Ceará fecha 2021 com 3.299 assassinatos, redução de 18% em relação a 2020

SSPDS creditou marca a ações como investimentos em inteligência e interiorização. Pesquisador diz que redução é importante, mas homicídios seguem em patamar elevado

19:13 | Jan. 04, 2022

Prisões dos chefes de grupos criminosos foram fundamentais para diminuição dos crimes (foto: SSPDS/Reprodução )

O Ceará terminou o ano de 2021 com 3.299 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), a soma de homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. O montante representa uma redução de 18% na comparação com 2020, quando 4.039 assassinatos foram registrados no Estado. Também foi a segunda melhor marca desde 2011, atrás apenas de 2019. Além dos CVLIs, foram registradas 125 mortes por intervenção policial no Estado em 2021.

O balanço foi divulgado nesta terça-feira, 4, pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Em comunicado de imprensa, a pasta afirmou que a redução se deve a ações como valorização dos profissionais de segurança, fortalecimento de ações de inteligência, aquisições de novos equipamentos e interiorização do trabalho especializado. Em 2021, o Governo do Estado investiu cerca de R$ 250 milhões em segurança pública, conforme a SSPDS.

A pasta citou a ampliação e interiorização das bases do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e Centrais de Videomonitoramento. “Agora, além da Capital, o CPRaio tem atuação em 13 bases na Região Metropolitana de Fortaleza e 38 no Interior. Para 2022, ainda estão previstas as entregas de outras 17 bases do CPRaio”.

Também foi destacada a entrega de ferramentas tecnológicas, a exemplo do Sistema Agilis, que integra diversos bancos de dados e interage com o sistema de videomonitoramento, permitindo a identificação de veículos que tenham sido utilizados em crimes ou que tenham ligação com suspeitos. A Secretaria também citou o sistema de Registro de Operações Táticas e Ações de Segurança (Rotas), “que aprimora o gerenciamento do emprego de viaturas nas ruas do Estado, otimizando a utilização dos veículos e o atendimento de ocorrências”.

Através da assessoria, o secretário Sandro Caron ressaltou o aumento das ações ostensivas, mas também das investigações e prisões qualificadas. Caron também voltou a destacar que o ano registrou uma apreensão recorde de cocaína (2,3 toneladas até 15 de dezembro) e um aumento “significativo” no número de prisões (mais de 30 mil). “Tivemos em 2021, o segundo menor número de mortes violentas (desde 2011) e isso mostra que estamos no caminho certo”.

O sociólogo Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da UFC, afirma que o Estado tem colocado como foco, já há alguns anos, a redução no número de homicídio e que o “inegável” investimento já feito exerce um efeito sobre os indicadores de criminalidade.

Entretanto, o pesquisador ressalta haver uma dinâmica criminal — atuante em todo o Estado, mas, sobretudo, em algumas cidades e em suas periferias — que tem sustentado os números de homicídios em um patamar muito alto e que ainda não foi erradicada. “A redução foi importante, mas ainda há um patamar muito elevado e é preciso que não só o trabalho do Governo do Estado continue sendo feito como também de outras instâncias”.

Ele cita como exemplo o “grave problema” da responsabilização dos homicídios, que necessita também de uma atuação do sistema de Justiça. “Essa morosidade, essa dificuldade do sistema de Justiça em responsabilizar autores de homicídios tem gerado um sentimento de impunidade e há hoje uma série de estratégias dos grupos que fazem o crime no Ceará em, mesmo, digamos, manobrar esse sistema”.

Paiva ainda cita que, para além do confronto entre facções, outras dinâmicas criminais merecem atenção quando se fala de homicídios, como a violência contra mulher e crimes interpessoais.