"Cada paciente é o herói de uma família que lhe espera em casa", diz técnica que toca em UTI

Em entrevista ao O POVO, Ariadna Dominguez acredita que a música é capaz de curar qualquer dor

Em uma tarde incomum, os sons entoados pelos ventiladores mecânicos e alarmes de monitores, foram abafados por um canto de esperança. A técnica de enfermagem, Ariadna Dominguez, resolveu utilizar da música para dar novos sons ao local onde trabalha, ajudando assim, uma paciente que estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A herança deixada pelo seu avô, também da área da saúde, foi que a música pode curar qualquer dor, e que a prática pode ajudar tanto os pacientes que lutam diariamente pela vida, quanto os profissionais de saúde, que estão cansados tanto fisicamente, quanto psicologicamente diante à pandemia causada pela Covid-19.

A técnica de enfermagem, hoje também acadêmica em fisioterapia, relatou que naquela ocasião ainda não tinha tocado para nenhum paciente:
A técnica de enfermagem, hoje também acadêmica em fisioterapia, relatou que naquela ocasião ainda não tinha tocado para nenhum paciente: (Foto: Arquivo Pessoal)

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A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) é um lugar temido por muitas pessoas. Os ruídos das bombas de medição ou qualquer aparelho que ali está presente, representa o medo constante da perda. Quando a enfermeira Mayara Lins ouviu um som diferente do que estava acostumada naquela parte do hospital, ela não pensou duas vezes e registrou o momento. A profissional gravou Ariadna cantando para uma paciente enquanto tocava seu ukelele. O vídeo, que traz uma sensação de acolhimento e paz, logo viralizou na internet.

O POVO - A senhora sempre cantou?

Ariadna Domingues - Eu trabalhei muitos anos como cantora de bandas de forró. Depois passei a cantar somente na igreja. Essa foi a primeira vez que cantei para pacientes, pois por ser ambiente de trabalho é algo completamente diferente do que faço. Perguntei se poderia levar meu ukulele para tocar para minha paciente que estava na UTI, ansiosa e com muito medo de morrer por Covid. Ela estava angustiada e achei que isso pudesse fazê-la se sentir melhor.

O POVO - Seu vídeo cantando para uma paciente fez sucesso nas redes sociais. A senhora sabia que a cena estava sendo registrada?

Ariadna Dominguez - No momento que eu estava cantando não notei que estava sendo gravada, pois eu estava de costas pra porta e de frente para a paciente. Mas já quase no fim da música, a enfermeira Mayara se direcionou para o meu lado e assim notei que ela estava me filmando. 

O POVO - Você lembra dessa paciente? Como eles costumam receber você com essa forma de cuidar?

Ariadna Dominguez - Tanto lembro, como tenho um imenso carinho por ela. Os pacientes que pergunto se eu posso tocar uma música para eles me recebem com tanto carinho, que vocês precisam ver. A maioria deles chora e agradece por eu estar ali e isso é o que mais me deixa feliz.

O POVO - Cantar para os pacientes, além de ajudar na saúde e bem-estar deles, ajuda também os profissionais que trabalham no local?

Ariadna Domingues - Eu costumo dizer que a música é a terapia da alma. Meu avô era médico e dizia que música cura até dor forte, principalmente a música que fala de Deus. Então, eu acho que o que estou fazendo ajuda, e muito, tanto para os pacientes, como para nós profissionais da saúde que estamos cansados fisicamente e psicologicamente diante dessa pandemia que perdura há mais de um ano.

O POVO - No seu local de trabalho, outras pessoas realizam essa prática?

Ariadna Dominguez - O meu local de trabalho é um local de muita correria e de alto risco, é restrito entrada de pessoas de fora, mas de vez em quando escutamos pelo lado de fora do hospital o som de piano e pessoas orando pelas pessoas internadas e louvando a Deus ao redor do hospital. Eu acho isso maravilhoso.

O POVO - Como foi a evolução daquela paciente?

Ariadna Dominguez - Essa paciente na qual aparece no vídeo não precisou ser intubada e rapidamente respondeu ao tratamento de oxigenoterapia e logo recebeu alta da UTI. Também recebi mensagens de parentes de pacientes agradecendo por ter alegrado seu pai ou sua mãe que nem queria mais viver, porque dizia que o que tinha de fazer aqui já tinha sido feito. Para esses pacientes eu toquei, orei, conversei e disse que no dia seguinte eu voltaria para vê-los, e foi o que fiz e faço até hoje. Eu continuo visitando-os quando acaba o meu horário de trabalho.

O POVO - Qual mensagem a senhora gostaria de passar para os pacientes que lutam pela vida, e também para os profissionais que estão trabalhando principalmente nessa pandemia?

Ariadna Dominguez - Para os pacientes que lutam, eu queria dizer que eles, sim, são os guerreiros. Lutam para viver a cada longo dia. Não tenham medo, vocês não estão sozinhos. Nós estamos com vocês e vamos continuar lutando até que recebam suas altas e suas saúde sejam restauradas. Estamos cansados, mas antes do nosso cansaço, temos vocês, que não pediram para estar em um leito de hospital, longe da família, lutando para ter um pouco mais de ar nos pulmões. Eu penso que cada paciente restrito ao leito de hospital é o grande amor e herói ou heroína de uma família que tanto lhe espera em casa. Quanto a todos os meus colegas de profissão que arriscam suas vidas, que estão longe de filhos, esposo, esposa, pai, mãe, eu tenho orgulho de vocês! Somos um exército lutando contra um vírus potente, mas temos um general muito maior, que é Deus. E sigamos sempre com garra, força e fé que vamos vencer e que tudo vai dar certo.

— O POVO Online (@opovoonline) March 26, 2021




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