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Distribuição de água da operação Carro-Pipa é insuficiente para atender população de Canindé

Segundo a Defesa Civil do município de Canindé, apenas 50 dos 269 pontos de abastecimento recebem água do programa federal
20:00 | Out. 15, 2020
Autor Ismia Kariny
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Ismia Kariny Estagiária O POVO online
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Tipo Notícia

Desde maio, Canindé está sofrendo com a distribuição insuficiente de água para a população. Com o auxílio do programa federal Operação Carro-Pipa, apenas 50 dos 269 pontos de abastecimentos da Cidade foram assistidos. De acordo com a diretora-geral da Defesa Civil de Canindé, Francilene Belém, diversos ofícios foram enviados solicitando ao Exército o aumento no abastecimento de água para o município. Contudo, ainda não houve resposta favorável. Enquanto isso, cerca de 70% da população continua sofrendo com a escassez hídrica.

Em Canindé, os recursos hídricos são distribuídos para cerca de 13.813 pessoas. Mas, por causa da redução da água disponível nas cisternas, que são os pontos abastecidos pelos carros-pipa, apenas 30% da população está sendo assistida. “Todo dia a gente envia ofício, e-mail para o 23ºBC. A gente até já pediu o modo emergencial da Operação Carro-Pipa, que o próprio Exército vem fazer [a entrega da água]. Mas, infelizmente, a resposta que tivemos é que a chance disso acontecer é praticamente zero”, destaca Francilene.

Segundo Francilene, para suprir a demanda de água em Canindé, são necessários 16 carros-pipa. No entanto, apenas oito carros foram contratados para o serviço de abastecimento hídrico da Cidade. Em nota enviada à prefeitura de Canindé, o Exército informou que a solicitação para o modo emergencial da Operação Carro-Pipa, feita pela gestão do município, está em análise. Entretanto, destacou que o serviço de emergência é restrito.

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Dessa forma, no entendimento da diretora da Defesa Civil, não há expectativa para a aprovação da assistência emergencial. “A gente está desde maio com a redução de carro-pipa, se isso pra eles não é válido, então o que é preciso acontecer para que eles venham nos atender? As famílias estão pedindo água e a gente não tem o que fazer”, diz Francilene. Parte dessa dificuldade, segundo ela, se dá pela evasão dos pipeiros, que se sentem desmotivados pela burocracia do Exército.

Defasagem

Entre as queixas relatadas pelos pipeiros, que atuam nas regiões de maior escassez hídrica no Estado, há a questão do valor pago pelo serviço, que leva em consideração a quilometragem rodada. “Nosso salário está defasado, o combustível aumenta direto”, comenta o pipeiro Laudecir Moreira, que atua na região do Canindé. Ele relata que a categoria aguarda o reajuste do valor calculado para o pagamento do serviço. Atualmente, os pipeiros recebem por km rodado com o carro cheio. “O Exército, antes, se preocupava com a água boa. Hoje eles estão se preocupando com a água mais perto, querem economizar”, afirma o pipeiro.

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Ele acrescenta que a categoria ainda tem sofrido maus-tratos e grosserias por parte do 23ºBC. E os equipamentos utilizados, por apresentar problemas, acabam fazendo com que os trabalhadores percam o pagamento de carradas. Esse cenário, de acordo com o presidente do Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece), Everardo Bezerra, é visto em todo sertão. E tem sido motivo da evasão de diversos pipeiros, que passaram a recusar a chamada do Exército para atender as rotas.

Em Quixeramobim, ele estima que seriam necessários cerca de 70 carros-pipas para distribuir água suficiente para a demanda da população. Mas, pelo que tem conhecimento, há apenas 10 pipeiros realizando o serviço para a Cidade. “O que ocorre é que muitas das vezes a prefeitura faz a solicitação para vários distritos, e o Exército vai lá e diminui aquela quantidade de distrito. Ou seja, atende a uma parte da população e a outra parte não é atendida. Eles alegam que é contenção de despesas”, afirma Everardo.

O que diz o Ministério 

Por meio de nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) diz que "não confirma a informação" e distribuição insuficiente de água e informou que a demanda dos municípios cearenses é encaminhada para o Exército Brasileiro, que faz a checagem de campo e otimiza a logística, conforme a demanda confirmada. A contratação é realizada de quatro em quatro meses.

Dados do MDR mostram que, em setembro último, 54 municípios foram atendidos por 363 carros-pipa, resultando em 159.808 pessoas atendidas. Em agosto deste ano, o número de carros-pipa chegava a 392 para a mesma quantidade de cidades e 161.646 pessoas atendidas. Para o mês de outubro de 2020, a expectativa do Ministério é que sejam contratados 391 pipeiros para o atendimento pleno da demanda.

"O MDR ainda informa que aprovou – em agosto de 2020 – o reajuste do índice multiplicador (IM) em 7,34%. O IM é usado para calcular os valores de pagamento pelos serviços de acordo com o volume de água transportado; a distância do manancial até o ponto de abastecimento e a quantidade de viagens realizadas", diz a nota. O reajuste deve ser repassado aos pipeiros na próxima temporada de contratação.

O POVO contatou o Exército Brasileiro sobre os relatos apresentados a respeito de Canindé e Quixeramobim, mas não houve resposta até a publicação desta matéria.

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