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Perfis são criados no Twitter para expor universitários que fraudaram cotas raciais

Cada página funciona expondo alunos de instituições em estados específicos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco
16:19 | Jun. 04, 2020
Autor Gabriela Almeida
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Gabriela Almeida Repórter O POVO
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Tipo Notícia

Estudantes que supostamente fraudaram cotas raciais para entrarem em universidades públicas brasileiras estão sendo expostos em perfis criados no Twitter. Com o nome de “Fraudadores de Cotas”, cada página funciona expondo universitários de instituições em estados específicos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, mostrando fotos de estudantes que se autodeclararam na inscrição do vestibular como pardos, indígenas ou negros, mas que “aparentemente” não corresponderiam às categorias.

Os perfis são alimentados, em sua grande maioria, por meio de denúncias recebidas por seguidores das páginas. Os denunciantes encaminham dados como fotos de redes sociais dos supostos fraudadores e informações acerca da cota em que esses universitários se inscreveram. Dessa maneira, as páginas podem comparar os dados com os perfis desses estudantes, para comprovar as fraudes cometidas. 

De acordo com a cientista social Taiane Alves, mestranda em antropologia da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab/UFC), a vigilância proposta pelos perfis é importante porque funciona como um “instrumento de monitoramento de fraudes das cotas", que precisa ter a prática incentivada e garantida.

Perigos da exposição

Expor supostos casos de fraudes, no entanto, pode ser perigoso. Segundo Taiane, existe uma deficiência na educação brasileira acerca de discussões sobre grupos étnico-raciais que faz com que as pessoas costumem “idealizar” alguns deles. No caso indígena, por exemplo, a cientista aponta que muitos brasileiros ainda imaginam o índio com traços físicos específicos, ligados a amazônia. “Consideram os indígenas apenas pela aparência quando, na verdade, eles se caracterizam pelo pertencimento a terra e a cultura”, pontua.

Essa “idealização” foi o que aconteceu no caso de uma universitária exposta no perfil do Twitter ligado ao estado de Pernambuco. Por ter se autodeclarada indígena para utilizar de uma cota e não “aparentar” ter os traços, ela foi exposta pela página como se tivesse cometido uma fraude. A estudante precisou entrar em contato com o perfil para comprovar que era realmente indígena e que não havia fraudado a cota.

Erros como esse aconteceram em outros perfis de exposição também, contra universitários indígenas e pardos. De acordo com a cientista social Taiane, esses "equívocos" ocorrem pela ausência de debates sobre grupos étnico-raciais no Brasil.  A mestranda volta a enfatizar a extrema importância de existir um serviço de monitoramento das fraudes, mas pontua que é preciso ter cuidado para não acabar "fomentando" o racismo, ao invés de combatê-lo. 

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