Policiais militares escoltavam cargas de drogas e alertavam traficantes sobre as operações

A omissão ou atuação dos policiais militares sustentava os crimes dos traficantes. Oito suspeitos de participação no esquema ainda estão soltos

Policiais militares investigados na 3ª fase da "Operação Gênesis", deflagrada na manhã desta quinta-feira, 27, davam suporte aos traficantes para que realizassem livremente o tráfico de drogas e de armas.  É o que aponta o Ministério Público do Ceará (MPCE). Ao todo, foram expedidos 21 mandados de prisão preventiva contra integrantes de facções, sendo que oito deles já estavam presos, e cinco contra agentes da segurança de Fortaleza e de Caucaia. Oito suspeitos de tráfico ainda estão soltos.

De acordo com o promotor de Justiça Adriano Saraiva, que integra o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO) do MPCE, nas duas primeiras fases da operação, foi descoberto um consórcio entre policiais civis, militares e traficantes, que se reuniam com a finalidade de extorquir outros traficantes. Já nesta terceira fase, a investigação identificou que as as ações dos suspeitos estavam mais organizadas, e os policiais operavam dando suporte aos traficantes. 

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"Eles davam todo o tipo de suporte para que esses traficantes realizassem livremente o tráfico de drogas e de armas sem serem abordados pela Polícia. Muitas vezes, eles faziam a escolta da droga para os traficantes e passavam informações de eventuais operações que a Polícia fosse fazer no Bom Jardim e nas adjacências", explica Adriano Saraiva.

A primeira e a segunda fase da "Operação Gênesis" foram deflagradas, respectivamente, em setembro e em outubro de 2020. Na época, os policiais, junto com outros traficantes, escolhiam os alvos baseados nos antecedentes criminais e no poder aquisitivo deles e simulavam uma compra de droga ou de arma com um dos traficantes. Tudo era previamente combinado, e os policiais chegavam ao local onde o traficante estaria simulando a compra,"para dar ares de legalidade à abordagem".

O criminoso que estava sendo abordado pelos policiais e pelo comparsa traficante era preso e, no momento daquela prisão, os policiais, juntamente com os outros traficantes, extorquiam esse alvo. Após a liberação do dinheiro da propina, tanto os traficantes quanto os policiais da organização criminosa revendiam os bens apreendidos e dividiam o dinheiro. Somente na segunda fase da operação, a investigação aponta que foram movimentados R$ 2 milhões em um período de sete meses. 

Agora, as ações estavam mais estruturadas, e o modus operandi da organização criminosa era diferente. Nessa fase, a função dos policiais era dar proteção a esses traficantes, visto que já existia uma organização criminosa própria com suas lideranças. Essa organização tinha um vínculo com uma facção de atuação nacional e internacional.

O promotor acrescenta ainda que um dos policiais, que exercia uma certa influência sobre os outros, emprestava dinheiro para que o traficante líder da organização criminosa comprasse a droga para ser vendida no bairro. A lavagem de dinheiro desse líder era feita em um posto de gasolina. "Pedimos o sequestro do posto de gasolina onde era lavado o dinheiro e o bloqueio das contas bancárias", acrescenta o promotor. 

O homem apontado como líder da organização criminosa já estava preso há mais de dois anos. Ele mantinha o esquema de lavagem por meio de laranjas. Segundo o MPCE, a investigação começou no fim do ano de 2016.

A 3ª fase da "Operação Gênesis" contou com o apoio da Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (COPOL), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (SAP).

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