Jornalista e indigenista desaparecidos na Amazônia: o que se sabe

O jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira estão desaparecidos na Amazônia desde o dia 5; Bolsonaro se pronunciou sobre caso

Na manhã do último domingo, 5, o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram na Amazônia.

Eles se dirigiam até a cidade de Atalaia do Norte, onde realizariam entrevistas com indígenas, que fariam parte do novo livro de Phillips sobre o Vale do Javari, região onde viajavam.  Os dois nunca chegaram ao seu destino. 

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Testemunhas afirmaram que a última vez que os dois foram vistos foi em São Gabriel, já no percurso de barco até Atalaia do Norte, após a parada em São Rafael para que Pereira pudesse conversar com um dos líderes da comunidade, apelidado de “Churrasco”.

Na tarde desta terça-feira, 7, mais de 48h após Dom Phillips e Bruno Pereira serem vistos pela última vez, o presidente da república Jair Bolsonaro se pronunciou sobre as investigações:

"(...) Duas pessoas apenas, em um barco, em uma região daquela, né, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados."

O trabalho realizado pelo jornalista e pelo especialista em povos indígenas documentava as tensões entre os o aumento exponencial de invasões ilegais em demarcações nativas, em especial desde o começo de 2019.

Em fevereiro deste ano, o presidente Bolsonaro assinou um decreto que incentivava a "mineração artesanal" na Amazônia, considerado por ONGs como um incentivo ao garimpo ilegal.

Confira tudo o que já se sabe e o que ainda falta saber sobre o desaparecimento dos dois homens na Floresta Amazônica.

O desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira é considerado preocupante por conta do conhecimento extensivo de Pereira sobre a área.

A falta de comunicação partindo da dupla é inesperada, devido às condições de novo da embarcação na qual viajavam, que contava com ferramentas de comunicação por satélite.

Com o que os dois trabalhavam na Amazônia?

Dom Phillips é jornalista especialista em questões ambientais, e contribui para jornais como The New York Times e The Washington Post com suas reportagens sobre questões referentes à preservação ambiental e à investigação de ações ilegais em reservas indígenas.

O jornalista mora desde 2007 no Brasil, e está baseado em Salvador, onde mora com a esposa, Alessandra.

Ao longo dos 15 anos em solo brasileiro, já viajou para a Amazônia diversas vezes; em 2018, fez o mesmo percurso pelo Vale do Javari com Bruno Pereira para outro trabalho.

Bruno Pereira é indigenista e servidor público ligado à Fundação Nacional do Índio (Funai), da qual estava de licença para levar adiante um projeto de vigilância contra invasores das terras indígenas da Amazônia, atribuído a ele pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Unijava).

Pereira era muito conhecedor da dinâmica entre índios, fiscalizadores e exploradores ilegais, como madeireiros e garimpeiros no Vale do Javari, e constantemente recebia ameaças destes em relação ao seu trabalho.

Por que Phillips e Pereira viajavam pelo Vale do Javari?

Os dois fizeram uma visita à base de vigilância indígena no Lago do Jaburu, onde Phillips pôde realizar entrevistas com os locais para seu novo livro, sobre a vida no Vale.

Depois da visita, Pereira e Phillips se dirigiram a São Rafael, para que o indigenista se reunisse com um líder da comunidade, apelidado de “Churrasco”. A reunião estava marcada, mas ele não compareceu.

Após conversarem com a esposa do indígena, Pereira e Phillips pegaram o barco no qual fizeram a viagem de ida, que era novo, com 40 HP (cavalos) e com 70 litros de gasolina, o suficiente para os trajetos de ida e volta.

Depois, eles se dirigiram à Atalaia do Norte, onde deveriam ter chegado até às 9 horas. Depois de saírem da comunidade, não foram mais vistos.

Como é a área do Vale do Javari?

O Vale do Javari se encontra em uma área remota da floresta, no centro-oeste do estado do Amazonas. O percurso pela área onde Phillips e Pereira foram vistos pela última vez, São Rafael, é considerado como sendo muito perigoso.

A proximidade da fronteira com Peru e a Colômbia é outro agravador do risco das viagens na área. A rota feita pelos dois homens é conhecida por ser rota do tráfico de cocaína na região, e fazer o percurso em grupos pequenos é arriscado e é contraindicado.

Em dezembro do ano passado, Pereira publicou um artigo por meio da WWF-Brasil, no qual declarou: “Trabalho lá há 11 anos e nunca vi uma situação tão difícil. Os indígenas dizem que hoje a quantidade de invasões é comparável à do período anterior à demarcação.”

O que está sendo feito para localizar o jornalista e o indigenista na Amazônia?

O Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas abriu um inquérito para acompanhar as investigações sobre o desaparecimento do jornalista e do indigenista.

O órgão acionou ainda a Marinha do Brasil, a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional e a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari, para auxiliarem na investigação. A Funai também confirmou que está ajudando nas buscas pela área, que é de difícil acesso.

Augusto Aras, o Procurador-Geral de República, e o ministro de Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, realizaram uma reunião em Brasília, na tarde dessa segunda-feira, 6, para esclarecer o procedimento de busca pelos dois desaparecidos.

Quem já se manifestou sobre o caso?

Um dos jornais para os quais Phillips contribui com suas reportagens investigativas, o inglês The Guardian, se manifestou pedindo respostas sobre o paradeiro do jornalista.

A irmã, o cunhado e a esposa do inglês também se manifestaram nas redes sociais, cobrando ações do governo brasileiro para que os dois homens sejam encontrados.

Líderes indígenas como Beto Marubo também fizeram declarações para a mídia; Marubo reiterou a importância do tempo para que Phillips e Pereira sejam encontrados.

“Precisamos de uma missão de busca urgente. Precisamos da polícia, do exército, dos bombeiros, precisamos das forças de defesa civil. Não temos tempo a perder”, afirmou.

Organizações internacionais, como a Human Rights Watch, expressaram sua preocupação com o ocorrido no Vale do Javari. Maria Laura Canineu, diretora do escritório da ONG no Brasil, disse:

“É extremamente importante que as autoridades brasileiras dediquem todos os recursos disponíveis e necessários para a realização imediata das buscas, a fim de garantir, o quanto antes, a segurança dos dois.”

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