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"Nem da Rocinha" afirma que, se pudesse, votaria em Lula

O ex-traficante aproveita o tempo preso para jogar xadrez, futebol e ler livros, mas lamenta que algumas obras não sejam autorizadas pela direção do presídio
12:33 | Mar. 14, 2018
Autor O POVO
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Tipo Notícia
Nem da Rocinha, como é conhecido Antônio Bonfim Lopes, 41, foi coroado dono da comunidade em 2004, após a morte do então chefe do morro Luciano Barbosa da Silva, o Lulu. Ele cumpre pena na penitenciária de segurança máxima de Porto Velho. Foi condenado a 96 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Ele afirmou, em entrevista, que não vota há mais de uma década, mas afirma que se pudesse, seu voto seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  As informações são da entrevista exclusiva concedida ao El País. 

Para Nem, o ex-presidente fez “muito” por quem mais precisava. Ele relembra que pessoas que trabalhavam para ele pediam para sair do tráfico e ir trabalhar nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sobre o atual presidente Michel Temer (MDB), Nem o considera “golpista”, e questiona a quantidade de “dinheiro que rolou” para comprar o apoio dos deputados e senadores que apoiaram o impeachment”. 
 
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Em relação à Lava Jato, o ex-traficante critica os que a apoiaram no começo, mas hoje criticam a operação. Ele aponta que “quando iam atrás só do PT” todos gostavam. Mas agora que chegou aos outros partidos, “um monte de gente começa a falar ‘pera lá’”. "Nem" diz não acreditar na vitória do candidato Jair Bolsonaro (PSL), pois não acha que os brasileiros vão fazer igual às pessoas nos Estados Unidos que elegeram “um cara como o Trump”. 

Mesmo preso, 'Nem" continua aparecendo nos noticiários. Há um ano, as autoridades do Rio de Janeiro informaram que ele havia se filiado à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). O ex-traficante negou, e perguntou como ele seria batizado pelo PCC se passa 22 horas dentro da cela, e até as conversas com o advogado são gravadas por meio de vídeo. 

Sobre a intervenção federal no Rio, Nem afirma que “não vai dar em nada”. Ele destaca também que os políticos sabem como resolver o problema da violência, mas diz que ao fazer isso eles “sabem que não serão reeleitos”. Complementa ainda que acabar com a violência exige investimento em educação e políticas sociais que não têm retorno na urna a curto prazo, pois é algo para médio prazo. 

Nem afirma que a solução do tráfico, além da educação, está na legalização das drogas. Ele ressalta que apenas com a legalização o poder do traficante irá acabar. Mas ressalta que “não adianta” apenas legalizar, é preciso falar sobre isso nas escolas, falar desde cedo o que é a droga. E reafirma que não adianta dizer que “droga é ruim, não use” porque o jovem “tem curiosidade” sobre o assunto. Outra justificativa apontada por Nem para a legalização é que o Estado pode lucrar com a venda ou cobrança de impostos de um comércio legal. 

Em relação a estar arrependido dos crimes que cometeu, o ex-traficante deixa claro que não se arrepende. E questiona: “que pai não faria o que eu fiz para salvar a própria filha?”. Em 1999, Nem deixou o emprego de supervisor de equipes da empresa de TV a cabo NET e entrou para o mundo do tráfico. A filha Eduarda, então com 9 meses de idade, tinha um caroço do tamanho de um ovo crescendo no pescoço. 

Ele e a mãe da menina precisaram deixar os empregos para peregrinar por hospitais, consultórios e centros de diagnóstico. O problema de saúde da filha se agravou e Antônio adquiriu dívidas médicas que chegaram a R$ 20 mil. Para arcar com os custos, ele precisou pedir dinheiro à “única empresa disposta a dar dinheiro para um desempregado morador de favela: o tráfico de drogas”. Para quitar a dívida, ele começou a trabalhar com Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, chefe do tráfico da Rocinha e uma das principais lideranças da facção criminosa Comando Vermelho (CV). “O que você faria no meu lugar?”, pergunta Nem. 
 
Redação O POVO Online 

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