Laboratório acusado de errar testes de HIV em transplantes é apontado em novo erro com gestante
Mulher de 30 anos foi apontada em falso positivo para HIV, em exame feito no dia do parto de sua filha. A criança, nascida prematuramente, acabou sendo obrigada por 28 dias, sem necessidade, a tomar medicações antirretrovirais que impedem que o HIV se espalhe no organismo
A dona de casa Tatiane Andrade, de 30 anos, moradora de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, acusa o laboratório PCS Lab Saleme de, no dia em que foi submetida a cirurgia de parto, ter apresentado seu diagnóstico com um falso positivo para exame de HIV, em setembro de 2023. Por conta do erro, sua filha, ainda recém-nascida, precisou passar 28 dias recebendo tratamento contra o vírus.
O laboratório é o mesmo acusado de cometer erros que levaram pelo menos seis pessoas a contraírem a infecção viral após receberem órgãos infectados. As informações são do portal G1.
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Tatiane conta que teve sua filha em uma maternidade particular. A criança hoje tem 13 meses de idade. No dia do parto, 14 de setembro, ela fez um teste para HIV no local, que foi realizado pelo PCS. Ela conta que teve a filha de forma prematura e, poucas horas depois, recebeu o resultado positivo para o vírus.
A notícia foi dada por um médico e uma psicóloga do hospital, mas profissionais não conseguiram evitar o impacto da informação. "Naquele momento, meu mundo acabou", disse para a reportagem.
Por conta do diagnóstico, a bebê, que nasceu de sete meses, precisou tomar medicações antirretrovirais - que impedem que o HIV se espalhe no organismo. Ela também ficou sem poder ser amamentada pela mãe.
Tatiane chegou a ser medicada para secar o leite e, por achar que contraiu o vírus, sofreu com transtorno de estresse pós-traumático.
Ela disse que, depois disso, buscou o resultado dado no hospital mas não recebeu, pois a maternidade NeoMater, onde o parto foi realizado, e o laboratório transferiam a culpa um para o outro.
Cinco dias após o parto, ela passou por um exame de contraprova na própria maternidade, para verificação do laudo inicial. O reteste foi apontado como "inconclusivo" e ela foi orientada a refazer o exame em outra unidade. Tatiane foi examinada em duas clínicas, em outubro e novembro seguintes, e ambos apontaram o resultado "não reagente para HIV".
Procurada pelo G1, a NeoMater frisou que não pode comentar "em razão do sigilo" e apontou que "a paciente em questão recebeu todos os esclarecimentos devidos durante a permanência na unidade", completando: "Mesmo após a alta mantemos à disposição todos os resultados dos exames realizados e acesso ao prontuário, exatamente por ser direito do paciente".
Já o PCS Lab Saleme destacou que "entre 12/10/23 e 14/01/24, o resultado do exame foi impresso 12 vezes pela equipe da maternidade, conforme registro em sistema", e disse que a responsabilidade de informar os resultados é dos hospitais. Unidade não comentou sobre o falso positivo.
Nesta segunda-feira, Tatiane registrou Boletim de Ocorrência numa delegacia da capital fluminense
Duas pessoas foram presas
O laboratório PCS Lab Saleme é acusado de ser responsável pela infecção de pelo menos seis pessoas com o vírus HIV. Casos aconteceram entre os dias 13 de setembro e 2 de outubro, quando a unidade testou órgãos que seriam transplantados, como rins, fígados e córneas, e divulgou, erradamente, que não havia infecção pelo HIV.
O diagnóstico, no entanto, foi um falso negativo e pacientes que receberam os órgãos acabaram sendo infectados. Nesta segunda-feira, 14, foram presos dois suspeitos de terem falsificado os resultados.
Os presos foram Walter Vieira, médico ginecologista que teria assinado os exames, e Ivanilson Fernandes dos Santos, apontado como um dos responsáveis pelos laudos. O caso está sob investigação da Polícia Civil e Ministério Público do RJ e Polícia Federal.