Participamos do

Evangélicos se fantasiam de policiais para internar dependentes químicos à força no DF, denuncia jornal

O grupo está sendo investigado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados do Distrito Federal, que enviou ainda pedido de investigação a dois outros órgãos
06:32 | Ago. 06, 2020
Autor Alan Magno
Foto do autor
Alan Magno Estagiário de jornalismo
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

Um grupo de pastores evangélicos do Distrito Federal (DF) estaria utilizando de repressões físicas e morais para internar à força dependentes químicos em centros de reabilitação religiosos. Durante as abordagens, os pastores vestem uniformes pretos, usam viaturas, distintivos e rádios semelhantes aos de policiais e até mesmo colete a prova de balas, conforme expôs o jornal The Intercept Brasil.

O grupo faz um relato diário de suas atividades por meio de vídeos em um conta no Facebook. As atividades tiveram início ainda em 2011. Nove anos depois, o grupo se torna alvo de investigações diante de possíveis práticas ilícitas. A ação da autodenominada “Patrulha da Paz” está sendo investigada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados do Distrito Federal desde o dia 29 de julho.

As apurações sobre tais atividades tiveram início depois que houve denúncias de coerção em um das abordagens feitas pelos pastores na comunidade do Sol Nascente. Durante essa intervenção, os “agentes”, como se identificam segundo o Intercept, estavam pressionando moralmente com uso de alto falantes, feixes de luzes e pressão psicológica jovens da comunidade para que estes se juntassem aos propósitos religiosos da patrulha. 

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

A Comissão solicitou ainda que tanto o Ministério Público do Distrito Federal, quanto a Secretaria de Segurança Pública abrissem processos de investigação com relação à atuação do grupo. No documento da denúncia na Câmara dos Deputados de Brasília, a Comissão de Direitos Humanos afirma que as denúncias e os fatos narrados pelo próprio grupo nas redes sociais evidenciam “ações de violência e coerção”.

Na justificativa da abertura do processo de investigação ainda consta ser de entendimento geral do órgão que o uso dos adereços e trajes tão similares aos das forças policiais governamentais tem o intuito de confundir e intimidar as pessoas abordadas. Além disso, todos os integrantes da patrulha realizam treinamentos de artes marciais e aprendem técnicas de imobilização e defesa pessoal.

Segundo o Intercept, a Comissão de Direitos Humanos do DF apurou que o grupo estaria realizando ações violentas contra pessoas em situação de rua, constrangendo-as e, em alguns casos, internando à força, em comunidades terapêuticas para tratamento de pessoas que usam drogas. Ações de caridade como distribuição de agasalhos, cobertores ou mesmo comida estariam sendo usadas como forma de evangelizar compulsoriamente. 

VEJA FOTOS

Clique na imagem para abrir a galeria


“TRATAMENTO DIFERENCIADO”

Em entrevista à jornalista Amanda Audi, do Intercept, o pastor Gilmar Bezerra Campos, afirmou que os evangélicos de sua patrulha adotaram as vestimentas paramilitares para fornecer um “tratamento diferenciado” durante as pregações feitas sempre de madrugada.

Ele afirma que busca levar “conforto, segurança e confiança” aos atendidos, Nos vídeos das abordagens, porém, a aceitação de tal “tratamento” não agrada a todos os abordados. Um idoso chegou a chorar após ser acordado pelos pastores em uma abordagem feita no dia 19 de junho e posteriormente divulgada nas redes sociais.

Além das vestimentas, a patrulha detém ainda quatro carros que são usados como viaturas, possuindo inclusive as adaptações no banco de trás para que este seja usado como cela. São três peruas Blazer, da Chevrolet na cor preta e um siena, modelo médio da Fiat, com adesivos dispostos semelhante ao da polícia.

Também fazem parte da “patrulha da paz” três motocicletas. Três viaturas teriam sido compradas com dinheiro próprio, segundo Bezerra, enquanto os demais foram doados por fiéis e colaboradores. Os custos com gasolina e manutenção seriam supridos da mesma forma, conforme explicou o pastor. Ele afirma ainda que suas contas pessoais são pagas pela esposa, manicure, já que seu tempo é dedicado integralmente à patrulha.

OS PATRULHADORES

Ao todo participam ativamente das rondas de patrulhamento cerca de 40 pessoas que se revezam em escala de plantão. Mas conforme apurou o Intercept, são aproximadamente 103 membros na “patrulha da paz” que é associada à Igreja Assembleia de Deus do Guará. Todos são voluntários, segundo o líder do grupo.

Diante da repercussão do caso, da denúncia e da investigação iniciada contra o grupo, o pastor Bezerra tem usado as redes sociais do grupo para justificar o ato da célula evangélica e rebater as acusações. Em um dos vídeos ele chega a justificar que dois líderes das abordagens às pessoas em situação de rua seriam assistentes sociais.

Segundo ele, a denúncia de violência e coerção é “totalmente infundada e caluniosa”, como afirmou em vídeo divulgado nas redes sociais esta semana. Ele chegou a registrar um Boletim de Ocorrência por acusação falsa e afirmou que irá trabalhar duro ao lado da comunidade para enfrentar as “tentativas de desmoralização da bondosa e justa obra de Deus que pregamos”. Ele frisou ainda que trabalhava em conjunto com a Polícia Militar (PM). A PM, por sua vez, não reconheceu a parceria.


Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar