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Conselho do Parque do Cocó discute proibição de animais domésticos nas trilhas

Tema tem gerado debates e levou usuários da área de proteção a realizarem um abaixo-assinado reivindicando a medida. A ideia é permitir o acesso de gatos e cachorros apenas no entorno do Parque
18:23 | Out. 13, 2020
Autor Gabriela Almeida
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Gabriela Almeida Repórter O POVO
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Tipo Notícia

O conselho gestor do Parque Estadual do Cocó se reúne, nesta quarta-feira, 14, para discutir sobre as novas regras de uso do parque, definidas no Plano de Manejo e que serão colocadas em prática até o fim deste ano. Entre elas, está a proibição de animais domésticos nas trilhas, tema que tem gerado debates e que levou usuários da área de proteção a realizarem um abaixo-assinado reivindicando decisão.

Amparada pela lei, a proibição segue o decreto federal Nº 6.514, que determina medidas de utilização das Unidades de Conservação (UCs) do Brasil. De acordo com a norma, introduzir ou abandonar animais domésticos em áreas silvestres pode trazer problemas para a fauna e por isso deve resultar em punições, como multas e detenções. 

Segundo Artur Bruno, titular da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), o Parque do Cocó existe há cerca de três anos e ganha agora o primeiro Plano de Manejo, que dá "diretriz à gestão do equipamento e que faz todo um zoneamento dele". Conforme o secretário, a proibição de animais domésticos na área florestal do parque já havia sido discutida em outros momentos, mas com o planejamento ela poderá ser oficializada e colocada em prática.

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A determinação, no entanto, não agradou frequentadores como o professor universitário Michel krueger, que tem como rotina levar a sua Vira-lata de 11 anos, batizada carinhosamente de Penélope Charmosa, para passear nas trilhas do Parque do Cocó. Segundo o docente, os cachorros levados para as caminhadas nos espaços internos do parque não são "introduzidos", como proibido por lei, pois ficam de forma apenas passageira nos locais.

"Eles (cães) entram com a gente e vão embora com a gente, não jogam garrafa no chão, não agridem a natureza", aponta o docente. Michel ainda aproveita para enfatizar que Fortaleza tem poucos parques e classifica como "absurdo" a proibição desses espaços de lazer para os animais domésticos.

O professor vai estar na reunião desta quarta, 14, e afirma que buscará ouvir do secretário Artur Bruno. Dependendo do resultado, poderá organizar possíveis manifestações. No instagram, ele integra o movimento Cachorro nas Trilhas do Cocó, que realiza um abaixo-assinado contra a determinação, com mais de 600 assinaturas já registradas.

Em resposta ao que foi apontado pelo docente, o secretário Artur Bruno afirma que apenas as áreas internas do parque serão proibidas para os animais domésticos, sendo todo o espaço externo de uso intensivo livre para que populares continuem passeando com seus pets, como arenas e áreas com gramado.

"O que não será permitido é á área da floresta, onde estão as trilhas, porque existem animais silvestres e essa interação entre animais silvestres e domésticos não é bom para os dois", justifica o titular. Artur ainda afirma que gatos já chegaram a matar aves do local e que o contato das espécimes estressa os bichos nativos.

Riscos do ponto de visto biológico

Hugo Fernandes, biólogo e coordenador do meio biótico do Plano de Manejo da área, confirma o apontamento feito por Artur e reforça os riscos provocados pela presença de um animal doméstico no espaço silvestre. Segundo o especialista, mesmo preso em coleiras e apenas "passeando" os cachorros podem disseminar patógenos (organismos como bactérias) e infectar outros bichos.

"Se ele (animal doméstico) fizer fezes ou xixi ele pode estar disseminando doenças no local. Qualquer tipo de interação entre animais silvestres e domésticos é perigosa e pode estar introduzindo patógenos letais para os animais silvestres", explica o biólogo.

Para justificar afirmação, Hugo destaca que existem pesquisas apontando a existência de "numerosos" patógenos em parques urbanos, provenientes de animais domésticos. Além disso, esses também podem ser infectados, segundo o coordenador, fazendo com que existam riscos para os dois lados.

Fora o perigo da contaminação, existe ainda a possibilidade de predação, como foi levantado anteriormente pelo secretário Artur. De acordo com Hugo, cada gato pode matar em média cerca de quatro aves em um período muito curto de tempo, além do fato de que cachorros podem se soltar das coleiras e correr atrás de outros bichos silvestres.

"(A proibição) É uma medida que visa proteger animais, sejam silvestres e domésticos. Não é irrisório, não é pequeno, é gigante o problema", considera o biólogo, que ainda destaca a determinação como sendo um "plano de excelência visto em parques do Brasil e de fora dele".

Outras mudanças no parque

A determinação que visa proibir a circulação de animais domésticos no parque não é a única que integra o Plano de Manejo, discutido na reunião desta quarta. Segundo apuração do O POVO, outras regras devem passar a valer assim que o planejamento for concluído, sendo elas:

> Todas as segundas-feiras as trilhas serão fechadas para atividades de manutenção.

> Os campos de futebol presentes na área interna serão desativados, para evitar riscos a fauna.

> Atividades de ciclismo nas trilhas, realizadas antes das 13 horas, serão proibidas aos domingos.

> Os portões dos quatro prédios de acesso ao Parque serão liberados às 5h30min e fechados às 17h30min.

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