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Brasil mais dividido do que nunca

A tensão política e social corre o risco de intensificar-se nas próximas semanas
15:56 | Mar. 19, 2016
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Tipo Notícia
Com a presidente Dilma Rousseff ameaçada de impeachment e com Lula investigado na justiça comum por corrupção, o Brasil se encontra, neste sábado, mais dividido do que nunca.
 
O Partido dos Trabalhadores e as organizações sindicais conseguiram na última sexta-feira levar 270.000 pessoas às ruas de todo o país (1,2 milhão, segundo os organizadores) para denunciar as tentativas de "golpe" contra a presidente Dilma.

O próprio Lula, nomeado ministro da Casa Civil na quarta-feira, discursou para uma multidão em São Paulo, com a paixão de seus anos de sindicalista contra o regime militar (1964-85). Para os analistas, a mobilização foi de menor envergadura do que a realizada no domingo passado pela oposição, com três milhões de pessoas exigindo a renúncia da presidente, mas cumpriu os objetivos do governo.

"Até agora, como as outras tentativas de levar as pessoas às ruas contra o impeachment tinham fracassado, se acreditava que os brasileiros apoiavam (o impeachment) ou que tinham uma posição neutra", disse Luis Felipe Miguel, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), citado pela Agência Brasil. "Mas agora se viu que não é assim", acrescentou.

A tensão política e social corre o risco de intensificar-se nas próximas semanas, visto que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está decidido a acelerar o processo de impeachment contra a Dilma, acusada de ter manipulado as contas públicas em 2014, o ano de sua reeleição, e no início de 2015.

A Câmara realizou na sexta-feira sua primeira sessão das 15 previstas para que uma comissão especial recomende abrir ou arquivar um pedido de impeachment. Essa etapa deve ser concluída em aproximadamente 30 dias, de acordo com Cunha.

Um eventual parecer favorável ao impeachment deve ser aprovado por dois terços da Câmara (342 dos 513 deputados) e se o Senado o ratificar, Dilma será afastada de seu cargo por um prazo máximo de 180 dias, à espera de um voto definitivo.
A mobilização de sexta-feira deu um pouco de fôlego a uma esquerda golpeada, mas esse alívio durou pouco.

A multidão da Avenida Paulista ainda não havia dispersado quando Gilmar Mendes decidiu suspender a nomeação de Lula como ministro. Na mesma decisão, Mendes resolveu manter a investigação por suposta ocultação de patrimônio do ex-presidente com o juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida em plenário se mantém ou anula a suspensão para a nomeação. A decisão do Supremo está prevista para o dia 30 de março.

"Moro pode ordenar a prisão (de Lula), mas terá que demonstrar que há mais fatos que a justifique", explicou à AFP Carlos Gonçalves, doutor e professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

"Ele não poderá se basear em supostos crimes, porque esses ainda não foram julgados. Mas pode ser alegado, por exemplo, que (em liberdade) o ex-presidente Lula poderia tentar influenciar na produção de provas do processo", acrescentou.

A crise política do Brasil acompanha uma grave recessão econômica, que reduz o ânimo dos brasileiros a poucos meses dos Jogos Olímpicos, em agosto.
As acusações de corrupção atingem todo a cena política e gera incertezas sobre quem poderá ganhar com a crise.

"Há raiva contra a classe política como um todo e quero crer que se achará uma saída através de uma recomposição dos partidos políticos", disse Gonçalves, que descarta o surgimento de um Donald Trump à brasileira.

"Não há nenhum movimento sério desse tipo, mas nas eleições municipais de 2016 e na presidencial de 2018 prevalecerão as tendências de ideologia mais conservadoras, mais de direita", estima.


AFP

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