Participamos do

Iza rebate críticas da antropóloga Lilia Schwarcz sobre novo filme de Beyoncé

Lilia Moritz Schwarcz analisou o "Black is King" e afirmou que o projeto da norte-americana "chegou em uma boa hora", mas que "causa estranheza que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas"
13:33 | Ago. 03, 2020
Autor Redação O POVO
Foto do autor
Redação O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

O novo trabalho de Beyoncé, "Black is King", tem repercutido bastante desde o seu lançamento na última sexta-feira, 31. A história, que traz uma exaltação da cultura negra ao recriar a narrativa de "O Rei Leão" vista por um jovem negro, foi recentemente analisada e criticada pela antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz,  autora de livros como"Brasil: uma biografia", "Sobre o autoritarismo brasileiro" e "O espetáculo das raças". O filme de Beyoncé está no catálogo da plataforma Disney+, ainda não disponível no Brasil. 

Em coluna no jornal Folha de S. Paulo, a professora da Universidade de São Paulo (USP) afirmou que o projeto de Beyoncé "chegou em uma boa hora" visto os protestos após o assassinato de George Floyd. Mas, segundo a professora, "causa estranheza que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas".

E continuou. "Nesse contexto politizado e racializado do 'Black Lives Matter', e de movimentos como o 'Decolonize this Place', que não aceitam mais o sentido único e ocidental da história, duvido que jovens se reconheçam no lado didático dessa história de retorno a um mundo encantado e glamorizado, com muito figurino de oncinha e leopardo, brilho e cristal".

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine


Em resposta, a cantora Iza usou seu Instagram para tecer uma crítica ao texto. A cantora repreendeu a chamada para o artigo, no qual apresentava: "Diva pop precisa entender que a luta antirracista não se faz só com pompa, artifício hollywoodiano, brilho e cristal".

"Lilia Schwarcz, meu anjo, quem precisa entender SOU EU. Eu preciso entender que privilégio é esse que te faz pensar que você tem uma autoridade para ensinar uma mulher negra como ela deve, ou não, falar sobre seu povo. Se eu fosse você (valeu Deus) estaria com vergonha agora. Melhore!", escreveu a artista em publicação nos stories de seu Instagram.

Logo após a publicação, outros artistas negros também se posicionaram. Foi o caso da jornalista Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má. "O erro é uma mulher branca acreditar que pode dizer a uma mulher preta como ela pode contar a história e narrar a sua ancestralidade", informou em publicação no Instagram. "Lilia é uma historiadora, pesquisa sobre escravidão, mas está longe de sentir na pele o que é ser uma mulher preta".

Tia Má também respondeu aos seguidores que se incomodaram com a postagem. " O racismo é tão cruel que a primeira coisa que fazem é mandar ler todo artigo! Foi, exatamente, após ler todo texto que achei fundamental me posicionar", informou. No comentário, falou sobre a linguagem do texto que traz, segundo ela, traz "uma coleção de palavras difíceis, para dar aquele distanciamento que academicistas adoram" e ressalta que o que a incomodou, de fato, foi "o corpo do texto mesmo".

 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 

O erro é uma mulher branca acreditar que pode dizer a uma mulher preta como ela pode contar a história e narrar a sua ancestralidade. A branquitude acostumou a ter a negritude como objeto de estudo e segue crendo que pode nos dizer o que falar sobre nossas narrativas e trajetórias. Lilia é uma historiadora, pesquisa sobre escravidão,?mas está longe de sentir na pele o que é ser uma mulher preta. @beyonce do alto da sua realeza no mundo pop nunca deixar de ser negra, mesmo sentada no trono em sua sala de estar. A branquitude segue acreditando que pode nos ensinar a contar nossa própria história. Enquanto todas as pessoas negras se emocionam, se reconhecem e se identificam, a branca aliada diz que #beyonce deixa a desejar! É isso! No final nós por nós e falando por nós! Como diz um provérbio africano: “enquanto os leões não contarem suas próprias histórias, os caçadores seguirão sendo vistos como heróis”... E aqui, quando a gente conta, dramatiza e sonoriza querem apontar o roteiro! Parem! Estamos no comando das nossas narrativas! #povopreto #amor #raizes #ancestralidade #blackisking #bey #beyoncè

Uma publicação compartilhada por Maíra Azevedo (@tiamaoficial) em

Após a enxurrada de críticas, a escritora publicou um pedido de desculpas em seu Instagram. Ela agradeceu aos comentários e sugestões e reafirmou ter gostado do trabalho da norte-americana. "Gostaria de esclarecer que gostei demais do trabalho de Beyoncé. Penso que faz parte da democracia discordar. Faz parte da democracia inclusive apresentar com respeito argumentos discordantes. Já escrevi artigo super elogioso à Beyoncé, nesse mesmo jornal o que só mostra meu respeito pela artista. E por respeitar, me permiti comentar um aspecto e não o vídeo todo", explicou.

 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 

Agradeço a todos os comentários e sugestões. Sempre. Gostaria de esclarecer que gostei demais do trabalho de Beyoncé. Penso que faz parte da democracia discordar. Faz parte da democracia inclusive apresentar com respeito argumentos discordantes. Já escrevi artigo super elogioso à Beyoncé, nesse mesmo jornal o que só mostra meu respeito pela artista. E por respeitar, me permiti comentar um aspecto e não o vídeo todo. Agradeço demais a leitura completa do ensaio. Penso que o título também levou a má compreensão. Dito isso, sei que todo texto pode ter várias interpretações e me desculpo diante das pessoas que ofendi. Não foi minha intenção. Continuamos no diálogo que nos une por aqui.

Uma publicação compartilhada por Lilia Moritz Schwarcz (@liliaschwarcz) em

 

 Assista ao trailer de "Black is King"

 

 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar