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?Como você continua igual??: a vida de Rodrygo, joia do Santos

Você tem, teve ou terá 17 anos. De qualquer forma, reflita: como seria a sua vida se, nessa idade, fosse titular do time profissional e a principal esperança da torcida do Santos, um dos maiores clubes do Brasil? Esse é o caso de Rodrygo Goes. O atacante é visto como futuro craque desde os 11 [?]
06:15 | Abr. 08, 2018
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Você tem, teve ou terá 17 anos. De qualquer forma, reflita: como seria a sua vida se, nessa idade, fosse titular do time profissional e a principal esperança da torcida do Santos, um dos maiores clubes do Brasil?

Esse é o caso de Rodrygo Goes. O atacante é visto como futuro craque desde os 11 anos, quando chegou ao Peixe. Cercado de expectativas, ele foi promovido em outubro de 2017. A ascensão não demorou e hoje ele é um dos destaques da equipe dirigida por Jair Ventura.

Todos sabem do que ele é capaz dentro de campo. Mas e fora das quatro linhas? O discurso tradicional de humildade está na ponta da língua da joia. Neste caso, porém, tudo indica que a teoria se traduz na prática. Os relatos sobre o jovem são unânimes: o sucesso não subiu à cabeça.

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Funcionários, companheiros e membros da comissão técnica costumam elogiar a postura do garoto e a sua ?cabeça boa?. Mesmo badalado há anos, Rodrygo nunca apresentou qualquer ato de indisciplina ou ?ataque de estrelismo?. Nem na base e muito menos no profissional nestes sete meses.

?Meus pais falam que acontece um monte de coisa e me perguntam: ?Como você continua igual??. Familiares e amigos dizem que eu continuo o mesmo sempre? Temos que continuar sempre com a humildade, pés no chão. Se eu era assim na base, para que mudar no profissional? As pessoas mais próximas dizem ter orgulho de mim por eu ser o mesmo. Tenho os mesmos amigos dos 9 ou 10 anos, durmo na casa deles e vice-versa. Os de verdade a gente sabe quem são. Sei quem são meus amigos de verdade e sei quem quer estar perto só para se aparecer. Eu sempre seguirei com os que são de verdade?, disse, Rodrygo, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Responsabilidade

Com 17 anos, Rodrygo é a principal fonte de renda de sua família, composta pelo seu pai Eric, a mãe Denise a irmã Ana Julia, um bebê de pouco mais de dois meses. O Menino da Vila recebe salário de três dígitos desde as categorias de base. A quantia aumentou no contrato profissional, assinado em 2017. Sua multa rescisória é de R$ 200 milhões.

Eric foi jogador de futebol e passou por clubes como Ceará e Guarani como lateral-direito. Como esteve em atividade até 2016, no Cuiabá, Denise acompanhou Rodrygo na maioria dos treinamentos e jogos. Hoje, aposentado, o pai vive a rotina do filho. Suas dicas são fundamentais. Algumas delas são a obediência tática e o mantra diário para evitar qualquer deslumbramento. A carreira é curta e dinâmica, então não há tempo a perder.

Ônus e bônus

Antes mesmo de chegar ao elenco principal do Santos, Rodrygo era conhecido. Hoje, tem repercussão nacional. Esse cenário faz com que, aos 17 anos, a rotina seja privada de parte do lazer fora de sua casa.

?Temos que pagar o preço. Não poder ir no shopping com amigos, sair com o pessoal. Poderíamos fazer na base, mas no profissional temos que maneirar. Não é nada que eu sinta falta, o reconhecimento na rua já existia, só aumentou. Vou almoçar e tiram foto comigo? É normal e eu lido tranquilamente?, afirma o atacante.

Rotina antiga de profissional

Pelo conhecimento do pai ex-atleta e o carinho da mãe coruja, Rodrygo tem um dia a dia de jogador profissional há anos. A cobrança por seriedade nos treinamentos, alimentação e horas de sono é antiga.

?Eu só dei continuidade. Ali eu estava me preparando para estar aqui. Fiz as coisas certas para melhorar a cada dia. O pão que eu comia na mesma hora, a vitamina feita pela minha mãe, a alimentação porque precisava de massa? Eu já vinha me focando nessas coisas?, relembra.

Lição de casa

Um dos protagonistas da história de Rodrygo é Luciano Santos, hoje técnico do sub-17 do Peixe, e comandante do atacante desde o sub-11 nas categorias de base. Sempre que pode, o santista faz questão de demonstrar sua gratidão pelo profissional.

E um dos ensinamentos foi a preocupação com o rendimento escolar. Na visão de Luciano, as boas notas refletem em campo. E o discurso que parecia balela se confirmou na prática. A tomada de decisão de um atleta prestes a se formar no Ensino Médio pode ser diferente de quem não pôde estudar.

?Luciano sempre falou que o bom rendimento é reflexo da escola. Eu achava que tinha nada a ver, mas era verdade. E os meninos ruins na escola tomavam decisões erradas, falavam errado com o juiz. Eu bem na escola me faz estar bem no campo, eu escolho bem na hora de dar passe ou chutar. Sei melhor o que fazer em campo?, analisa.

Formatura vem aí

Falando em escola, Rodrygo é aluno do terceiro ano do Ensino Médio de um colégio público em Santos, localizado perto da Vila Belmiro. O jogador de 17 anos precisa conciliar a rotina de treinamentos, viagens e jogos com as aulas e provas. A tarefa não é fácil.

Por motivos óbvios, os professores entendem as dificuldades de Rodrygo e passam trabalhos para casa ou remarcam datas de prova. Prodígio em campo, a joia tem conseguido boas notas.

?Está meio difícil o Ensino Médio por causa das viagens. Eu sempre vou para a escola quando posso para acabar logo. Costumo dizer que não sabemos nosso futuro. Não sei se estarei no Santos, se vou dar certo, então tenho que estudar. Pensava em faculdade, mas acho que não terei tempo para isso?, explica.

Com colegas santistas no ?Terceirão?, Rodrygo precisa conviver com os elogios e também as cornetas dos colegas. Yuri Alberto, centroavante do elenco profissional, é um dos seus companheiros de sala.

?É bem tranquila a relação. Os meninos e meninas são tranquilos, converso normal como quando estava na base. Uns santistas cornetam, depois dão parabéns (risos). São todos meus amigos?, brinca.

E o último ano de escola é sinônimo de formatura, comemoração e em vários casos uma viagem para encerrar o ciclo. No caso de Rodrygo, é mais difícil. Melhor pensar no futebol.

?Seria legal, mas é difícil pensar em viajar na formatura. Depois penso nisso. Meu foco agora está no futebol e nas boas notas?, conclui.

Gazeta Esportiva

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