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"Representou muito na minha carreira", diz Mirandinha, ídolo como jogador e treinador

Com passagens por Palmeiras, seleção e futebol inglês, Mirandinha ganhou status de ídolo no Leão ao conquistar o estadual de 1991 como jogador e o tri em 2009, este como treinador
06:00 | Out. 18, 2018
Autor O POVO
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Primeiro brasileiro a atuar na Premier League, Francisco Ernandi Lima da Silva, mais conhecido como Mirandinha no mundo da bola, marcou seu nome como um dos grandes atacantes do futebol brasileiro. Natural de Chaval, o cearense surgiu nas categorias de base do Ferroviário e brilhou com a camisa do Palmeiras, chegando a vestir a camisa da seleção brasileira. No Fortaleza, ele ganhou status de ídolo ao conquistar o estadual de 1991 como jogador e o tri em 2009, este como treinador.

Apesar de uma rápida passagem, Mirandinha movimentou o futebol cearense ao desembarcar em Fortaleza, vindo do Corinthians, para atuar pelo Tricolor. Na ocasião, protagonizou o duelo de craques contra Cláudio Adão, a grande contratação do Ceará. Fez partidas memoráveis que lhe alçaram a condição de ídolo, como a semifinal contra o Alvinegro, que terminou com vitória de virada do Leão por 4 a 2. 

Além de corresponder em campo como jogador e treinador, Mirandinha é torcedor do Fortaleza. Em entrevista ao O POVO, ele relembra histórias de bastidores de suas passagens pelo Tricolor como jogador e treinador, o duelo contra Cláudio Adão e fala sobre a importância do clube do Pici em sua carreira.

O POVO – Como foi para você atuar pelo Fortaleza e virar ídolo no clube?

Mirandinha – Naquele momento representou muito na minha carreira porque tinha saído muito jovem do futebol cearense para a Ponte Preta, com 18 anos. Já tinha passado pelos três principais clubes da Capital. Somente no Ferroviário tive sucesso. Primeiro, no Ceará fui mandado embora, meio que chutado. No Fortaleza, aconteceu a mesma coisa. No Ferroviário, era a terceira tentativa e deu certo. Tenho o Ferroviário com muito carinho, mas de fato sempre fui Fortaleza, nunca neguei. Foi muito legal a experiência no Fortaleza. Tive a oportunidade de jogar para o meu povo, vindo do Corinthians. Ganhei o título estadual, nunca havia conquistado. Foi uma passagem vitoriosa, em um dos grandes momentos do Fortaleza. Fomos campeões e chegamos em novembro com todos os salários e a premiação em dia. Sobrou até dinheiro no caixa. Foi uma situação que marcou, uma passagem muito bacana. Representou muito pra mim.

O POVO – Você ainda guarda recordações daquele jogão contra o Ceará, na semifinal do Cearense, que terminou por 4 a 2 para o Fortaleza?

Mirandinha – Esse jogo teve algumas situações que marcaram. Lembro bem. Estava 2 a 0 para o Ceará, quando, de repente, fizemos 2 a 1 e depois empatamos. Quando fizemos o segundo gol do empate, o José Roberto Wright, o árbitro da partida, passou pelo Sílvio no meio-de-campo e falou para o Cláudio Adão cair na área, que ele daria pênalti. Corri na mesa do 4º árbitro e falei para ele que era uma vergonha. Um repórter do Ceará falou para o Wright no vestiário, que falou que me expulsaria caso eu confirmasse. Só que tinha um repórter do Fortaleza que ouviu e me disse. Quando voltamos para o 2º tempo, eu disse que era mentira, que ele (Wright) não tinha falado. O Wright voltou para o 2º muito bem, fez uma bela arbitragem. Nós fizemos mais dois gols e ganhamos a partida.

O POVO – A sua vinda para o Fortaleza marcou época no futebol cearense como uma grande contratação que movimentou o torcedor e o campeonato local. E o Ceará contratou o Cláudio Adão. Foi um momento importante para o futebol local?

