Como Fortaleza e Cuiabá apresentaram diferentes caminhos de sucesso para se estabelecer na Série A

Os rivais desta segunda à noite possuem modelos de gestão diferentes, mas que estão gerando resultados favoráveis dentro de campo

20:02 | Ago. 30, 2021

Por: Mateus Moura
Fortaleza, de Marcelo Paz, foi o primeiro cearense com vaga na Libertadores (foto: FCO FONTENELE)

O confronto entre Fortaleza e Cuiabá-MT nesta segunda-feira, 30, às 21h30min, na Arena Castelão, pela 18ª rodada da Série A, vai além do futebol. O duelo é, também, o encontro de dois modelos distintos de gestão com resultados positivos para ambos.

O Leão do Pici, atual terceiro colocado do Brasileirão, profissionalizou os setores do clube ao aprovar a remuneração de seus dirigentes, além de qualificar todos os departamentos e realizar uma ampla reforma do centro de treinamento. De acordo com a 12ª edição da Análise Econômico-Financeira dos clubes brasileiros de futebol, desenvolvida pelo Banco Itaú, o Fortaleza foi qualificado como um clube de boa gestão.

"Tem capacidade de entender suas limitações financeiras, o que ajuda na gestão eficiente do caixa, assim, enfrentou a pandemia de forma segura, sem dívidas relevantes, operando dentro do que as receitas permitem. Fechou 2020 com condição acima da média dos clubes brasileiros”, apontou o relatório.

Durante a pandemia, o Tricolor conseguiu lidar com o equilíbrio mesmo perdendo milhões em receitas de bilheteria e sócio-torcedor. Em 2020, teve um déficit na casa de 30 milhões, saindo de R$ 120 milhões de receita bruta para R$ 86 milhões. Apesar da redução de custos no departamento de futebol, todo o quadro de funcionários foi mantido.

Já o Auriverde, fundado em 2001 pelo ex-jogador Luís Carlos Tóffoli, chegou pela primeira vez à Série A em 2021 e vem fazendo uma boa campanha, ocupando a 14ª colocação com 20 pontos após 18 rodadas. O time Mato Grosso apostou no modelo de clube-empresa para crescer no futebol.

Em 2009, a família Dresch, proprietária da Drebor, fabricante de materiais e tecnologias para recapagem de pneus, comprou o Cuiabá Esporte Clube e o transformou em clube-empresa. A responsabilidade das áreas administrativas e do futebol passou a ser de Cristiano Dresch e do seu irmão, Alessandro Dresch, presidente do time.

"A transformação dos clubes em empresa é um processo sem volta e no qual estamos há décadas atrasados quando olhamos para o que ocorre na Europa e Estados Unidos. O modelo atual, de associação, é comprovadamente falido e para isso basta ver a situação de vários grandes clubes do futebol brasileiro. O Cuiabá é constituído como sociedade empresária há vários anos e, por isso, pode-se dizer que é um dos precursores deste movimento que agora tende a ganhar força", opina Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo.

Na Europa, diversos times das principais ligas adotam o modelo de clube-empresa, como o Manchester City, o Paris Saint-Germain e o Chelsea, atual campeão da Champions League. No Brasil, apenas o Cuiabá e o Red Bull Bragantino possuem este sistema.

"Ambos (modelo de gestão) são fundamentais para o desenvolvimento do futebol profissional. Como em qualquer empresa, o patrimônio investido pelos sócios responde pelas falhas da gestão. Esse é o maior incentivo para eficiência. O clube pode pensar em abrir capital e atrair investimentos com segurança jurídica, enquanto clubes associativos têm muita dificuldade para planejamento de médio e longo prazo pela instabilidade de eleições periódicas em que compromissos da gestão anterior muitas vezes são descumpridos sem nenhuma grande consequência, além do aumento da fila de credores", explica Pedro Trengrouse, advogado e especialista em gestão esportiva.

Apesar de elogiar o modelo de clube-empresa, Marcelo Paz entende que, pelo menos no momento atual, este formato de gestão está descartado no Fortaleza. "Acredito que todos os modelos são sempre bem vindos, desde que tenham boa gestão. Hoje, o Fortaleza não tem a intenção de virar S/A. Temos uma gestão com dirigentes remunerados, planejamento estratégico periódico e profissionais contratados para todos os departamentos. É um clube associativo com modelo empresarial", afirma.