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Mente ativa e boa memória

Aprender algo novo na terceira idade e fortalecer as funções executoras por meio de smartphones e notebooks conectados à internet auxiliam na manutenção de funções cognitivas e motoras
17:00 | Mai. 20, 2017
Autor Domitila Andrade
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Domitila Andrade Repórter Esportes
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Tipo Notícia

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O ser humano começa a envelhecer a partir do momento em que nasce, e as perdas neurais são inerentes ao envelhecimento. Há, porém, alguns fatores, como uso continuado de drogas lícitas e ilícitas, traumas e estresse, que podem desencadear processos de severas perdas cognitivas, que é a capacidade que temos de processar as informações que recebemos. “Outro fator é quando não há estímulo externo em trocas sociais e o idoso leva uma vida passiva, sem novos aprendizados. Isso pode levar à atrofia de áreas do cérebro”, detalha a terapeuta ocupacional Lucíola Bonfim.

Conforme a terapeuta, hipocampo (centro de memórias recentes), amígdala cerebral (centro das emoções) e córtex pré-frontal (também ligado à formação de memórias) podem ser afetados e o idoso passa por uma perda progressiva de memória e cognição. Desenvolvendo pesquisas sobre memória há 30 anos, ela diz perceber uma guinada de mudanças com o uso de smartphones.

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“Há 20 anos, o que se ouvia eram os familiares ou os próprios idosos dizendo ‘o senhor não consegue’, ‘o senhor não tem mais idade pra aprender’... E não é mais assim. Hoje, sabemos que ele aprende, sim, mas ao seu tempo, porque o envelhecimento faz com que a velocidade de processamento das informações seja menor. Mas se manter conectado é poder estimular para que essas perdas de velocidade retardem”, explica Lucíola.
Isso acontece porque, ao estar em contato com outras pessoas, ou mesmo se atualizando em sites de pesquisa, ativamos as funções executoras cerebrais e desencadeamos sinapses em zonas de de cognição, memória, foco e atenção: “No momento em que você está digitando, tocando uma tela, mexendo no computador, querendo explorar o mundo, você ativa essas zonas. Além disso, é excelente para a coordenação motora, para o pegar, o tocar. Se, aliado a isso, ele fizer exercícios físicos, será ainda mais positivo”.

Além de “fortalecer os caminhos” dos processos cognitivos, para a neuropsicóloga Amanda Barroso Lima, a tecnologia pode ser aliada de uma estratégia compensatória. “Se o idoso não consegue lembrar o horário do remédio, ele coloca um alarme; se ele tem uma série de afazeres durante o dia, ele pode anotar numa lista com horários e alarmes, por exemplo”, indica.

Para o pedagogo especialista em gerontologia e professor de informática da Universidade Sem Fronteiras (Unisf), Ricardo Temóteo, aprender algo novo e interagir nas redes sociais é uma “ginástica cerebral com exercícios de atenção”: “Depois que ele se vê capaz de aprender, vem a sede de querer se atualizar”.

Mais autonomia

Usuária de smartphones e de notebook há quase cinco anos, a dona de casa Nilza da Silva Lima, 68, coloca na conta da interatividade com a tecnologia a mente ativa e a boa memória. “Os meus médicos me dizem que, pra minha idade, minha memória está muito bem. Sei de cor os oito remédios que tomo, as ordens e a dosagem de cada um. Eles ficam surpresos, porque tem gente que chega no consultório com tudo anotado. Eu digo a eles que é porque eu gosto de ler, assisto filme no YouTube, vejo os sites de notícia”, lista.

Seis anos mais nova que o marido, dona Nilza afirma que a memória dela é muito melhor que a dele e brinca: “Eu sei que é porque eu uso Facebook. Digo sempre a ele: ‘venha para o Face’ (risos). Mas ele não tem muita paciência”. Ela enumera outros ganhos para além da boa memória: “Melhorou a ortografia, deu mais autonomia, e ajuda a pensar sozinha”. “Hoje, por exemplo, sei muito bem em quem voto e por quê. E sei opinar sobre qualquer assunto, porque eu já tenho lido alguma coisa, sempre nos sites confiáveis que minha neta me explicou como acesso, pra não entrar vírus no computador e não ficar lendo notícia falsa”, diz.

Há seis anos fazendo os mais diversos cursos na Unisf, o professor de matemática universitário aposentado Antônio Magalhães conta que ainda teve certa resistência ao começar a mexer em smartphones. “Meus primeiros contatos com computador foram ainda na década de 1970, mas com os celulares só me rendi porque vi a necessidade de me atualizar”, justifica. Passada a resistência, Antônio vê os benefícios da interação. “Hoje vejo que faz com que a memória não fique estagnada, você vai se dinamizando. Nosso cérebro é como uma máquina que vai desligando por falta de uso. A informação que chega rápido pelos celulares liga a máquina de novo”, compara. (Domitila Andrade)

SAIBA MAIS

Pesquisa do Instituto Locomotiva aponta que, nos últimos oito anos, o Brasil ganhou mais de 4 milhões de internautas da terceira idade. Em 2008, eram 364 mil. Em 2016, o País tinha 5,2 milhões de idosos conectados, que movimentam R$ 330 bilhões por ano, o equivalente a 38% do total da renda da população dessa faixa etária. A pesquisa mostra que, para 92% dos idosos internautas, o microcomputador é o principal equipamento de acesso à rede. E 44% preferem o smartphone, enquanto 17% utilizam o tablet e 4%, a TV. Estudo da Universidade de Brasília (UnB) procurou investigar, em 2009, o que mais atraía os idosos na internet, e revelou: aumento das relações sociais por meio das salas de bate-papo; busca de novas amizades; trocas de receitas e outros conteúdos; namoro; momentos de descontração; e melhoria da autoestima.Desenvolvida com alunos de informática para a terceira idade da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Católica (PUC-SP), pesquisa mostra que a tecnologia tem impacto positivo na rotina de idosos e aposentados. Ao aprender a navegar na internet, grande parte dos homens e mulheres com mais de 65 anos se comunica mais com filhos e netos, faz novos amigos e se sente estimulado intelectualmente. Mais de 80% dos entrevistados afirmaram que o computador trouxe mudanças positivas em sua vida e 87% disseram que adquiriram novas habilidade.

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