"Guardiões de Crivella": Funcionários são pagos para impedir reportagens que critiquem a saúde pública no RJ

Os contratados estariam sendo pagos com recursos públicos para constranger e ameaçar jornalistas e denunciantes para impedir matérias negativas sobre a saúde no Rio

Capangas estão sendo contratados para constranger e ameaçar jornalistas na frente de unidades de saúde do município do Rio de Janeiro. Os contratados são pagos com recursos da própria prefeitura e tem a função de impedir que qualquer matéria jornalística seja produzida nas imediações dos hospitais, postos e unidades de saúde da cidade.

O esquema foi revelado por um ex-capanga ao jornal RJ2, da rede Globo, após jornalistas do programa terem tido reportagens frustradas pela atuação dos “Guardiões de Crivella”, como ficaram conhecidos, em virtude do esquema ser coordenado pelo próprio prefeito, Marcelo Crivella.

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A atuação do grupo era montada por meio de grupos no WhatsApp, possuindo escalas diárias e rodízio de horários e locais de atuação. Os envolvidos deveriam ainda enviar ao grupo relatórios de cada uma de suas ações e feitos, em especial, quando conseguissem impedir a gravação de alguma matéria de qualquer jornal.

O envio de selfies comprovando estarem nos locais designados era uma das exigências para os serviço. Durante suas atuações, os “guardiões” tentavam não só intimidar os jornalistas como possíveis fontes de informações, afirmavam que as denúncias e/ou críticas eram mentiras ou que a informação não deveria ser veiculada daquela forma. Por vezes os capangas entoavam ainda gritos de “Bolsonaro”, “Mito”, a fim de tornar a captação do áudio para as reportagens inviável.

Um ex-integrante revelou à rede Globo que o próprio prefeito estava nos grupos e comanda as ações, emitindo elogios como “parabéns” e “muito bem” diante de ações que de fato impediam o trabalho dos jornalistas. Crivella ainda tecia ameaças de demissão quando os “guardiões” falham em seu propósito. “Inaceitável”, conforme revelou a reportagem do RJ2.

Os capangas são contratados pela prefeitura para cargos diversos como assistente, assessor especial, plantonista, secretário do gabinete do prefeito dentre outros e recebem de R$2.500 até R$ 10.500. Os salários, pagos integralmente com recurso da prefeitura, variam de acordo com a dedicação, tempo e intensidade da cooperação com os interesses do Crivella.

O grupo atua há pelo menos 8 meses, conforme revelou um dos envolvidos ao RJ2, mas a apuração aponta que o esquema de tentativas de censurar e inviabilizar a produção de matérias que criticam a atual gestão existe pelo menos desde 2018 e que as ações diante das unidades de saúde foram intensificadas durante a pandemia. O número que aparece liderando os ataques à imprensa e cobrando resultados é associado ao prefeito Crivella, e segundo a prefeitura do Rio, já foi usado pelo governante municipal. A prefeitura não negou a existência dos grupos.

Em nota ao RJ2, a entidade destacou que “reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública”. Pois, segundo a prefeitura, “uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde", em uma crítica a uma cobertura local que mencionou que o hospital Albert Schweitzer estava fechado enquanto ele estava operando normalmente.


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