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Novo réptil fóssil brasileiro dá pistas sobre a biodiversidade fóssil na América do Sul

O nome da espécie, Elessaurus gondwanoccidens, é uma homenagem dos pesquisadores à linguagem élfica de Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis

É difícil imaginar, mas bem antes de os dinossauros pisarem na Terra, já existiam animais que são chave para entender a evolução das espécies. E essa compreensão tem relações estreitas com a América do Sul, de acordo com descobertas de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).


Em estudo publicado nessa quarta-feira, 8, na revista científica PLOS ONE, a líder da pesquisa, paleontóloga Tiane de Oliveira, apresenta a descoberta de uma nova espécie de réptil fóssil brasileiro do período Triássico inferior. O réptil foi encontrado na Formação Sanga do Cabral, localizada na Bacia do Paraná, no Rio Grande do Sul. A formação data de 20 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros dinossauros.


Apesar da raridade de fósseis do período, os pesquisadores brasileiros conseguiram desenterrar a parte de uma perna, o começo da cauda e a cintura pélvica de um ser vivo de no máximo um metro. Ele foi nomeado de Elessaurus gondwanoccidens. O nome científico foi inspirado pela língua élfica criada por J.R.R. Tolkien, autor de O senhor dos anéis: Elessar é o nome élfico do personagem Aragorn, ou Passolargo. Já o segundo nome faz referência ao supercontinente do sul da Pangeia, Gondwana, que incluía o que hoje constitui a América do Sul, África, Madagascar, Seicheles, Índia, Oceania, Nova Guiné, Nova Zelândia e Nova Caledônia.

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O reforço do continente de origem é uma tentativa dos pesquisadores alertarem para a diversidade fóssil pouco estudada na América do Sul. Ainda que já existam diversos estudos da área no Brasil, eles ainda são recentes comparados com os europeus, que começaram no século XVII.


Descoberta é rara e ajuda a compreender um animal que confunde paleontólogos


O paleontólogo Felipe Lima Pinheiro, professor na Unipampa e integrante do grupo responsável pela descoberta, explica que é especialmente raro encontrar fósseis do Triássico inferior - início da era Mesozóica, conhecida pelo surgimento e fim dos dinossauros.


Esse espaço de tempo veio logo após uma extinção em massa, da qual apenas seres pequenos conseguiram sobreviver. “Depois de um evento catastrófico como esse, é esperado que as faunas sejam muito mais escassas e menos diversificadas. Por isso que nas rochas dessa idade é tão difícil encontrar fósseis”, afirma Felipe.


Entretanto, além da empolgação de descobrir uma nova espécie, o Elessaurus também se mostrou essencial para os paleontólogos finalmente começarem a entender um ser “esquisitão”. Os tanistrofeídeos podiam ter cinco a seis metros de altura e tinham pescoços muito compridos, proporcionalmente até mais que os braquiossauros - aqueles do começo do filme Jurassic Park.

De acordo com Felipe, os tanistrofeídeos eram tão estranhos que os próprios estudiosos não conseguem compreender como funcionavam. “A melhor resposta que a gente tem para aquele plano corporal é que era um bicho aquático, porque aquele corpo só podia funcionar embaixo da água”, comenta. Entretanto, com a descoberta do Elessaurus, os paleontólogos têm uma nova página do passado para analisar.


Apesar de não ser confirmadamente ancestral dos tanistrofeídeos, o Elessaurus apresenta semelhanças com eles. A partir de agora, tudo indica que os tanistrofeídeos eram animais terrestres que se adaptaram ao ambiente aquático, na contramão da maior parte dos processos evolutivos. “No meio científico, ele [o Elessaurus] é uma peça no quebra cabeça de como e onde surgiram esses animais [tanistrofeídeos]”, comemora o paleontólogo.

“As rochas da Formação Sanga do Cabral são muito interessantes e visadas. Qualquer pesquisa lá tem um impacto relevante, mostra a primeira etapa da diversificação. Se não tivesse essa extinção, não teria a gente.”

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