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Ex-paciente baiana do "Dr. Bumbum" gastou R$ 15 mil com procedimento e relata problemas

Médico foi preso na última quinta-feira (19) acusado de matar uma paciente no Rio de Janeiro
11:51 | Jul. 25, 2018
Autor O POVO
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O sonho do bumbum perfeito foi o que levou uma baiana a percorrer mais de 600 km para aumentar os glúteos com o médico Denis Furtado, que ficou conhecido na internet como “Doutor Bumbum”. O sonho de Maria*, no entanto, se transformou em pesadelo. “Fiquei tão traumatizada que, na época, resolvi não denunciar. A quantidade de pus que saiu do local foi de espantar. Fiquei desesperada”. 

Ela é uma das mulheres que realizaram o procedimento com o Dr. Bumbum, que foi preso na última quinta-feira (19) acusado do homicídio de Lilian Calixto, 46 anos, que também injetou PMMA, um polímero contraindicado, no glúteo. Com a intervenção, hospedagem, passagem, alimentação e transporte, Maria acredita que gastou em torno de R$ 15 mil. 

A baiana conta que conheceu o trabalho do médico através das redes sociais da namorada dele com quem ela tinha contato. “O que me foi dito é que era um procedimento ambulatorial e estético, que não tinha risco algum, que era muito tranquilo. Me disseram também que o produto era 100% aprovado pela Anvisa”, relatou.
 
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A primeira avaliação da quantidade de polímero que seria utilizado no glúteo de Maria foi realizado através do WhatsApp. No aplicativo, o médico identificou que ela precisaria de 300 ml para ficar com o bumbum do jeito que queria. A intervenção foi realizada em Brasília, em agosto de 2017. 

Mansões
“Eu pedi a localização da clínica para fazer o procedimento e quando eu fui, me deparei em um setor de mansões. Achei estranho, mas o motorista do Uber me disse que aquilo era uma prática normal em Brasília. Que os médicos moravam em cima e tinham a clínica no andar de baixo”, lembrou. 

O local, no entanto, não se parecia em nada com uma clínica, de acordo com Maria. “Era uma casa bem grande. Tinha uma recepção, que era uma sala com um sofá, e uma sala que atendia e recebia o pagamento. Eu já fui logo atendida e fiquei bem nervosa porque vi que a estrutura era precária, mas ele e a mãe dele têm um poder de persuasão muito grande. E eu fiquei confiante de que aquilo era muito tranquilo”, disse. Os 300 ml, que foram identificados pelo WhatsApp, se transformaram em 400 ml e, com isso, a conta, que já era de mais de R$ 9 mil, subiu para R$ 11,5 mil.

“É um ambiente duvidoso porque você não via limpeza. Eles não passaram nada antes de aplicar o produto em mim. Fora que eu não tive qualquer suporte quando meu corpo rejeitou o líquido”.

Como ocorreu com outros pacientes, o médico também não forneceu recibo. A conta em que a transferência foi realizada também não era dele. “Era conta de uma pessoa jurídica que ele dizia ser do primo dele. Além do procedimento, eu paguei ônibus, hospedagem, alimentação, deslocamento, fora os medicamentos que tive que usar após o pus que apareceu”. 

A paciente ainda relatou que Denis Furtado a filmou sem autorização e postou no stories - inclusive mostrando seu rosto. “Eu fiquei espantada. Ele mostrou o meu glúteo e a minha calcinha. Mostrou, inclusive o meu rosto e eu pedi que ele não tirasse. Depois, ele disse que tiraria foto do meu antes e depois para me mandar, mas postou no Instagram”.

A todo o momento, o médico argumentava que o procedimento era seguro e que o produto utilizado era legal. Autorizou, inclusive, que Maria retornasse à academia no outro dia e a viajar de ônibus no mesmo dia da intervenção. “Ele disse que a dor seria parecida com um incômodo muscular semelhante ao que a gente tem quando entra na academia. Mesmo com o que ele disse, eu preferi vir no dia seguinte. Vim embora e tomei a medicação que ele receitou corretamente - que foi o relaxante muscular e dois antibióticos”.

Até a saída de Brasília, apesar dos contratempos, o pior ainda não tinha ocorrido. Foi quando ela chegou na Bahia que percebeu que o local do procedimento não estava cicatrizando. “Ficou, primeiro, escorrendo um líquido transparente. Com 15 dias, começou a escorrer meio amarelado, como se fosse pus. Depois ficou mais avermelhado, com sangue”.

A tentativa de contato com a equipe do Dr. Bumbum foi realizada por diversas vezes. “A indicação que me deram foi fazer uma drenagem. Duas clínicas de estética se negaram a mexer porque não sabiam o que era”. 

Com uma tentativa mais forte de resposta do médico, Denis começou a culpar e ameaçar a baiana, afirmando que ela não estava tomando o medicamento de forma correta e que não teria feito repouso - apesar de ter liberado que ela retornasse à academia. “Quando passou mais dois dias com o pus de cor laranja, eu entrei contato e eles me deram o número da enfermeira que trabalhava lá. Ela indicou que eu apertasse bastante, que era um quadro de infecção e que fosse tomar uma benzetacil. Na época eu nem tinha dimensão do perigo. Só ficava chateada porque acreditava que o produto estava saindo junto com o pus”. 

Maria procurou outro médico que receitou anti-inflamatórios. Cerca de um mês depois, ela realizou intervenção para colocar silicone na mama. “Eu tava com medo de dar alterações no resultado e tinha que explicar aquilo para o médico”. 

Após quase um ano da intervenção, Maria perdeu a sensibilidade em parte do glúteo e sente partes “em alto-relevo”. “Você consegue ver a marca e pegar o produto. Foi um trauma tão grande. Não ficou do jeito que eu quis, do jeito que ele falou que ficaria. Ele disse que os buraquinhos da celulite iriam sumir porque o produto iria preencher”, lamentou. 

O médico chegou a indicar que Maria voltasse para realizar a intervenção novamente - dessa vez pela metade do preço. “Eu não tive coragem. Não faria nem se fosse de graça, ele ainda cobrou metade do valor”.

A denúncia não foi realizada. “Cuidar da minha saúde era prioridade”, argumentou Maria. As provas de trocas de mensagens se perderam em um assalto, em que o celular dela foi levado. “Agora que a gente viu o tamanho de tudo isso, estamos tentando pelo menos processar”, disse.

Maria não foi a única baiana que teve problemas com o Dr. Bumbum. “Eu fiz e ela fez também. Eu comecei a ter esse problema e ela teve depois de mim e teve o mesmo problema e ele disse que iria processar a gente, porque a gente queria denegrir (sic) a imagem dele como médico. Ficamos tão traumatizadas que resolvemos não mexer com isso”.

Uma outra baiana fez o mesmo procedimento uma semana depois. Ela não quis falar com a reportagem por acreditar estar “muito exposta”.  À TV Bahia, ela disse que teve que fazer 60 dias de tratamento, teve seu glúteo deformado de um lado e teve que passar por duas reconstruções na região. 
 
Maria é um nome fictício. A baiana preferiu não se identificar e nem que outras informações sobre ela, como a cidade em que reside, fossem divulgadas. 
 
Rede Nordeste 

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