Mirandinha - Foi super importante para o momento do futebol cearense. Quando cheguei, havia muitas reclamações que no Clássico só iam 500 pessoas. Na minha apresentação, no clássico entre Fortaleza e Ferroviário, já tinham 12 mil pessoas. Depois, todos os jogos no Castelão foram lotados. Representou muito pra mim, foi uma alavancada aquela oportunidade.

O POVO - Como era a rivalidade com o Adão? Ter um nome de peso do outro lado ajudou a alavancar a sua passagem pelo Fortaleza?

Mirandinha – A gente já era amigo. Não tinha como ter rivalidade. Tinha assim como algo corriqueiro do Clássico. Foram jogos memoráveis. Ceará tinha um grande time, poderoso com o Lula Pereira de treinador. Foi um momento assim bem marcante pra mim no futebol.

O POVO - Como você se sente tendo entrado para a história do clube como jogador e treinador?

Mirandinha – Parece que no futebol cearense só tiveram dois: o Moésio e eu. Foi uma experiência super bacana. Lógico que quando cheguei para trabalhar nas categorias de base era visto como um estranho no ninho, como se nunca tivesse treinado no futebol. Fui campeão com o Aracati na 2ª Divisão do Campeonato Cearense. Em seguida, fui auxiliar do Casimiro para depois assumir interinamente. Demonstrei qualidade que fez com que me efetivassem. Fomos campeões contra o poderosíssimo Ceará, que foi o time que subiu para a Série A.  Trabalhei com grandes jogadores, como o Marcelo Nicácio e o Edson Silva. Muita gente desconhece, mas fui campeão com sete cearenses entre os titulares. Isso também me marcou porque virou algo corriqueiro no Estado, você ver um time de importados.

O POVO – Tem alguma situação de bastidores que lhe marcou como técnico?

Mirandinha – Tivemos uma situação bem atípica entre os clubes locais que foi a chegada do Luiz Carlos Imperador, que chegou como se viesse para ser titular de imediato. Acabei que tendo contornar a situação. Ele chegou com problema de sobrepeso e no joelho, que a priori o DM havia o vetado porque era caso cirúrgico. Mas infelizmente o Fortaleza tinha assumido o compromisso com o atleta. Ele não era culpado, nem eu como treinador pela situação. Ele estava em recuperação e tinha dois jogos contra o Guarany de Sobral. Tínhamos vencido a primeira em Sobral. Ficou decidido que o Luiz Carlos só teria condições de jogar por 15 minutos porque estava uma pressão com todo mundo querendo que ele jogasse. Eu assumi com a comissão técnica e o DM que ele iria participar se fosse o caso de 15 minutos. No jogo contra o Guarany, estava 0 a 0, se perdêssemos por 1 a 0 a partida iria para a prorrogação e, possivelmente, os pênaltis. Utilizei a terceira troca, e não foi ele. Ele, de onde estava, veio, passou em frente ao banco reservas e foi embora para o vestiário em um ato de indisciplina. Tentei conversar, mas ele quis crescer, não aceitou. A torcida passou a me chamar de burro porque queria o Luiz. Mas eu tinha um propósito que era ser campeão e, por isso, não o coloquei. Fiz a última substituição a 30 minutos para o fim do jogo. Ele só teria 15 minutos e, caso tomássemos o gol, iríamos ter mais 30 minutos pela frente. Eu não poderia correr o risco de ter um jogador a menos na partida. Foi uma passagem que marcou, me chamou a atenção. Ali tive a certeza que tinha o grupo na mão e estava bem conduzido.

O POVO – Você já passou por grandes clubes do Brasil e jogou no Newcastle, da Inglaterra. A torcida do Fortaleza fica devendo para alguma dessas mundo afora?

Mirandinha – Para te falar, a torcida do Fortaleza e as torcidas cearenses não devem nada para nenhuma torcida no mundo inteiro.  São torcidas fanáticas. A Arena Castelão tem capacidade para 65 mil pessoas. Em jogo bom, o estádio lota. Não para qualquer clube. O futebol cearense merece seus clubes na primeira divisão. É um público apaixonado que vibra por suas equipes.

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