Lista aponta 2 mamíferos extintos e 4 provavelmente extintos no Ceará

Onça-pintada, porco do mato, tamanduá bandeira e bicho-preguiça provavelmente estão extintos no Estado

A onça-pintada Matí, de Goiás, conquistou o brasileiro na novela Pantanal (Globo), mostrando ser uma grande atriz nas telonas. Acontece que a atriz até poderia ser cearense, não fosse o fato de as onças-pintadas (Panthera onca) estarem provavelmente extintas no Estado.

É o que revela um levantamento de espécies ameaçadas de extinção no Ceará, promovido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) por meio do programa Cientista Chefe. Além da onça-pintada, estão provavelmente extintas as espécies de queixada/porco-do-mato (Tayassu pecari), tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e bichos preguiça nativos (Bradypus variegatus).

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

Já na categoria de criticamente ameaçados estão quatro espécies: o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), o quati (Nasua nasua), o morcego (da espécie Chiroderma vizottoi) e o esquilo da serra (Guerlinguetus brasiliensis).

Tatu-bola.
Tatu-bola. (Foto: Liana Sena)

O Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Ceará ― que também identificou a anta e o tatu canastra como totalmente extintos entre os séculos XIX e XX ― vem sendo trabalhado há cinco anos. Com coordenação do biólogo Hugo Fernandes, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a primeira fase consistiu em levantar todas as espécies de vertebrados do Estado.

Nisso, 1.200 espécies de vertebrados foram identificadas. Delas, 128 foram mamíferos terrestres.

Ameaças

De acordo com o coordenador, existem duas principais ameaças para os mamíferos na região. Primeiro, a caça, “extremamente intensa nos dias de hoje e ainda mais no passado”. Depois, a perda de habitat, que ocorre por causa de desmatamentos e queimadas, mas também por atropelamentos, poluição sonora e atmosférica, contaminação de solo e outros impactos humanos.

Tamanduá bandeira.
Tamanduá bandeira. (Foto: Hugo Fernandes)

Por causa disso, é possível dizer que o Estado está vivendo uma defaunação, ou seja, a diminuição da riqueza e da biodiversidade de animais em um local. Ainda que seja difícil ver na prática, o cenário prejudica todo o equilíbrio ecossistêmico da região.

Importância do levantamento

A lista de mamíferos ameaçados integrará o Livro Vermelho, um documento técnico científico destinado para políticas públicas a nível estadual. O objetivo é ter dados mais regionalizados para nortear ações de mitigação e evitamento de impactos.

O levantamento pode garantir mais firmeza para licenciamentos de empreendimentos, garantindo que eles não impactem a fauna local. Também ajudará a definir prioridades de investimento econômico para a proteção de determinadas áreas florestais, assim como guiará a ciência em estudos mais certeiros para a preservação das espécies mais ameaçadas.

Cuíca-lanosa, ou mucuraxixica.
Cuíca-lanosa, ou mucuraxixica. (Foto: Castiele Bezerra)

O professor Hugo exemplifica com o caso do esquilo da serra. Pelas pesquisas, a espécie só tem registros na Serra da Aratanha. Nesse caso, talvez seja mais interessante focar recursos para proteger a serra adequadamente e garantir a existência do esquilinho.

Foco é em evitar e mitigar impactos

A primeira fase do Livro Vermelho deve ser entregue ainda no final deste ano. A partir daí, o foco será a mitigação de impactos. Serão anos de muita pesquisa científica e ações políticas para enfim desenhar projetos de reintrodução de fauna.

“O projeto de reintrodução de fauna é bem mais complicado, mas é possível. Mas a refaunação é o último passo de um longo processo”, explica o biólogo. Isso porque é necessário garantir que os animais reintroduzidos tenham a genética da região, a fim de evitar possíveis danos à saúde da fauna já existente.

“É muito difícil agora fazer a reintrodução com a anta e o tatu canastra”, comenta Hugo, já que as espécies foram extintas há muito tempo e, portanto, desconhece-se a genética cearense desses animais.

Em 2023, serão definidas metas e objetivos para a conservação da fauna cearense, de acordo com os resultados apontados pelo Livro Vermelho.

Nesta terça-feira, 12 de abril, às 9 horas, será transmitido ao vivo pelo YouTube da Sema o lançamento da lista vermelha de mamíferos terrestres ameaçados no Ceará.

Além das espécies citadas nesta matéria, serão apresentadas outras 22 espécies com dados insuficientes para categorização na métrica de ameaça e os 68 animais em situação menos preocupante.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

extinção ameaçados de extinção fauna onça-pintada tamanduá-bandeira ceará

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar