Mulheres relatam aumento da carga de trabalhos domésticos durante a pandemia

As professoras Silvia Maria e Jória Lima compartilharam parte da rotina doméstica durante o home office

Conciliar trabalho doméstico com emprego formal já era uma realidade para grande parte das mulheres. Com a chegada da pandemia, o ambiente doméstico também se transforma em ambiente de trabalho, de lazer e do ócio. Este último, porém, quase inexistente. O POVO conversou com duas mulheres, mães e educadoras da rede estadual que relatam a sobrecarga decorrente da pandemia.

A pedagoga Silvia Maria, de 43 anos, é mãe do Arthur, de 4 anos. Ela trabalha como técnica pedagógica na Secretaria Estadual de Educação (Seduc) de 8h às 17h, e é professora em uma faculdade particular das 18h às 21h. Depois de cumprido o expediente, ela prepara o jantar de Arthur e o coloca para dormir. Arthur e Silvia contam com a ajuda de uma auxiliar para os afazeres domésticos durante o dia.

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Em 2019, antes da pandemia, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as mulheres já tinham uma sobrecarga em relação às atividades domésticas. A taxa de realização de afazeres domésticos no próprio domicílio ou em domicílio de parente foi de 95,5% entre mulheres de 25 a 49 anos em relação aos homens, que representaram 82,3%.

Um dos respiros no dia-a-dia de Sílvia é a creche que o filho frequenta. Ela relata que os gastos também aumentaram para se adaptar ao ambiente virtual de ensino. Em meio a essa rotina, em março de 2021 ela foi infectada pela Covid e internada com 75% do pulmão comprometido. Arthur ficou sob a guarda do pai durante a internação, que, de acordo com Silvia, nunca se mostrou presente durante a criação.

Nesse período de internação, que durou cerca de 15 dias, o pai resolveu reivindicar a guarda da criança. Foi necessário a família e os amigos intervirem, por meio de uma vaquinha virtual, para contratarem uma advogada para resolver o caso e Silvia não perder a guarda da criança.

 

Silvia e Arthur no seu primeiro dia na creche, em 2021
Silvia e Arthur no seu primeiro dia na creche, em 2021 (Foto: Divulgação/pessoal)

Voltar pra rotina habitual após a internação tem sido outra dificuldade, principalmente considerando as sequelas da Covid-19. Silvia relata que não consegue mais segurar o filho no colo sem perder o fôlego, ou andar da sala ao quarto sem sentir desconforto nos pulmões. Durante a recuperação, as sessões de fisioterapia foram acrescentadas à rotina e a volta do filho pra creche será uma atividade a menos para conciliar durante a rotina de trabalho.

"Eu sinto falta do autocuidado"

 

Jória Lima também é mãe e atua como professora de sociologia na rede estadual. Ela convive com o marido, professor da rede municipal e com o filho João Guilherme, de 3 anos, que foi diagnosticado com autismo em março de 2020, no início da pandemia. De lá pra cá, ela vem conciliando o cuidado e acompanhamento do filho, as tarefas domésticas e o ensino. "Eu me sinto mais cobrada pelo sistema educacional por conta dessa nova realidade. Isso unido à realidade de filho pequeno, da socialização primária ser muito importante e eu preciso estar muito presente. Eu sinto falta do autocuidado", desabafa.

 

Desde o diagnostico do filho, Jória aumentou a atenção e o cuidado. Na foto, ela está planejando uma aula enquanto acompanha a criança
Desde o diagnostico do filho, Jória aumentou a atenção e o cuidado. Na foto, ela está planejando uma aula enquanto acompanha a criança (Foto: Divulgação/pessoal)

Atividades domésticas como cozinhar e lavar têm uma expressão feminina de 92,9% no Ceará, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) de 2019. Jória conta que divide as atividades domésticas no dia-a-dia com o marido e recebe a visita de uma faxineira duas vezes por semana, mas mesmo assim, ela ainda continua com a maior carga doméstica.  

Além disso, Jória passou a dar suporte financeiro para alguns membros da família que recorreram a ela. As mulheres também lideram as taxas de realização de tarefas de cuidados entre os parentes, elas representam 36,8% em relação ao cuidado dos moradores do domicílio.

 

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