circular que termina em cúpula arredondada. — com piso intertravado, que interligam as vias da região à faixa de areia, estão aumentando erosão e acúmulo de lixo no local.
As intervenções, conforme a Prefeitura de Caucaia, foram sendo instaladas há cerca de 15 anos pelas Secretaria de Turismo do Estado do Ceará, pela Secretaria de Infraestrutura de Caucaia e pela Superintendência de Obras Públicas (SOP).
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O intuito delas, segundo a gestão municipal, é drenar a água da chuva absorvida pelas dunas do Cumbuco que, anteriormente, escorria pela superfície das vias, formando canais a céu aberto, danificando o pavimento da Vila do Cumbuco e dificultando o acesso às residências.
No entanto, comerciantes, profissionais de kitesurf e frequentadores da orla da praia alegam sujeira e insegurança diante das erosões intensificadas pelas sustentações implantadas na faixa de areia.
O POVO visitou o local no início do mês e constatou lixo, peixes mortos e acúmulo de água nas galerias, trechos com alto desnível de areia e sem placas de sinalização, além de resto de concreto próximo às estruturas.
A instrutora de kitesurf Gabriela Rodrigues, 33, que atua na orla da praia e trabalha em uma loja de kite dentro de um hotel localizado em frente a uma das galerias pluviais, conta que os hóspedes sempre questionam se a água nas estruturas são de esgoto e ficam com receio de entrar no mar.
“A gente explica que é água da chuva, mas sempre vem sujeira, como lixo da rua. Não ficou legal esse negócio de cimento na frente. Fizeram ainda essa rotatória de cimento e agora está, assim, cheio de buracos e morros de areia”, reclama.
“Têm meses que está assim, e eles não observaram três elementos principais da praia: o vento, a areia e o mar. Se correr a orla, toda rua tem a tal dessa rotunda. Ali tem quatro metros de concreto no chão”, conta o proprietário de um estabelecimento local, Maicon Sanders. Ele ainda afirma que a instalação dessas estruturas auxilia também na presença de veículos próximo à faixa de areia, o que é proibido e considerado crime.
De acordo com o Departamento de Trânsito do Ceará (Detran/CE), o Estado tem 275 pontos de praia nos quais é proibida a circulação de veículos, sendo 140 no litoral Leste e 135 no Oeste. A prática pode levar à multa de R$ 130,16 e quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A Prefeitura de Caucaia informou que o limite de veículos é “denotado” pelas estruturas com piso intertravado.
“Vedado o trânsito na faixa de areia. Para isso, a Autarquia Municipal de Trânsito (AMT) realiza ações periódicas de fiscalização tanto na faixa da orla quanto nas Dunas do Cumbuco, e está em fase final de um novo projeto de sinalização que contemplará toda a Vila”, disse a gestão municipal, em nota, ao O POVO no dia 10 de julho. O prazo para finalização das ações não foi informado.
Ainda segundo a Prefeitura, a água presente nas galerias pluviais após o período chuvoso no Estado, que ocorre entre os meses de fevereiro a maio, anualmente, “é comum”. “O lençol freático aflora do solo devido ao nível mais alto dos represamentos existentes atrás das dunas”, afirma.
Procurada novamente, nesta segunda-feira, 29, para saber se ocorreu alguma atualização sobre ações da gestão sobre o cenário na orla, a Prefeitura de Caucaia disse que "ainda não houve nenhuma modificação" sobre o cenário das informações do comunicado anterior.
Educação costeira como solução
As estruturas foram instaladas há anos e, atualmente, fazem parte da orla do Cumbuco. Os impactos foram percebidos ao longo dos últimos anos, como relatam frequentadores da praia.
"Se torna perigoso para quem pratica kitesurf e veio piorando após o período de chuva e com os ventos. A erosão está mais violenta. A chuva abriu o canal e os ventos fizeram movimentar cada vez mais as areias, ficou esse cenário agora. A gente achava que a tubulação e areia iriam ficar sem esses declives acentuados”, comenta o instrutor de kitesurf Alberto Almeida, 48.
Conforme o doutor em Oceanografia e professor de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Paulo Henrique Sousa, após o período de chuvas, a praia é reconstruída, e o vento e as ondas do mar vão transportando a areia e vão indo de encontro a essas estruturas. O cenário auxilia à erosão costeira e, consequentemente, modifica a infraestrutura urbana.
“As pessoas costumam ocupar muito perto da água. É preciso levar em consideração essa movimentação de sedimentos, quando isso não é levado em conta, elas mesmo acabam contribuindo para o processo de erosão. No geral, é preciso ter uma educação oceânica para que as pessoas conheçam mais o litoral e os processo que acontecem nele e saibam como lidar com os problemas”, avalia o professor.
A Prefeitura de Caucaia informou que não há previsão para a sinalização, pois isso depende de uma autorização de órgãos federais. A gestão não esclareceu se solicitará a autorização ou quando irá fazer os procedimentos.
Ainda sobre as galerias, o órgão disse que a tubulação de drenagem não tem conexão com o sistema de esgoto da região e que o “Instituto do Meio Ambiente de Caucaia (Imac) realiza laudos semanais que garantem a balneabilidade das águas no Cumbuco”.