Ministro da Educação protelou avanço na apuração de fraude em instituição ligada a pastores aliados
Um ofício foi levado à Polícia Federal, após o MEC ter encerrado a investigação de forma favorável ao centro universitário. Evidências estatísticas da fraude foram ignoradas na decisão.O ministro da Educação, Milton Ribeiro, atuou em favor de um instituição de ensino universitário denunciada por fraude no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) 2019. A fraude teria ocorrido no curso de Biomedicina da Unifil, de Londrina, a partir do vazamento da avaliação do ensino superior. As informações são da Folha de S. Paulo.
A investigação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) aponta para indícios de fraude após a coordenadora da graduação ter tido acesso à prova e às respostas dos testes com antecedência. O ministro tratou pessoalmente do caso. De acordo com as informações repassadas pela reportagem, ele recebeu os controladores da instituição e viajou para Londrina no meio do processo.
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AssineInicialmente, Inep havia recebido uma denúncia anônima em 17 de novembro de 2019, uma semana antes do Enade. Conforme a queixa, um aluno afirmou que a coordenadora do curso de Biomedicina da Unifil, Karina Gualtieri, teria vazado questões e o gabarito aos estudantes naquele mês, com o objetivo de obter nota máxima nos indicadores de qualidade de ensino. A denúncia chamou atenção no Inep porque Gualtieri teve acesso ao material com antecedência, pois ela faz parte da comissão que elaborou a avaliação para o governo.
A instituição possui ligação com a Igreja Presbiteriana Central de Londrina, assim como o ministro, que também é pastor presbiteriano. O chanceler da Unifil é o pastor Osni Ferreira, líder dessa igreja; e seu irmão, Eleazar Ferreira, é o reitor. Osni e Eleazar foram recebidos por Ribeiro em seu gabinete em 2 de setembro do ano de 2020. No dia 26 daquele mês, um sábado, Milton Ribeiro viajou à Londrina, sem assessores da pasta, para visitar a Unifil. Ele deu uma aula e concedeu entrevista com elogios à instituição.
Conforme apuração da Folha, que ouviu três pessoas do alto escalão envolvidas com o tema, o ministro teria chegado a ameaçar de demissão lideranças do Inep caso a investigação fosse levada à PF. Em conversas e em reuniões no MEC, de acordo com pessoas envolvidas no caso, o ministro e seu principal assessor foram claros sobre o motivo para impedir a apuração criminal: tratava-se de uma instituição presbiteriana.
Um ofício foi levado à Polícia Federal em fevereiro deste ano, após o MEC ter encerrado a investigação de forma favorável ao centro universitário. Evidências estatísticas da fraude foram ignoradas na decisão.
Técnicos do Inep então compararam o desempenho da Unifil com a média dos cursos de Biomedicina do País e também com os de nota máxima. Concluiu-se que era estatisticamente impossível que a Unifil conseguisse o resultado alcançado. "Em face aos resultados das análises estatísticas, considera-se que há indícios de vazamento de gabarito das questões do Enade 2019, da área de avaliação Biomedicina", diz o parecer 133 do Inep.
O Enade é um exame realizado por alunos concluintes. O resultado compõe indicadores de qualidade e causa impacta na regulação dos cursos, desempenhos ruins podem provocar o fechamento do curso.
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