Mães fazem campanha nacional por justiça aos filhos mortos pelo Estado

Familiares buscam justiça pela morte dos filhos e cobram a garantia de direitos para a juventude pobre e moradora das comunidades, além dos internos do sistema socioeducativo e prisional

Durante o mês de maio, cerca de 14 coletivos de mães de diversos lugares do Brasil realizam a 2ª Campanha Nacional de Mães por Memória e Justiça. A ação é voltada para a luta por justiça pelo assassinato de filhos e filhas, muitas vezes vítimas de agentes do Estado. Neste ano, a campanha adota o tema "No isolamento resistimos, nos nossos enfrentamentos por memória e justiça, garantia de direitos, pão e vacina a todos". Por conta da pandemia, a programação será totalmente virtual.

A violência praticada pela ação policial foi o ponto de partida para a organização de coletivos de mães e familiares de vítimas. Edna Carla Souza Cavalcante, 49, é integrante do Movimento Mães e Familiares do Curió, em Fortaleza. A militância de Dona Edna começou em 11 de novembro de 2015, quando seu filho de 17 anos foi um dos 11 mortos por policiais militares, no episódio que ficou conhecido como "Chacina do Curió”. A partir dali, ela e outros familiares se juntaram para cobrar justiça pelo massacre. "Fomos lutar para que outras mães não viessem a chorar em cima do caixão de seus filhos, mas isso não foi possível: o Estado continuou matando", declarou.

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Ela também integra o movimento "Mães Vítimas Por Violência Policial do Estado do Ceará". Segundo Edna Carla, o apoio entre as mães é muito importante. "A Polícia mata todos os dias. Durante esta pandemia, ela não tem parado de matar! Então, é muito importante que a gente, como mãe que perde os filhos, se una contra a destruição da nossa periferia, dos nossos jovens, pobres e negros", disse.

Em 2016, foi criada a Rede Nacional de Mães e Familiares de Vitimas do Terrorismo do Estado. De lá para cá, já foram realizados encontros de apoio para familiares e busca por justiça em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Goiás. Em maio de 2020, o 5° Encontro no Ceará precisou ser adiado por conta da Covid-19.

Já a pedagoga Alessandra Félix integra o movimento "Vozes do Sistema Socioeducativo e Prisional no Ceará". Ela é mãe do jovem Israel que, aos 20 anos, foi preso. Segundo ela, o coletivo Vozes surgiu com a indignação pela violência policial praticada contra os presos, além da falta de comunicação entre os centros de reclusão e as famílias. "A gente entendeu a importância que era ouvir umas às outras. Primeiro se acolhendo e depois procurando qual eram as alternativas que a gente tinha para tentar mudar aquela realidade. Porque o Estado nos acusa de negligência, mas o Estado também não cumpre o seu papel", opina.

Reivindicações

No evento, uma carta será enviada a autoridades cobrando por ações reparativas, memória, justiça e garantia de direitos para vítimas, para a juventude preta e pobre moradora das comunidades e para internos do sistema socioeducativo e prisional. O documento também cobra alimentação e vacina para todos, diante da calamidade em que vive a maioria dos brasileiros com inflação, desemprego e mais de 400 mil mortes por Covid-19.

Fazem parte da Campanha deste ano coletivos como o Movimento Mães e Familiares do Curió (CE), Mães da Periferia de Vítimas por Violência Policial do Estado do Ceará (CE), Vozes do Sistema Socioeducativo e Prisional (CE), Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência (RJ), Mães de Manguinhos (RJ), Movimento Moleque (RJ), Mães da Maré (RJ), Mães em Luto da Zona Leste (SP), Mães da Baixada (RJ), Núcleo de Mães Vítimas de Violência (RJ), Coletivo Mães do Xingu (PA), Mães de Brumado (BA), Movimentos Mães de Maio do Cerrado (GO) e AMAR (RJ).

Serviço


2ª Campanha Nacional de Mães por Memória e Justiça

A programação pode ser conferida durante todo o mês de maio nas redes sociais:

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