Participamos do

O covarde que matou Lampião

Tenente João Bezerra não era considerado referência de coragem ou honestidade e havia sobre ele sérias suspeitas de colaborar com cangaceiros. Comandou o ataque a Angicos quase por acaso
16:13 | Jul. 26, 2018
Autor Érico Firmo
Foto do autor
Érico Firmo Editor e Colunista
Ver perfil do autor
Tipo Notícia
[FOTO1]Ao longo dos 16 anos nos quais foi o principal criminoso dos sertões, Virgolino Ferreira da Silva acumulou muitos inimigos que o combateram com destemor e empenho. Para desgosto de vários deles, Lampião não veio a morrer pelas mãos de ninguém com esses atributos. Foi quase por acaso que o tenente João Bezerra liderou o ataque que matou o grupo de cangaceiros.
[SAIBAMAIS]
Bezerra mão era considerado referência nem de coragem nem de honestidade, conforme afirma o historiador americano Billy Jaynes Chandler no livro Lampião, o rei dos cangaceiros (editora Paz e Terra, 1980). Na verdade, conforme o autor, ele era acusado de colaboração com os cangaceiros.

As circunstâncias, porém, o levaram à posição de comandante da ofensiva que matou Lampião. Em abril de 1938, o bando de cangaceiros havia saqueado o povoado de Girau. Dono de um dos armazéns que foram alvo, Eloy Maurício  possuía a influente família. Valendo-se de contatos eclesiásticos - seu parente José Maurício era bispo - fez a queixa chegar ao Palácio do Catete.

Eliminar semelhante sinal de atraso era ponto de honra para o presidente Getúlio Vargas. Os estados estavam sob governos de interventores nomeados pelo presidente-ditador. E a pressão foi intensa sobre Alagoas. O comandante da campanha contra o cangaço era José Lucena, que esteve à frente do ataque que matou José Ferreira, pai de Lampião, 17 anos antes.

Lucena deu ultimato a Bezerra: tinha 30 dias para dar cabo de Lampião ou sofreria as consequências de sua deslealdade em relação à Polícia, conforme conta Chandler.

O tenente deu sorte. Um aliado de Lampião ouviu de um membro do bando que o cangaceiro estava na região e avisou ao sargento. Que, por sua vez, comunicou ao tenente. A localização exata foi fornecida por Pedro de Cândido, um dos aliados em que Virgolino mais confiava na região, e que foi ameaçado de morte imediata se não cooperasse.

Pegaram o bando de surpresa, na fazenda Angicos, ao nascer do dia. O combate não durou mais de 20 minutos. Lampião morreu com tiro de rifle. Em 3 de agosto de 1938, O POVO trouxe o relato do soldado que matou Maria Bonita, dizendo que a degolou ainda com vida. O corpo foi deixado com pernas abertas e um pedaço de madeira introduzido na vagina. Bezerra saiu ferido.

Espetáculo grotesco

À morte dos cangaceiros seguiu-se rito macabro. Os 11 foram decapitados e as cabeças foram levadas para Piranhas, como troféus. Os corpos sem cabeça foram abandonados e atraíram curiosos. Quando os ossos haviam já sido limpos pelos urubus, foram levados pelas chuvas para o São Francisco.

As cabeças exibidas em Piranhas foram requisitadas pelas autoridades em Maceió. Chegaram já em decomposição avançada. Em exibição na capital alagoana, foi requisitada por vários centros de estudos, inclusive em Berlim. Acabaram indo ao Instituto Nina Rodrigues. Na época, era moda o estudo do tipo físico em busca de alguma predisposição ao crime. Além disso, por muitos anos as cabeças foram atração no museu da instituição. Só em 1969 as cabeças foram enterradas no cemitério de Quintas, numa colina de Salvador.
[FOTO2]
 
Os caminhos de Lampião pelos sertões: 
[VIDEO1] 
 
Linha do tempo: 
[VIDEO2] 
 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente