Novo embaixador coral, Jardel se declara e sonha com o Ferroviário na Série A

Em entrevista exclusiva ao O POVO, o "Super Mário", ídolo e torcedor do Tubarão, abriu as portas de casa para uma conversa sobre a nova fase da vida como embaixador, o sucesso no futebol e os bastidores da carreira

Símbolo da democratização do futebol nacional, o Ferroviário, fundado por humildes operários no dia 9 de maio de 1933, completa 90 anos nesta terça-feira, 9. Em sua rica história, o Tubarão da Barra carrega momentos gloriosos, sobretudo pelos nove títulos conquistados no Campeonato Cearense e a taça nacional da Série D de 2018. Da “fábrica coral” surgiram nomes como Mirandinha e Jardel, que defenderam a seleção brasileira, e Iarley, bicampeão mundial de clubes.

Jardel, inclusive, nunca se distanciou do Ferroviário. Torcedor de arquibancada e um dos maiores futebolistas cearenses da história, o centroavante goleador, campeão da Libertadores pelo Grêmio em 1995 e também vitorioso na Europa pelo Porto, Sporting e Galatasaray, sempre manteve o coração na Barra do Ceará. Foi no Coral que iniciou e encerrou a carreira, marcando seu último gol — uma cavadinha antológica contra o Quixadá.

Utilizando a sua imagem para fortalecer a marca do Tubarão, Jardel foi empossado como novo embaixador do Ferroviário, função a qual tem encarado com entusiasmo. Em entrevista exclusiva ao O POVO, o ex-atacante abriu as portas da sua casa, nas Dunas, e revelou um sonho que quer realizar ainda em vida: levar o Coral à elite nacional do futebol.

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Confira trechos da entrevista:

O POVO - 90 anos do Ferroviário, e você é uma peça que marcou história nesse longo processo do clube. O que o Ferroviário representa para você?

Jardel - Representa tudo. Foi do Ferroviário que eu saí para o mundo. Então sou muito grato, terminei minha carreira no Ferroviário. Minha família toda torce Ferroviário, levava os ônibus para Quixadá, Juazeiro, o interior todo. E nesse novo ciclo eu quero plantar uma semente e levar o Ferroviário para a Primeira Divisão. Quero plantar coisas boas para colher coisas boas. Entrar de cabeça, como eu era conhecido por fazer gol de cabeça, e espero levar o Ferroviário à Primeira Divisão. Muita gratidão.

OP - Você foi formado pelo Ferroviário e ganhou o mundo. Naquela época, quando fez as categorias de base e ascendeu ao profissional, você já era um torcedor do clube?

Jardel - Na verdade, a minha base toda foi no Ceará. Não fiquei, não me quiseram. Fui para o Fortaleza e não gostei. Não é que não gostei, não aprovei. Calhou mesmo do que tinha que ser, estava escrito eu ir para o Ferroviário. Fiz um teste no final de 1989 e fui aprovado. Fiz quatro gols no coletivo, nunca me esqueço. No dia seguinte, o cara me mandou a ficha para assinar.

Sou muito grato ao Ferroviário por tudo que me proporcionou. Foi naquele torneio da Taça Rio em 91 que eu me destaquei e fui chamado pelo Eurico Miranda para fazer um teste no Vasco. Então ali foi meu pontapé. Ter o apoio do meu pai e da minha mãe quando eram vivos, e ter conquistado essa história foi uma vitória muito grande. Acredito que eles estão lá do céu felizes da vida por tudo que conquistei. Lógico, todo mundo tem suas dificuldades e problemas a serem resolvidos, mas estou muito feliz com meu momento. Surge um novo sonho para se alcançar com o Ferroviário abrindo essa porta, para que eu possa fazer um trabalho diferente, muito positivo, que vai agregar muito e trazer apoiadores para que o Ferroviário suba à Primeira Divisão.

OP - O que você sonha em ver, em vida, o Ferroviário conquistar? O que te faria ficar realizado?

Jardel - É levar o Ferroviário para a Primeira Divisão. Trazer bons investidores, trazer empresários, parceria com clubes, peneiras no Interior, palestras. Fazer com que o Ferroviário ganhe dinheiro com a imagem do Jardel e abra as portas para fazer um trabalho digno. Estou muito feliz de participar desse novo desafio, que é poder contribuir fora de campo. É um projeto a longo prazo, o primeiro objetivo é subir para a Série C.

OP - Você saiu muito cedo e muito jovem do Ferroviário e um dos caras que te descobriu foi o Edmundo Silveira. O que esse nome te traz de recordação?

Jardel - Ele viu algo diferente em mim. O Edmundo Silveira, quando acabava o treino, ficava cruzando bola para mim. Faz parte da minha história, sou muito grato a ele. Fico muito feliz de poder falar das pessoas que fazem parte da raíz do Jardel, da base. Isso é uma coisa que não podemos esquecer, pois ninguém faz nada sozinho.

OP - O Edmundo Silveira, em entrevistas antigas, disse que a sua capacidade na bola área foi o que chamou a atenção dele. É um dom ou fruto de muito treino?

Jardel - Veio de Deus mesmo. Quando eu entendi que tinha esse dom, acreditei mais ainda. Quanto mais eu treinava, melhor ficava. Eu treinava muito mais que os outros. Isso foi um dom e eu fui aperfeiçoando. Depois que fui para Europa, comecei a fazer gols que nunca imaginei fazer, de bicicleta, de primeira, de letra, pé direito e esquerdo. Eu nunca fui um jogador completo, fui um jogador eficaz. Não era craque. "Ah, o Jardel jogava muito, era um craque", eu não era craque, craque era o Ronaldinho Gaúcho. Eu era eficaz, e isso é tudo que um treinador quer. Eu segurava o treinador.

OP - Em 2009, você retornou ao Ferroviário e foi um momento triunfal, com direito a helicóptero e golaço de cobertura na estreia. Como foram os bastidores daquele retorno?

Jardel - Eu queria muito encerrar a carreira realizando esse sonho. Pena que eu não jogava, né? Ficava no banco. O professor Lira me deixou no banco. Mas na hora que eu entrei, sabia que faria o gol. Foi muito emocionante aquela atmosfera, relembrar o meu começo e o final da minha carreira. Não teria presente maior que Deus poderia me dar.

Nos bastidores, todo mundo com a expectativa de que fosse o mesmo Jardel com 20 anos, mas não era. Eu tinha 38 ou 39 acho. Então quando você não está jogando, fica sem confiança, e eu não estava jogando. Eu estava treinando, mas não jogando. Pela minha experiência e maturidade, eu vi a responsabilidade. Se eu errasse, a torcida quer resultado, não tem essa. Poderia ser o Jardel ou o Pelé, iriam me xingar. Mas para a minha felicidade, eu entrei e fui feliz naquele único lance contra o Quixadá. Pelo gol, valeu a pena.

OP - Esse gol contra o Quixadá foi o mais especial da sua carreira?

Jardel - Foi, sim. Foi o gol do final da minha carreira que coroou toda a minha história. O começo e o fim no clube.

OP - Na festa dos 90 anos, você foi nomeado embaixador oficial do clube. O quão importante é isso para você?

Jardel - Eu espero, como disse, passo a passo, levar o Ferroviário para a Série A. O primeiro passo, claro, é a Série C, e isso facilita que eu traga capacitação com investidores, parcerias e patrocínios. Então vou fazer um pouco de tudo. Vou plantar a sementinha e espero que a árvore cresça e, assim, eu e o Ferroviário cresçamos juntos. É um trabalho em conjunto, pelo Ferroviário ter aberto as portas pra mim, isso gera confiança. O Ferroviário não me colocaria como embaixador se eu estivesse mal. O primeiro passo é estar bem de cabeça e o resto eu consigo.

OP - O Ferroviário fez um bom início de temporada e conseguiu manter boa base do elenco para a Série D. O Tubarão é favorito ao título?

Jardel - Sempre o Ferroviário, para mim, será o favorito. Mas para que seja o favorito, tem que se manter regular durante o campeonato, o que é difícil. Acredito que pelo plantel e pelo grande treinador no banco, eu poderei até contribuir trazendo jogadores do Vasco, Grêmio, Flamengo e Palmeiras emprestados para agregar. Assim eu poderia contribuir também dentro de campo.

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