Recife está entre as cidades mais ameaçadas do mundo pelo avanço do mar

A capital de Pernambuco é considerada a 16ª cidade mais ameaçada do planeta pelas mudanças climáticas com o aumento do nível do mar, segundo o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU (IPCC)

A aceleração no aumento do nível do mar tem deixado os cientistas em estado de alerta acerca das cidades localizadas na zona costeira do Brasil. No caso da capital de Pernambuco, Recife, que é considerada a 16ª cidade mais ameaçada do planeta pelas mudanças climáticas com o aumento do nível do mar, segundo o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), especialistas intensificam o debate sobre estratégias para mitigar os efeitos desse avanço.

Segundo o professor do Departamento de Oceanografia e vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Moacyr Araújo, a colocação do Recife no ranking não é novidade, mas sim o ritmo com que o mar está se elevando. Mas ele também explica que a cidade, conhecida por ser a Veneza brasileira, "não ficará completamente inundada”. “Nós estamos num determinado ponto em que precisamos, de fato, trabalhar na questão da adaptação a essa nova realidade. Porque o que nós observamos ao longo das décadas, quando você começa a analisar os dados de aumento do nível do mar, de 40 anos atrás até agora, você percebe que quanto mais você se aproxima de 2021, mais rápido o nível do mar está subindo”, explica o docente, em entrevista ao JC.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

O vice-reitor da UFPE, que tratou do tema “O caso do Recife: elevação do nível do mar”, no Fórum Internacional Recife Exchange Netherlands (RXN), realizado de forma remota pela UFPE até esta sexta-feira (15), explica que o que aumenta a vulnerabilidade da capital do Estado é a combinação das suas características geofísicas (maré, vento, correntes, etc) e sua capacidade de reagir a intensidade destes fenômenos. “Recife se localizou e se implantou em uma região de delta. Os rios Capibaribe e o Beberibe se juntam aí e o Recife nasceu nessa região, que é de baixa altitude”, disse Moacyr.

A partir disso, somado aos efeitos das mudanças climáticas que, segundo o relatório do IPCC, já estamos perto de atingir o limite de 1,5°C de aumento da temperatura global, especialistas começam a traçar estratégias de convivência com o avanço do mar. “Nós vamos ter que nos adaptar e conviver com isso da melhor forma possível”, destaca o docente.

Quais seriam as soluções? Uma das primeiras a serem pensadas é a engorda das praias, um processo que não pode ser visto como um resultado único. Em Jaboatão dos Guararapes, foram investidos mais de R$ 41,5 milhões no processo de engorda de 5,8 quilômetros da orla. Medida semelhante tem sido estudada pela Prefeitura do Recife para a Praia de Boa Viagem.

Especialistas ainda apontam para outras medidas, como a proteção dos recifes naturais e das áreas de mangue. Outra ação importante é com relação ao olhar integrado do município com seus rios e canais, que estão relacionados diretamente aos alagamentos da cidade devido aos poucos avanços em termos de infraestrutura.

“Talvez a gente tenha, daqui para o final do século, que conviver com algumas áreas da Região Metropolitana do Recife, que vão ser periodicamente lavadas, quando houver uma alta intensidade do vento empurrando a água, combinado com a maré alta alcançando até três metros de altura, e quando houver a coincidência destes fenômenos pode sim ter algumas regiões de Recife, que vão ficar inundadas”, afirma Moacyr Araújo.

Um observatório que possa abrigar uma rede de pesquisa também poderia ajudar no monitoramento do nível do mar. “Todas essas informações estão dispersas. Nós precisamos de um sistema de monitoramento mais rigoroso. Quanto antes começarmos a ter um registro de confiança, com um sistema de medidas acumuladas, maior será a nossa capacidade de mitigação dos efeitos desse aumento”, sugere o especialista.

Debate internacional

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (Propesqi) e da Diretoria de Relações Internacionais (DRI); os Países Baixos, através da Agência do Patrimônio Cultural; e a ONU Habitat, através do Circuito Urbano 2021, com apoio da Unesco e outros parceiros, promovem até sexta-feira (15), de forma remota, o Fórum Internacional Recife Exchange Netherlands (RXN), com o tema “Águas como patrimônio: visões e estratégias sobre a elevação do nível do mar no Recife e nos Países Baixos”.

“Precisamos convocar e envolver, de forma mais ampla possível, toda a sociedade brasileira e todos os nossos parceiros internacionais com o objetivo de refletir sobre os diferentes conhecimentos através dos saberes científicos e populares para juntos encontrarmos os caminhos mais pertinentes para não permitir que Recife, a capital mais antiga do Brasil, e tantas outras cidades percam significativas partes do seu patrimônio simplesmente embaixo das águas”, explica o professor Roberto Montezuma, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE e coordenador geral do evento

Nesse sentido, o conteúdo das discussões deve subsidiar a reflexão e a concepção de soluções inovadoras, que orientarão ações de cunho prático na condução das políticas públicas no campo do urbanismo, da conservação do patrimônio e da sustentabilidade urbana.

O evento é dividido em duas partes, sendo a primeira em 2021, explorando a cidade do Recife como objeto de estudo frente à temática exposta; e a segunda em 2022, com a investigação de um caso nos Países Baixos. O RXN é parte do projeto contínuo e colaborativo Recife Exchanges, iniciado no ano de 2011, através de um intercâmbio de experiências entre o Recife e os Países Baixos.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

recife capital de pernambuco universidade federal de pernambuco

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar