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Toinha: funcionária-símbolo do Fortaleza tem quase 50 anos de clube

06:00 | Out. 18, 2018
Autor Lucas Mota
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Lucas Mota Repórter na editoria de Esportes
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Tipo Notícia
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São quase 50 anos vividos no clube. Da portaria ao setor de nutrição, Antônia Porfírio Lima, mais conhecida como Toinha, é uma funcionária-símbolo com uma trajetória marcada por dedicação e amor à instituição. Ela é considerada a "mãezona tricolor". Trata os jogadores como filhos. Quando se refere a eles, os chama de "meninos". Respeitada por todos dentro do Leão, inclusive pelos presidentes da agremiação, Toinha não tem papas na língua, fala o que pensa e dá bronca até nos jogadores. No Leão, está desde de 1971 e viu os grandes momentos do escrete do Pici. E seguiu firme e forte também nas fases ruins.
 
Aos 75 anos, Toinha ainda quer muito mais. "Se eu saísse agora, eu adoeceria. Quero viver mais tempo no clube", afirma. Em entrevista ao O POVO para o caderno especial sobre o centenário, a funcionária-símbolo conta sobre os bastidores de sua contribuição há 47 anos no Tricolor, os momentos marcantes e da relação com Rogério Ceni, que já rendeu até um "puxão de orelha" no treinador.
 
O POVO – Como chegou aqui no clube?
 
Toinha - Cheguei em 18 de fevereiro de 1971. Morava no Montese, trabalhava na Fábrica Fortaleza. Conseguia ver as bandeiras do Fortaleza no trajeto para o trabalho. Comecei a vir para as tertúlias do (Luiz) Rolim. Me identifiquei com o clube. Comecei a assistir os jogos. Fui convidada pelo Sílvio Carlos (presidente na época) para trabalhar numas urnas para arrecadar dinheiro para comprar chuteiras para os amadores. E até hoje fiquei. Sou hoje auxiliar de nutrição.
 
O POVO – Mas você já passou por todos os setores deste clube...
 
Toinha – Já fui de tudo um pouco. Cobradora, telefonista, lavadeira, cozinheira. Cozinhei para o Bosco, para o quadrado de ouro do Moésio Gomes. Foi tudo eu. Na maior dificuldade, eu ia atrás de fazer o lanche. O time ia concentrar às 17 horas e eu estava no meio do mundo ainda para comprar a janta. Era sufoco. Mas hoje está muito bem. Confio muito na subida da gente para dar uma grande vitória para esse torcedor sofrido.
 
O POVO – Você se considera uma das maiores torcedoras do Fortaleza?
 
Toinha – Não me considero, mas acho um exemplo para cada mulher cearense que hoje quer torcer e que possa ter algum medo da violência. Nunca tive problema. Sou amiga de todos. Não posso mais sair do Fortaleza.
 
O POVO – São quase 50 anos vividos no Fortaleza. Quais foram os momentos mais marcantes?
 
Toinha – Tive muitos momentos bons e outros ruins. Os anos de 1982 e 1983 foram marcantes. O presidente era o doutor Ney (Rebouças). Ele montou um grande time, que tinha o Luisinho das Arábias. Os meus ídolos também foram marcantes pra mim, como o Geraldino Saravá, Clodoaldo, o Rinaldo, o magrão de Juazeiro (Ronaldo Angelim). Estou falando de jogadores que vestiam a camisa de verdade. Hoje tem muitos que vestem, mas trabalham menos do que antes.
 
O POVO – Mas qual foi o episódio mais marcante em termos de conquistas?
 
Toinha – Foi a subida. O Fortaleza só ganha no sacrifício. Hoje já não preciso testar meu coração, ele já é testado. Fazia oito anos que a gente estava sofrendo. O time sempre chegava e eu dizia: ‘vai ser hoje, a equipe tem confiança’. Mas acontecia que quando chegava no fim, nas últimas partidas, os caras amarelavam. Não sei o que era.  A nossa subida foi marcante. Passaram muitos presidentes, mas o (Luiz Eduardo) Girão me deixou muito tranquila. Ele me chamou para ajudar, disse que tinha um propósito, com a ajuda da gente, de levantar o time. Ele é uma pessoa de espírito muito forte, pregou muito a palavra de Deus. Foi a melhor coisa.
 
O POVO – Após o jogo do acesso contra o Tupi, em Juiz de Fora, você cruzou o campo de joelhos. Como foi esse momento?
 
Toinha - Foi tranquilo. Vou botar meu joelho no chão e agradecer a Deus. Quero agradecer em especial ao técnico Antônio Carlos Zago, que veio até mim (os dois se abraçaram em um dos momentos mais emocionantes da comemoração do acesso). Ele me agradeceu. Ele tinha muita proposta pra fora da Terceira. Como diz no futebol, aqui era uma ‘barca furada’. Eu agradeci: ‘Olha, professor, obrigado por ter acreditado na gente e hoje ter subido. Agradeço do fundo do meu coração. Ele me beijou, me agarrou e disse que eu emocionei muita gente. Ninguém acreditava mais, estávamos todos desiludidos.
 
O POVO – Você é respeitada por todos no clube e não tem papas na língua para falar com ninguém, nem mesmo com o presidente. Como você conquistou esse respeito num ambiente considerado machista?
 
Toinha - Tem pessoas que Deus dá um dom. O meu é o de trabalhar com esses homens. Todos me respeitam. O que eu quiser falar, quando quiser, eu digo. Às vezes, eles pedem calma. Eu sou desse jeito, nasci para isso, ser líder. Pode ser torcedor, técnico, jogador ou dirigente.
 
O POVO – E como é sua relação com o Rogério Ceni?
 
Toinha - É um filho que tenho. Brinco muito com ele, tiro o estresse dele. Ele gosta é daqui do CT de Maracanaú, gosta de ficar isolado. E eu pergunto pra ele: ‘você tem medo de público?’. Ele diz que não. Eu digo pra ele: ‘você tem muitas pessoas, inclusive o meu neto, que desde pequeno são seus fãs. Quando um fã lhe procurar, você dê atenção’. Eu, às vezes, na arquibancada sou chamada por um torcedor que quer tirar uma foto. Eu não sou mais do que você, nem você é mais do que eu, mas temos que respeitar as pessoas que gostam da gente.
 
O POVO - O que significa esses quase 50 anos no Fortaleza?
 
Toinha – É uma vida. Se saísse agora, eu adoeceria. Quero viver mais tempo no clube. Não sei se vão me aguentar por mais tempo, porque sou uma pessoa chata (risos).

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