Incêndios e fechamentos de bancas do Jogo do Bicho teriam relação com valores de premiações

No mês passado, uma agência e uma banca da Loteria Popular/Paratodos foram incendiadas no Centro de Fortaleza. Na Grande Parangaba, 15 bancas foram fechadas e as máquinas roubadas

Os valores dos prêmios pagos pela Loteria Popular/Paratodos teriam despertado insatisfações de bicheiros concorrentes. Na última quinta-feira, 4, a Justiça autorizou o Jogo do Bicho a funcionar no Ceará.

Na cotação, de acordo com levantamento do O POVO, o jogo do bicho mais antigo do Ceará está pagando R$ 6 mil para quem acertar a milhar. Dois mil reais a mais que a maioria das outras loterias que operam em Fortaleza.

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A mesma estratégia também vale para as outras premiações. Na centena, a Loteria Popular/Paratodos paga R$ 600. Duzentos reais a mais que a concorrência. De acordo com Katarina Landim, advogada da lotérica, foi uma forma encontrada para voltar ao mercado. Antes dominado pela Paratodos e que foi perdido com os processos judiciais gerados a partir da Operação Arca de Noé, deflagrada pela Polícia Federal em 2008.

Fachada do Prédio da Paratodos na Tristão Gonçalves.
Fachada do Prédio da Paratodos na Tristão Gonçalves. (Foto: FABIO LIMA)

“Estamos funcionando legalmente desde junho de 2020 por força de uma liminar da Justiça. E agora, com a decisão do mérito da questão, mais autorizados ainda. A premiação honesta é uma forma de reinserção no mercado. Não vejo problema se honramos com os apostadores”, afirma Katarina Landim.

A advogada admite que os sócios da Loteria Popular/Paratodos já foram constrangidos ou ameaçados por causa da premiação diferenciada. Porém, Katarina Landim não arrisca dizer que a motivação dos incêndios e fechamentos de banca no Centro e na Grande Parangaba estejam ligados a isso.

“A Polícia Civil está investigando, não é nosso papel. Quero reforçar que estamos trabalhando dentro da lei. Quando voltamos a operar, a primeira coisa que fizemos foi procurar o respaldo da Justiça”, afirma Katarina Landim.

No mês passado, uma agência e uma banca da Loteria Popular/Paratodos foram incendiadas no Centro de Fortaleza. Na Grande Parangaba, segundo Katarina Landim, 15 bancas foram fechadas e as máquinas roubadas. “Fizemos o Boletins de Ocorrência no 34º Distrito Policial (Centro) e 5º DP (Parangaba)”, revela a advogada.

Além disso, na Grande Barra do Ceará, também ocorreram ações criminosas. De acordo com um bicheiro ouvido pelo O POVO, pelo menos 150 bancas de uma única loteria teriam sido fechadas na marra por homens que chegavam sempre em motos e se dizendo faccionados do Comando Vermelho (CV).

As máquinas foram “roubadas” e os cambistas ameaçados. Por questão de segurança, e a pedido do proprietário da banca, não divulgaremos o nome da loteria invadida. “Na verdade, a polícia tem de investigar qual bicheiro está por trás dos incêndios. A facção aqui é cortina de fumaça ou braço armado para tocar o terror onde eles dizem dominar os territórios. Às vezes, há até policiais envolvidos nessas ameaças”, provoca uma fonte ligada à Secretaria da Segurança Pública.

O POVO enviou perguntas para o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, que não respondeu especificamente aos questionamentos. Por meio da assessoria de imprensa, informou que a Polícia Civil “investiga toda infração penal que tem conhecimento”. E que “detalhes de investigações em andamento não são divulgados”.

Na mesma linha foi a resposta do superintendente da Polícia Federal no Ceará, Rodrigo Pellim. “Informamos que o fato noticiado, em tese (jogo do bicho), é de atribuição das forças policiais estaduais. Com relação a facções criminosas, a PF atua fortemente nessa área, em conjunto com outras forças de segurança, mas não comenta eventuais investigações em andamento”. 

 Banco ficou fechado por 12 anos após operação da Polícia Federal

O prédio do Banco Paratodos, situado na avenida Tristão Gonçalves, número 123, no Centro de Fortaleza, passou 12 anos fechado. Em 2008, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Arca de Noé, a Justiça Federal tornou indisponíveis vários bens dos bicheiros do Ceará.

O prédio de cinco andares ficou por um tempo abandonado, quase foi levado a leilão e, por último, o Tribunal Regional do Trabalho utilizou o estacionamento e o almoxarifado. Em junho deste ano, foi reaberto depois de uma liminar assinada pelo juiz Francisco das Chagas Barreto Alves, da 2ª Vara da Fazenda Pública do Ceará.

De acordo com Katarina Landim, advogada do grupo, em 2010 “foi julgado um processo improcedente e o único crime que foi reconhecido foi a contravenção penal”. O caso acabou sendo transferido para a Justiça Federal para a competência da Estadual. Ainda há processo.

Na época da Operação Arca de Noé, os bicheiros da Paratodos foram acusados por prática de sonegação fiscal, crimes contra a ordem financeira, corrupção ativa e passiva envolvendo policiais civis, tráfico de influência, posse ilegal de armas, exercício ilegal de segurança privada e contravenção penal.

Em 2008, a Justiça Federal autorizou o pedido de prisão para 13 envolvidos, além do cumprimento de 21 mandados de busca e apreensão. Além dos bicheiros, também foram alvos policiais civis e militares. 

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