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Mudança na tomadas de três pinos pode trazer mais riscos à segurança, aponta especialista

Uma nova troca no padrão poderia afetar alguns setores da economia, como o comércio
13:46 | Jun. 24, 2019
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A tomada de três pinos, padrão obrigatório adotado em 2011, passou a ser o novo alvo das reformas do governo Bolsonaro. De acordo com o jornal Valor Econômico, o secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos Alexandre da Costa, afirmou que o modelo é uma “excrescência” e sua revogação impactaria positivamente na produtividade do País.

Costa afirma que isso aconteceria já que a tomada dificulta a entrada de equipamentos importados e aumenta os custos de importação. Ele não defende, entretanto, que um novo padrão despreze o atual, mas que seja feita uma flexibilização para que outros modelos sejam aceitos. “Estamos na reta final [para decidir]. Se fosse fácil, já teríamos decidido", afirmou em entrevista ao jornal.

Carlos Gustavo Castelo Branco, professor de engenharia elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), considera que seria complicado ter os dois padrões simultaneamente. Ele diz que o maior problema seria a possibilidade de emprego recorrente de adaptadores, fonte de grande parte de problemas na rede elétrica, como eventuais incêndios.

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“As pessoas já tiveram que alterar suas tomadas para o padrão atual e podem não querer trocar novamente, adotando os adaptadores, que não possuem certificação em muitos casos”, lamentou. De acordo com a revista Época, a mudança das tomadas de mais de 60 milhões de residências em todo o Brasil geraria o gasto de mais de R$ 1,4 bilhão.

Um novo impacto como esse poderia prejudicar alguns setores da economia, como o comércio, de acordo com Alfredo Pessoa, professor de Economia da UFC. A criação de um novo padrão geraria novos gastos e pode se tornar uma barreira para que o consumidor adquira novos produtos.

Pessoa ressalta que o ideal seria a criação de um padrão internacional para tomadas, desse modo não haveria problemas para importações e exportações. “O ideal seria uma universalização, facilitaria em relação a máquinas utilizadas para medicina, por exemplo”, argumenta.

Entenda o atual padrão

O padrão atual foi adotado “para para dar mais segurança ao consumidor, ao diminuir a possibilidade de choques elétricos, incêndios e mortes”, de acordo com o que afirmou, em 2011, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

O formato com três pinos é utilizado para realizar aterramento de aparelhos que necessitam, como ar-condicionado e refrigeradores, evitando que o consumidor sofra um choque elétrico ao ligar equipamentos que estejam em curto-circuito. Além disso, as tomadas possuem um novo formato em poço, que dificulta um contato acidental do usuário com a corrente elétrica.

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) afirma que a mudança para o padrão atual trouxe mudanças positivas em relação à segurança, e a discussão atual é “contraproducente”. Além do Brasil, o padrão também é usado na África do Sul.

De acordo com a entidade, entre 2000 e 2010, antes da implantação do padrão, a média anual de acidentes fatais provocados por choques elétricos era de 1,5 mil. Em 2018, esse número caiu para 600 ocorrências, uma redução de 60%. A Abinee afirma que a implantação do padrão brasileiro foi tomada para “eliminar a possibilidade de choque elétrico com risco de morte”.

O Ministério da Saúde afirmou, por meio de sua assessoria, que foram registrados 1.403 e 1.464 óbitos em decorrência de exposição a corrente elétrica em 2016 e 2017, respectivamente. A pasta alegou, entretanto, que não há recorte nos dados para acidentes com tomadas.

A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) afirmou que não possui dados em relação a esses acidentes. Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) não respondeu até a publicação desta matéria.

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