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Conheça a história de ex-dependentes que abriram clínica de reabilitação

Eles se conheceram em 2001 quando ambos estavam internados em uma clínica de reabilitação
14:41 | Mar. 06, 2020
Autor Júlia Duarte
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Júlia Duarte Estagiária
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Tipo Notícia

Rodrigo e Tauama se conheceram em uma clínica de reabilitação. Ambos jovens e vindo de outro estado, se envolveram com drogas até serem internados na mesma instituição e virarem amigos. Após quase 20 anos de amizade, os dois devolvem o apoio e ajuda que tiveram no passado com o mesmo espaço que os guiaram para fora do vício. Com três unidades funcionando em Aquiraz e Fortaleza, a dupla planeja expandir a Casa Despertar até o fim de abril com uma unidade exclusivamente feminina e outra fora do Estado.

A caminhada não foi fácil, conta Rodrigo Xavier, 40. Hoje, formado em administração, ele lembra como começou com o álcool aos 14 anos e o vício foi evoluindo para outras drogas. Começou a perder aulas, se envolveu em brigas, não se reconhecia mais na própria personalidade. O pai, com carreia militar, conseguiu transferência de Brasília para Fortaleza, mas a mudança não alterou a rotina com as drogas e ele precisou ser internado involuntariamente. Várias vezes. Entre idas e vindas, em 2001, no terceiro dia do tratamento voluntário, encontrou Tauama de Moraes, 44.

Também de Brasília, ele veio para a Capital, seguindo o pais aposentados, que fizeram a vida fora, mas buscavam a calmaria de voltar para a cidade natal. A vida dele, entretanto, tudo aconteceu cedo demais: se envolveu com drogas aos 13 anos, foi pai aos 16. Por um tempo, ele conseguiu, com os novos ares de Fortaleza, levar uma vida normal, mas perdeu aos poucos o controle sobre si. Se internou e, hoje, celebra, 17 anos limpo. Ele comemora também a realização do sonho que construiu com amigo, formado em Psicologia, ele sonhava em ajudar outros a sair da dependência química.

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Considerada uma doença crônica e progressiva, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a recuperação é uma jornada constante e que ainda passa por preconceitos. Mesmo com muito tempo sem recaídas, o medo ainda é real na vida não só dos dois, mas de todos que fazem o tratamento de reabilitação. “Se eu não cuidar, quem vai precisar dessa internação sou eu”, comenta Rodrigo. Como psicólogo, Tauama fala sobre o estigma de que a dependência química é uma falha de caráter, não uma doença.

Essa aproximação com a causa é o que eles apontam como fundamental na abordagem da clínica que saiu do papel em 2012. “Quem está aqui, não é mais um número, é uma pessoa igual a mim, era eu 18 anos atrás”, ressalta Rodrigo. Ao todo, são 60 funcionários e 120 pacientes. A clínica é dividida em três unidade: a Fazenda, para homens e mulheres, em tratamento voluntário; a Camará, exclusivamente para homens com internação involuntária; e a Fortaleza, para o acompanhamento de pessoas que saíram do tratamento e também para palestras e debates com os familiares.

Esse compartilhamento de experiências, uma mistura entre o clínico e o empírico, é fonte de reconhecimento para os pacientes que se tornam funcionários. Jean Pierre, 40, entrou na clínica em 2013 e, após sete anos, assumiu a gerência de uma das unidades. Segundo ele, a dependência vem se espalhando, mas é um assunto velado. “As pessoas ficam com vergonha de falar e de admitir que tem problemas, a doença não escolhe idade”, conta ele.

O lado social também é algo que estava no plano de negócios ainda com a clínica no papel. Além de ser coberto por planos de saúde, a instituição destina vagas com valores reduzidos para quem não pode contribuir. Na sede em Fortaleza, as famílias podem participar gratuitamente de palestras e ações. A gratuidade é, segundo os fundadores, um dever de devolver a ajuda que tiveram e promover a informação a quem deve ter acesso. “ Ainda existe uma lacuna, as pessoas nem sabem que plano de saúde cobre internação”, afirma Rodrigo. “Isso é o propósito da nossa vida, é levar essa mensagem”, acrescenta Tauama.

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