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"A coisa mais revolucionária que nós mulheres podemos fazer é estudar", afirma professora universitária

Mulheres representam 57,2% do total de estudantes de cursos de graduação. Elas são também maioria entre bolsistas da Capes. Entre professores contratados, no entanto, os homens são maioria

O que é Ciência? Quantas professoras você teve? Quantas cientistas você conhece? Foi a partir dessas perguntas que, na manhã desta terça-feira, 11, um auditório repleto de alunas e alunos de escolas do Ensino Médio debateram sobre o pensamento e a ação científica da mulher na sociedade. No auditório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ceará, três especialistas nos campos da ciência, feminismo e semiárido contaram suas histórias e conversaram sobre os desafios enfrentados por mulheres para ser cientistas. O evento foi realizado em alusão ao Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência.

A data, estabelecida em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como finalidade celebrar os feitos de mulheres nessa área e encorajar as gerações mais novas a buscarem a carreira científica. De acordo com o Censo da Educação Superior mais recente, de 2016, as mulheres representam 57,2% do total de estudantes de cursos de graduação.

Elas são também maioria entre bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC): representam 60% do total de beneficiários na pós-graduação e nos programas de formação de professores. Entre professores contratados, no entanto, os homens são maioria. Dos 384.094 docentes da educação superior em exercício, 45,5% são mulheres.

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“O dia 11 de fevereiro é importante para que as meninas possam ter um momento para perceber e refletir sobre a importância do papel das mulheres na sociedade”, avalia a zootecnista Andrea Sousa Lima, especialista em educação do campo e coordenadora de projetos da ONG Esplar. “A partir desse momento de se sentirem importantes e valorizarem o trabalho na Ciência, à medida em que ingressam, a gente tem uma maior inclusão das mulheres nos espaços para além de profissões tradicionalmente ligadas às mulheres”.

Andrea foi uma das cientistas que compôs a roda de conversa e na graduação foi uma entre as 12 jovens na turma de 40 estudantes. “A gente sabe que a sociedade, no seu caráter machista e patriarcal, tem deixado as mulheres fora de diversos espaços de decisão. Esse dia é também importante para perceber isso e procurar como é que a gente desconstrói essas relações”, afirma. Entre os desafios a superar, a zootecnista enfatizou os papeis sociais atribuídos às mulheres e as consequências desse processo. "E eles começam em casa. Desde cedo aquelas que estudam têm de lidar também com atribuições de casa, que são consideradas como ajuda e não como trabalho”. Conforme crescem, ela explica, a violência doméstica, a gravidez na adolescência e as diferenças salariais são outros fatores que podem ser impeditivos.

Laeticia Jalil, professora de sociologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e coordenadora do Núcleo JUREMA - Agroecologia, Feminismos e Ruralidades da UFRPE, faz coro à colega. “As meninas da periferia têm muita dificuldade de ir à faculdade, por exemplo, pela questão básica de iluminação pública. Se você tem que sair da sua casa em um lugar que quando você voltar é escuro, muitas vezes você não vai”, destaca. “A coisa mais revolucionária que nós mulheres podemos fazer é estudar. Quando vocês estiverem com preguiça de estudar, lembrem que muito da autonomia de vocês virá daí.”

A também professora Sônia Guimarães trouxe à tona outro desafio: as questões raciais. “Quantas professoras negras eu tive? Nenhuma. Quando entrei na graduação, eu era a única mulher negra de toda a faculdade”. Ela é a primeira mulher negra brasileira doutora em Física e a primeira mulher negra brasileira a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), tendo ingressado em 1993, quando a instituição ainda não aceitava mulheres como estudantes. Para as meninas da plateia ela deixou um recado: “Vocês chegarão em situações ruins só por serem meninas, mas não desistam - especialmente se for o que realmente querem. Desistir não é uma palavra que está no nosso vocabulário, não vale a pena”.

A fim de que “mais meninas e mulheres entendam que podem estar nesse papel de cientista” no Ceará, a Fiocruz está desenvolvendo um projeto com alunas de três escolas de Ensino Médio do município de Eusébio. “A gente começou hoje com esse debate, teremos mais três encontros sobre temas das mulheres na sociedade e a ideia é, ao final, chegar a um projeto por escola desenvolvido pelas próprias meninas”, conta Luciana Lindenmeyer. “Construindo um projeto, elas estarão entendendo melhor o que o papel científico, o que é a Ciência. Os projetos serão em várias áreas - um deles mais em Humanas e os outros mais na Biológicas. Aí em julho elas voltam para apresentar”, explica.

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