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Adolescente é assassinado durante operação policial no Rio de Janeiro, corpo desaparece e família o encontra no IML

Família de João Pedro estava sem notícias dele desde a noite da última segunda-feira, 18, depois de o menino ser baleado em casa e levado por policiais. O caso relatado está gerando uma revolta na rede social e cobrança à Polícia Militar e Civil, além do governador do Rio, Wilson Witzel
13:03 | Mai. 19, 2020
Autor Redação O POVO
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Tipo Notícia

Um adolescente de 14 anos foi morto durante uma operação conjunta das polícias Civil e Federal no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, na noite de segunda, 18. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí instaurou um inquérito para investigar a morte.

Conforme familiares e amigos relataram ao UOL, João Pedro brincava no quintal da casa de um tio quando policiais invadiram o imóvel e o atingiram na barriga. Já a Polícia Civil alega que o adolescente foi atingido durante uma troca de tiros entre bandidos e policiais, sendo socorrido de helicóptero.

Médicos do Corpo de Bombeiros prestaram atendimento, mas ele não resistiu aos ferimentos. O corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) de São Gonçalo. O caso ocorreu na Praia da Luz, em São Gonçalo. De acordo com moradores, a família ficou sem informações sobre o local onde João Pedro foi socorrido. Em entrevista ao UOL, uma tia da vítima e uma amiga da família disseram que João estava brincando com dois primos, quando policiais entraram na casa e acertaram um tiro na barriga do jovem.

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"Ele nem estava saindo de casa por conta dessa pandemia. Aí, o primo passou na casa dele e foi lá buscá-lo para brincar. Eles estavam no quintal da casa. Ele se assustou com o policial, e o policial atirou na barriga dele. Até agora não sabemos de nada. Se ele morreu no local, a caminho do hospital", disse Georgia Matos de Assis, 41, tia de João Pedro.

De acordo com ela, os familiares fizeram buscas durante toda a madrugada. "Rodamos tudo isso aqui, São Gonçalo, Niterói, atrás dele. Até no Rio fomos. Só localizamos no IML aqui de Tribobó [em São Gonçalo]. Um descaso com a vida do menino", lamentou.

"A família está imobilizada, estamos acabados, ele era um menino muito bom, era estudante de um colégio particular. A mãe dele é professora, família da igreja", disse a tia de João Pedro.

Uma amiga da família explicou que o relato foi feito de helicóptero, mas que a família foi impedida de embarcar com João Pedro. "Obrigaram a socorrê-lo até um campo de futebol, onde o helicóptero fez o resgate, mas impediram que os familiares embarcassem junto com ele. A família ficou sem notícias a noite toda e, agora de manhã, localizaram o João no IML", afirmou Érika de Souza.

A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) instaurou inquérito para apurar a morte do adolescente e informou que "foi realizada perícia no local e duas testemunhas prestaram depoimento na delegacia".

Os policiais também foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico. "Outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato", informou a instituição ao jornal.

De acordo ainda com a Polícia Civil, a ação visava o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão contra lideranças do tráfico na região. Durante a ação, supostos seguranças dos traficantes teriam tentado fugir, pulando o muro de uma casa. Segundo os policiais, eles efetuaram disparos e arremessaram granadas na direção dos agentes, que responderam. No local foram apreendidas granadas e uma pistola.

Um dia após a morte do adolescente, moradores relatam que a PF faz uma nova operação na região. Já houve registro de confronto pela manhã desta terça, 19. Dois helicópteros sobrevoam o local. Procurada, a Polícia Federal informou que ação ocorre com apoio do GAM (Grupamento Aero-Móvel) da Polícia Militar em ação contra o tráfico de drogas e armas no Complexo do Salgueiro.

"A ação tinha como objetivo apurar denúncias de que traficantes estariam utilizando uma casa no alto da mata do Complexo como apoio para o tráfico na região", destacou a PF, que informou que o imóvel suspeito foi localizado. Foram apreendidos diversos materiais como armas, drogas, munições, carregadores, roupas camufladas, entre outros, que, segundo a PF, confirmam as denúncias e suspeitas de que o local seria utilizado pelas lideranças do tráfico. Os materiais apreendidos foram levados à Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Segundo o Correio Braziliense, os policiais envolvidos na ação foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico com as balas que atingiram o garoto. “Outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato”, diz, em nota. O texto ainda diz que a operação visava cumprir dois mandados de busca e apreensão contra lideranças de uma facção criminosa e alega que os policiais reagiram para se defender e que no local foram apreendidas granadas e uma pistola.

“Durante a ação, seguranças dos traficantes tentaram fugir pulando o muro de uma casa. Eles dispararam contra os policiais e arremessaram granadas na direção dos agentes”, diz.

Já a Polícia Militar diz que policiais do Batalhão Aeromóvel (GAM) atuaram em apoio aéreo na operação. "Vale ressaltar que a Polícia Militar não foi solicitada para realizar o socorro de pessoas feridas durante a ação", afirma. A reportagem entrou em contato com a PF e aguarda um posicionamento.


 

 O desaparecimento de João Pedro

Um rapaz que se diz primo de João denunciou o caso no Twitter e acusou a polícia de plantar provas contra o garoto. “Gente, pelo amor de Deus, me ajudem [...] Os traficantes entraram na casa e os policiais saíram atirando e atingiram ele na barriga”, afirma.

Ainda segundo as postagens dele, João Pedro foi colocado do helicóptero da corporação e os policiais não deixaram ninguém acompanhar. Os pais dele teriam percorrido vários hospitais do Rio de Janeiro e não tiveram nenhuma notícia até o início da manhã desta terça.

Segundo a Polícia Civil, João Pedro foi socorrido de helicóptero e que médicos do Corpo de Bombeiros prestaram atendimento, mas o garoto não resistiu aos ferimentos. O corpo foi encaminhado para o IML de São Gonçalo.

O caso relatado está gerando uma revolta na rede social e cobrança à Polícia Militar e Civil, além do governador do Rio, Wilson Witzel. Na manhã desta terça-feira, a hashtag #OndeEstaJoaoPedro e o nome João Pedro eram os dois assuntos que lideravam os trending topics do Twitter.

Com Agência Brasil

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